13.3.17

Centenas manifestam-se no Rossio pelos direitos das mulheres

in Jornal de Notícias
Algumas centenas de pessoas concentraram-se esta quarta-feira no Rossio para reivindicar igualdade entre homens e mulheres, entre as quais Rosa, que ali se dirigiu depois de sair do emprego, e onde recordou que a sua mãe nunca teve esse direito.

"É preciso contrariar toda uma cultura instalada. Eu trabalho fora de casa, a minha mãe nunca trabalhou, porque nunca a deixaram", contou à Lusa, ao lado de centenas de manifestantes, maioritariamente jovens e mulheres, que esta tarde se concentraram na praça do Rossio em Lisboa, num protesto inserido nas celebrações do Dia Internacional da Mulher.

Como muitas mulheres da sua geração, a mãe de Rosa passou grande parte da vida dedicada a cuidar dos filhos e do marido.

"Deu-me imenso jeito, cuidou muito bem de mim, mas não foi bom para ela", disse Rosa, quando a organização do protesto incitava aos microfones os manifestantes a repetir "Onde é que é o lugar da mulher? Onde ela quiser!".

Na frente da manifestação, que tinha como lema "Não me calo!" sucederam-se as palavras de ordem, que a dado momento foram "retiradas" dos cartazes que os participantes empunhavam para serem lidas pela organização, ao microfone, e em várias línguas.

Ana, espanhola, não levou cartaz, mas levou um amigo, aquele que a alertou para a existência da iniciativa hoje em Lisboa. Quis marcar presença "para trazer consciência à sociedade em relação aos problemas das mulheres" e para juntar a voz a uma causa que também é sua: "Também sou mulher".

Ana diz nunca ter sido diretamente vítima de machismo, mas também "pode ser que nunca tenha dado conta". Rosa diz que o machismo existe no seu dia-a-dia, até no seu núcleo familiar, em pequenos gestos e hábitos que vai tentando contrariar.

Para Rosa, o machismo não se combate com pequenas coisas, mas com mudanças efetivas, referindo que em Portugal, "aparentemente, parece tudo arrumado, mas não está", dando o exemplo da desigualdade salarial, aquilo que começaria por mudar, se pudesse.

Cláudio, um dos homens presentes na iniciativa, defende mudanças legislativas, porque alterar mentalidades é demorado e tem poucos efeitos práticos.

Quis estar presente naquela que foi a sua primeira participação numa manifestação do Dia da Mulher, porque é "contra todas as formas de discriminação" e para assinalar a luta pela liberdade da mulher, a sua definição de feminismo.

É, então, Cláudio, um feminista? "Não, nunca. Um homem nunca pode ser feminista. Pode assumir-se como libertário, nunca como feminista".

Juliana Inácio, feminista, membro da Assembleia Feminista, que integra a Rede 8 de Março -- a qual organizou a concentração de hoje -- disse à Lusa que a luta pelo feminismo "é uma luta diária" que não se faz sem os homens.

"A nossa luta não é ganha sem os homens. Instalou-se a ideia de que o feminismo odeia os homens e não é verdade. Precisamos de homens no nosso lado da barricada, até porque eles têm mães, mulheres, filhas...", disse Juliana Inácio, que acrescentou que não há mais homens a lutar pelos direitos das mulheres, porque "lhes dá jeito que continuem assim, oprimidas".

Porque "não vivemos num oásis, e a violência sobre as mulheres existe" também em Portugal, sobretudo no que diz respeito a violência doméstica, Juliana Inácio diz que faz falta ao país um movimento feminista "institucionalmente comprometido" e que junte "todas as mulheres, de todas as classes".

A concentração de hoje, organizada pela Rede 8 de Março, associa-se ao movimento internacional 'Paralisação Internacional de Mulheres', que surge depois de no ano passado na Polónia se ter proposto a criminalização do aborto, o que motivou uma greve de mulheres, e de, semanas depois, uma jovem mulher ter morrido de forma violenta.

Este movimento internacional insurge-se também contra as políticas do novo presidente norte-americano, Donald Trump, que motivou manifestações de mulheres em todo o mundo.