5.2.18

O hotel que aquece as águas com o sol e oferece dormida aos carenciados

Conceição Antunes (textos), José Caria (fotos), in Expresso

O hotel Neya, em Lisboa, separa 70% dos seus lixos para reciclagem, incentiva os hóspedes a usar bicicleta e tem 'quartos solidários' para famílias de baixos recursos com crianças hospitalizadas. Foi o vencedor do Green

Project Award 2017 e vai este ano compensar todas as suas emissões de CO2 com a plantação de árvores no interior do país

É um hotel de quatro estrelas em Lisboa que disponibiliza bicicletas aos hóspedes para conhecerem a cidade sem gerarem 'pegada' em termos de transporte. Mas isto está longe de resumir as metas ambientais do Hotel Neya, onde as águas são na maioria aquecidas com recurso a energia solar, 70% dos lixos são separados para reciclagem e o consumo de água é controlado por redutores de caudal - a par de uma série de iniciativas de caráter social, como dar dormida a famílias carenciadas com crianças hospitalizadas e que vivem fora de Lisboa.

O Hotel Neya foi vencedor do prémio Green Project Award 2017, promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente, a Quercus e uma série de entidades, e com o apoio do Governo português e da Comissão Europeia. É o último prémio a somar-se a uma série de distinções de sustentabilidade já arrecadadas pelo hotel de Lisboa de propriedade 100% portuguesa e que tem este conceito pensado de raíz desde que abriu em 2011.

Com o projeto 'quarto solidário', o Hotel Neya já deu dormida a mais de 30 famílias com crianças internadas em hospitais

Neste hotel no centro de Lisboa, as arrumadoras de quartos têm de dar atenção especial aos lixos, e neste momento 70% de todos os resíduos produzidos são separados para posterior reciclagem. Na 'casa dos lixos' num dos pisos inferiores são depositados todos os desperdícios, desde papel, plástico ou vidro (estando todos os quartos munidos de separadores) até óleos alimentares, rolhas, tampas, pilhas, tonners ou medicamentos fora do prazo, entre muitos outros.

“Apresentamos a mais elevada taxa de separação de resíduos destinados a reciclagem, e que temos vindo sempre a melhorar”, faz notar Pedro Teixeira, responsável pelo departamento de Qualidade, Ambiente e Segurança do Hotel Neya.
Cerca de um terço do volume total de lixo são resíduos orgânicos, que são encaminhados para a Valorsul para a produção de adubos. Uma parte inclui desperdícios alimentares, mas a comida em bom estado de consumo é cuidadosamente separada para ser doada a instituições sociais, com destaque para a Fundação Ronald McDonald.

No cimo do hotel estão instalados os painéis solares que garantem 60% do aquecimento de águas
josé caria
Uma das coroas de glória do hotel é a eficiência energética, visível nos 20 painéis solares e geradores instalados na cúpula do edifício, e que fazem com que “60% da água quente do hotel venha de uma fonte de energia renovável e limpa, que é o sol”, salienta Pedro Teixeira.
Segundo o responsável, apesar de “partir de uma base muito reduzida”, as metas de sustentabilidade no Hotel Neya têm tido sucessivas melhorias: entre 2012 e 2017 os consumos de eletricidade por quarto ocupado diminuíram 35%, os consumos de gás 20% e os consumos de água 7%. Cerca de 90% da iluminação do hotel já é de LED, para garantir consumos mais baixos.


Localizado em frente ao Hospital da Estefânia, o Hotel Neya também se destaca pelas iniciativas de responsabilidade social em particular com o 'quarto solidário', tendo já oferecido 69 dormidas a 30 famílias de baixos recursos com crianças hospitalizadas e que vivem fora de Lisboa.

O Hotel Neya foi escolhido como um exemplo pela câmara de Lisboa no âmbito do projeto Urban Waste que se propõe reduzir os resíduos associados ao turismo em 11 cidades europeias.

E este ano propõe-se dar um salto quântico: todas as emissões de CO2 associadas ao hotel relativas a 2017 (incluindo o transporte de turistas, trabalhadores, etc) vão ser quantificadas e compensadas com o equivalente em plantação de árvores no interior do país.

“Vamos tornar o hotel carbono zero. É como se o hotel não existisse e não fizesse emissões nenhumas”, frisa Pedro Teixeira.