28.10.14

Falta de literacia financeira dificulta escolhas acertadas

Por Margarida Vaqueiro Lopes, in iOnline




O Plano Nacional de Formação Financeira nasceu em 2011. Reguladores querem mais e melhor literacia financeira em Portugal




A falta de literacia financeira é um problema que se tem arrastado em Portugal durante as últimas décadas. Muitas são as pessoas que ainda têm dificuldade em entender alguns conceitos aplicados pelos bancos, por exemplo, condição indispensável para fazer escolhas acertadas e responsáveis.

Foi neste contexto que em 2011 o Conselho Nacional de Supervisores Financeiros decidiu lançar o Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), um instrumento que, nas palavras dos seus responsáveis, quer "contribuir para elevar o nível de conhecimentos financeiros da população e promover a adopção de comportamentos financeiros adequados". Desta forma, espera-se, população e sistema financeiro ganham com atitudes mais conscientes e responsáveis.

O PNFF tem como plataforma base o site www.todoscontam.pt. Neste portal é possível encontrar ajuda para alguns gestos essenciais, como planear o orçamento familiar, fazer pagamentos, poupar e investir, fazer um seguro e mesmo para criar uma empresa.

Vários simuladores podem ajudá-lo se quiser calcular a sua taxa de esforço, os seus rendimentos e despesas, ou mesmo se quiser saber quanto deve poupar por mês para chegar a um determinado objectivo.

Mas o PNFF também o pode ajudar a prevenir a fraude e a esclarecer dúvidas sobre produtos de investimento, além de apoiar entidades quer do sector público quer do sector privado que promovam iniciativas de formação financeira. E não são poucas as entidades que têm criado programas nesta áreas. Todos os bancos têm já programas - por norma apoiados em portais na internet - que ajudam a esclarecer dúvidas e a aprender conceitos relacionados com literacia financeira. Muitas das acções são também desenvolvidas junto dos mais novos, uma vez que se acredita que na infância é mais fácil criar hábitos e rotinas de poupança ou responsabilidade financeira.

Nota para as várias iniciativas desenvolvidas pelos bancos, como os sites Saldo positivo, da Caixa Geral de Depósitos, o Ei-Montepio, do Montepio Geral, os programas Fazer contas à vida, do Barclays, ou a Fundação Millennium BCP, do banco com o mesmo nome. E estes são apenas os projectos listados pela Associação Portuguesa de Bancos (APB). No entanto, o BBVA, por exemplo, tem também um programa educativo orientado para os três ciclos do ensino básico. O Valores de Futuro, que está implementado nos Estados Unidos, na América Latina e em Espanha, tem chegado a mais de 100 mil alunos por ano.

Mas também a Associação Portuguesa de Bancos (APB) tem o seu próprio portal ( www.boaspraticasboascontas.pt), onde pode encontrar uma espécie de manual de boas práticas financeiras, que não só esclarece muitas dúvidas como também disponibiliza um glossário dos termos financeiros mais úteis. Ou seja: não há desculpas do cidadão para não haver melhores práticas financeiras no país.


“Os portugueses são bons a gerir o seu dinheiro”

Susana Albuquerque, secretária-geral da ASFAC

Diz-se popularmente que “é de pequenino que se torce o pepino”. No que diz respeito à educação financeira, Susana Albuquerque não podia estar mais de acordo. A secretária-geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) é especialista em educação financeira e frisou, em entrevista ao i, que, “com as crianças, se trabalharmos a base estamos a formar comportamentos”, e isso é mais fácil “que alterá-los, como acontece com os adultos”. Basicamente, “cada criança tem direito a ser bem alimentada e protegida. Mas isso torna as crianças activamente responsáveis por respeitarem os seus recursos, por pouparem água, e por aí em diante”. O importante é fazê-las perceber que “o dinheiro é um recurso. Explicar qual é a sua função primeira, que é ser um meio de troca. E depois perceber como é feita a gestão deste recurso”, diz a especialista, notando que “esta é a linha que tem comprovadamente mais resultados”.

Desde 2005 que a ASFAC tem vários programas de formação e educação financeira, tendo estabelecido diversas parcerias com escolas, desenvolvido uma plataforma de e-learning para pais e formadores que querem saber como podem educar financeiramente os filhos e mantendo um programa de apoio a famílias que precisam de uma ajuda mais individualizada.

Questionada sobre se os portugueses não sabem efectivamente gerir o seu dinheiro,Susana Albuquerque é peremptória: “Os portugueses são bons a gerir o seu dinheiro. Claro que houve pessoas que tiveram dificuldades e que ainda têm, mas por dois grande motivos: a perda de emprego e a diminuição de rendimentos. Isto tem um impacto enorme no estilo de vida e na capacidade financeira das famílias.” Mas a verdade, sublinha, é que os dados do Banco de Portugal revelam que “assim que estalou a crise as pessoas passaram a consumir menos e a poupar mais”, conclui.