1.3.17

Quaresma. Refugiados e crise humanitária no Sudão do Sul preocupam bispos portugueses

Ângela Roque, in RR

As mensagens dos bispos portugueses para a Quaresma, que se inicia esta quarta-feira, não esquecem o acolhimento aos refugiados e a crise humanitária que se vive no Sudão do Sul. Parte das renúncias quaresmais deste ano serão canalizadas para esse país africano, mas há dioceses onde os donativos terão outros destinos, como o apoio às grávidas em dificuldade ou às crianças que vivem em extrema pobreza.

O bispo de Portalegre e Castelo Branco foi dos primeiros a responder ao apelo do Papa em favor do Sudão do Sul. Metade dos donativos que forem recolhidos durante a Quaresma serão para ajudar a população daquele país africano, “devastado por um conflito fratricida e uma grave crise alimentar, onde milhares de pessoas morrem de fome, mais de um milhão estão em risco e um milhão e meio são refugiados”, lembra D. Antonino Dias na sua mensagem. A outra metade das renúncias quaresmais deste ano será para a Cáritas local apoiar os refugiados acolhidos na diocese.

Também os bispos de Aveiro e de Santarém desafiam os católicos das suas dioceses a ajudarem o povo do Sudão do Sul. D. António Moiteiro recorda os apelos do Papa em favor das “crianças pobres” que ali “passam fome”, D. Manuel Pelino fala na “situação aflitiva" que se vive naquele país “onde falta tudo: tendas, comida, água, medicamentos e outras necessidades urgentes”. Nos dois casos o que for recolhido na Quaresma será entregue aos missionários combonianos que estão a ajudar a população no terreno.

A diocese de Viseu decidiu este ano ajudar os refugiados na Turquia, com os donativos recolhidos durante a Quaresma. É uma resposta ao apelo lançado pela Cáritas Portuguesa, que lançou uma campanha de recolha de fundos para apoiar a sua congénere naquele país. O bispo D. Ilídio Leandro lembra que “a situação social, económica e de segurança no mundo” continua “a pedir respostas de solidariedade, de acolhimento e de justiça social”. A diocese mantém a disponibilidade para receber quem chegue nessas condições.

Os refugiados preocupam também a diocese de Setúbal, que anunciou que vai usar os donativos recolhidos na Quaresma para criar um fundo diocesano destinado a apoiar o seu acolhimento. A chamada renúncia quaresmal vai ainda auxiliar a paróquia da Arrentela.

Já a diocese da Guarda vai ajudar as comunidades cristãs do Iraque e da Síria. D. Manuel Felício afirma que é necessário “encontrar forma de acolher os refugiados” e tentar que “voltem a ter condições de vida nas suas terras”. A recolha que for feita durante a Quaresma será entregue à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que está a apoiar as populações daqueles dois países.

Na diocese de Beja a renúncia quaresmal deste ano vai ser destinada, em partes iguais, aos cristãos perseguidos da Síria e ao Fundo de Emergência administrado pela Cáritas diocesana. “Faremos chegar a nossa ajuda aos cristãos sírios por meio de uma religiosa portuguesa do mosteiro de S. Tiago Mutilado, de Qâra”, esclarece D. João Marcos na sua mensagem.

Em Leiria-Fátima os donativos das renúncias também vão ser canalizados para a ajuda aos refugiados, na Grécia ou noutros países, “onde vivem em condições de miséria”. O montante recolhido será entregue à Cáritas Portuguesa. Mas a diocese vai também aproveitar este tempo especial de preparação para a Páscoa para promover o apoio a grávidas em dificuldade.

“Vai ser apresentado publicamente o Serviço de Apoio à Maternidade em Dificuldade, no âmbito da Cáritas diocesana. Façamos chegar essa informação às mulheres grávidas que necessitem de ajuda para acolherem e educarem o seu filho”, escreve D. António Marto na sua mensagem.

Aborto, pobreza, meditação

O arcebispo de Braga alerta na sua mensagem de Quaresma para a necessidade de respeitar o direito “fundamental e inviolável” à vida, insurgindo-se contra as práticas do aborto e da eutanásia. D. Jorge Ortiga convida a fazer do tempo de preparação para a Páscoa uma momento para “educar para a vida”.

Fazer desta Quaresma um “tempo de diferença” é o desafio lançado pelo bispo de Lamego. O que for recolhido na diocese até à Páscoa será dividido entre o Fundo Solidário Diocesano, que apoia quem mais precisa na região, e a ajuda que é prestada em Moçambique e na Bolívia pelos missionários do Espírito Santo, que estão a celebrar 150 anos de presença em Portugal.

Nos Açores, o bispo de Angra destinou a renúncia quaresmal deste ano ao Fundo Diocesano para as crianças em extrema pobreza. D. João Lavrador escreve que nesta Quaresma toda a caminhada em direcção a Deus “obriga necessariamente” a ser solidário, e pede aos sacerdotes que dediquem “o tempo necessário” para atender quem precisa.

O bispo do Porto desafia as comunidades diocesanas a aproveitarem o tempo da Quaresma e da Páscoa para prepararem a vinda do Papa Francisco a Portugal e ao Santuário de Fátima, por ocasião do centenário das aparições. No “site” da diocese é possível descarregar os materiais para a caminhada proposta, e que inclui a oração do terço. D. António Francisco dos Santos pede a “meditação de, pelo menos, um mistério do Rosário por semana, de modo a revitalizar a família como Igreja orante”.

O bispo de Bragança-Miranda convida os católicos a fazerem desta Quaresma um “tempo aberto à misericórdia” e atento aos que mais precisam. D. José Cordeiro propôs que a renúncia quaresmal seja este ano destinada à Cáritas Diocesana, que, segundo os dados relativos a 2016, apoia mais de 17 mil pessoas.

O arcebispo de Évora pede aos católicos que tomem os “três remédios” que permitem olhar com mais atenção para quem está à volta – a oração, o jejum e a esmola. Na arquidiocese a renúncia quaresmal destina-se à manutenção do seminário “Redemptoris Mater”, que “não tem receitas próprias” e onde se encontram a estudar “11 jovens que sentiram o chamamento de Deus”.

Já o bispo das Forças Armadas e de Segurança recorda, na sua mensagem para a Quaresma e Páscoa, os militares e polícias que vivem situações “particularmente graves”. D. Manuel Linda determinou, por isso, que no Ordinariato Castrense metade dos donativos recolhidos irá para ajudar estes casos. Os outros 50% vão seguir para Timor-Leste, sendo a sua utilização determinada pelos bispos católicos do país.