O documentário da BBC, com o título Racism for Sale ("Racismo à venda", em português), mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Malawi a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês.
Um documentário produzido pela cadeia televisiva BBC expôs um esquema de exploração de crianças vulneráveis em África para produzir vídeos racistas que são depois difundidos nas redes sociais chinesas, suscitando críticas do governo do Malawi.
O documentário de 49 minutos, publicado na segunda-feira, com o título Racism for Sale ("Racismo à venda", em português) mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Maláui a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês.
Num desses vídeos, que remonta a fevereiro de 2020, um grupo de crianças africanas foi instruído a repetir a frase, sem entenderem o que estão a dizer, "sou um monstro negro e o meu QI [Quociente de Inteligência] é baixo".
Como cliente, basta enviar o pedido, com a frase e requisitos, para o criador de conteúdo. Os vídeos não são apenas de conteúdo racista, incluindo muitas vezes desejos de feliz aniversário, bom ano novo, ou anúncios para empresas chinesas.
Depois de analisarem e cruzarem centenas de vídeos semelhantes, com recurso a imagens de satélite do Google Earth, a equipa da BBC encontrou o local onde o vídeo foi filmado: uma vila nos arredores de Lilongué, a capital do país africano.
Alguns dos vídeos identificados na investigação foram vendidos nas redes sociais chinesas Weibo e Huoshan, entre outras aplicações chinesas de partilha de vídeos.
O preço destes vídeos varia entre o equivalente a 10 e 70 euros.
A ministra dos Negócios Estrangeiros, Nancy Tembo, expressou "consternação" com o caso.
"Estão a usar os nossos filhos para enriquecer, o que é mau. Isto é algo que um malauiano não pode aceitar. Estão a desonrar-nos como malauianos", afirmou.
"A polícia e os assuntos internos estão a investigar e vamos envolver os nossos colegas chineses para ajudar a identificar este homem. Apelo às autoridades locais para estarem sempre alertas nas suas comunidades e também aos pais para protegerem sempre os seus filhos", disse, referindo-se ao autor dos vídeos.