30.3.17

"Nada nesta marcha se compara às dificuldades que os refugiados têm"

Entrevista de Barbara Baldaia a Sebastian Olényi, da Marcha Civil por Aleppo, in TSF

A Marcha por Aleppo saiu há dias de Sarajevo, está agora na Bósnia e depois segue para a Macedónia e para a Grécia, antes de chegar ao destino, lá para o final de setembro.

Já fizeram 1200 quilómetros. Têm pela frente mais 2500. O grupo que está a fazer esta ligação a partir de Berlim desde 26 de dezembro conta com cerca de 30 pessoas, de várias nacionalidades, num cordão que vai sendo engrossado nos momentos de passagem pelas grandes cidades.

Sebastian Olényi é o responsável pelas relações com a imprensa da Marcha Civil por Aleppo. Ao telefone, ele explicou à TSF que o objetivo é trilhar o mesmo percurso que é feito pelos refugiados, mas em sentido contrário.

Como tem corrido esta Marcha que iniciaram em dezembro?

Estamos a fazer o percurso dos refugiados no sentido contrário e estamos a encontrar muitos campos de refugiados ao longo do caminho.
Temos essa semelhança com os refugiados, mas por outro lado não passamos pelo mesmo sofrimento que eles. Não queremos sequer comparar isso.

Não fomos até agora barrados por cercas, temos passaportes europeus, temos bons sapatos, sítios onde pernoitar, normalmente em gimnodesportivos ou igrejas. Muito raramente tivemos que dormir ao ar livre. Temos tido muita sorte. Já enfrentámos nevões e alguns problemas. Algumas pessoas tentaram tornar a nossa viagem desconfortável, mas não creio que nada se compare às dificuldades que os refugiados têm que ultrapassar para chegar à Europa.

Disse que há pessoas que tentaram tornar a vossa viagem desconfortável?

Sim, tivemos alguns problemas ao longo do caminho. Pessoas que não aparentemente não concordam com a ideia de haver paz na Síria, pessoas que querem forçar as suas ideias, que querem que nós fiquemos com a ideia de que alguns grupos rebeldes são melhores que outros. Outras pessoas que nos perguntam porque é que nos incomodamos por causa de outras pessoas que nem sequer são do mesmo país que nós, que dizem que isto é uma ideia louca.

Algumas pessoas tentaram assustar-nos, a dizer que iam pegar fogo ao sítio onde estávamos a dormir, ao nosso carro. Há uns dias, assaltaram-nos o carro, roubaram equipamentos.

Enfim, não houve um grande problema, mas tem havido percalços pelo caminho, com comportamentos hostis. As pessoas organizam contra-manifestações, cospem para o chão.

Mas, na verdade, a maioria das pessoas recebe-nos com grande hospitalidade, abrem os corações e as portas de casa para nós, preparam-nos chá, fazem-nos bolachas, convidam-nos para jantar.

Tem havido uma enorme hospitalidade. Por vezes, não estamos seguros se teríamos recebido a mesma hospitalidade se fossemos refugiados, se não fossemos ocidentais, por assim dizer. Mas na maior parte dos casos, fomos recebidos com grande hospitalidade.

E essas pessoas dão-vos força para continuar?

Sim, claro. Por um lado, estamos a alertar consciências para o problema dos refugiados. Já conseguimos pôr em contacto alguns refugiados com a população local. Já conseguimos juntar algum dinheiro para outras organizações que estão a atuar no terreno com refugiados. Já conseguimos doar 5 mil euros a uma organização que estava a prestar apoio no pico do inverno, na Sérvia.
No início de fevereiro, houve temperaturas negativas e estas ONG's estiveram no terreno a dar comida quente e chocolate aos refugiados que, de outra forma, teriam morrido. Nós já conseguimos ter algum impacto e estamos a lutar para continuar a fazê-lo, a alertar consciências para a situação na Síria e para os sírios que estão nestas cidades por onde temos passado.

Ainda continua a decorrer a vossa campanha de crowdfunding?

Sim. Para ser honesto, já não precisamos para a marcha. Agora estamos a juntar dinheiro para dar a organizações que têm apoiado os refugiados nos campos que temos encontrado ao longo do caminho. O nosso objetivo continua a ser alertar consciências para a situação na Síria e, se conseguirmos ajudar os refugiados ao longo do caminho, melhor ainda.

O que respondem às pessoas que vos dizem que estão a fazer algo que é muito perigoso?

Bem... pensamos que é mais estúpido não fazermos nada. Os líderes europeus não estão a fazer o suficiente pela paz na Síria, não estão a esforçar-se devidamente para negociar com as diferentes partes.

Este é um conflito internacional que já dura há muito tempo, com muitas partes no terreno, e tem que ser resolvido a um nível internacional.

A UE não está a fazer o suficiente. Nós tentamos forçar os políticos a terem uma posição mais forte nas negociações de paz para a Síria.
O que é o perigo, no fundo, comparando com o perigo que estas pessoas passam nos campos de refugiados e até mesmo na Síria? Isto que estamos a fazer é muito fácil comparado com isso.
Claro que há algumas dificuldades. E queremos que se junte cada vez mais gente à nossa marcha. Podem entrar e sair. Nas grandes cidades, temos sempre mais gente.

Queremos alertar consciências por toda a Europa e nas cidades por onde temos passado. Temos encontrado muita gente e queremos que se juntem cada vez mais pessoas a nós.