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21.9.23

Estudo indica que classe média chinesa está a reduzir gastos com luxo

Por Lusa, in Expresso

Um estudo realizado na China mostra que apenas 28,5% dos mais de 4500 inquiridos estão a realizar despesas com bens de luxo, menos do que os 50% de um inquérito similar feito há cinco anos

A classe média chinesa está a reduzir gastos com luxos, face à incerteza que afeta a economia do país asiático, em particular o setor imobiliário, segundo um inquérito divulgado esta quinta-feira por um jornal de Hong Kong.

O inquérito, elaborado pela Universidade Jiaotong de Xangai e pelo grupo financeiro norte-americano Charles Schwab, revelou que apenas 28,5% dos mais de 4500 inquiridos estão a realizar despesas com bens de luxo, enquanto este valor ultrapassava os 50% há cinco anos.

A vontade de acumular capital com vista a abrir um negócio também é menor, fixando-se agora em 27,8%, quando era quase um terço, no ano passado.

O número de pessoas que dão prioridade a apoiar os pais ou a estarem preparadas para possíveis problemas de saúde, aumentou também, o que, segundo o relatório, parece indicar que a classe média chinesa está a "concentrar-se na segurança e na sustentabilidade a curto prazo, em vez de investir no futuro ou realizar gastos com bens de luxo".

O estudo abrange pessoas com rendimentos entre 125 mil yuan e um milhão de yuan (entre 16.350 e 131 mil euros) anualmente, em cidades de diferentes dimensões - mesmo aquelas consideradas de "terceiro nível" -- na China.

Este grupo é "muito importante" para o crescimento económico da China, disse Tu Guangshao, antigo vice-presidente da Câmara de Xangai e atual diretor executivo do órgão da Universidade Jiaotong responsável pelo estudo.

"Não importa em que setor estão, geralmente constituem a sua espinha dorsal. Além disso, são uma grande força de consumo, especialmente numa altura em que o Governo está a trabalhar para estimular os gastos", afirmou o especialista.

Após um início de ano promissor, a recuperação pós-pandemia da economia chinesa tem dado sinais de abrandamento nos últimos meses, crescendo menos do que o esperado no segundo trimestre (+6,3% homólogo).

A baixa procura doméstica e internacional, riscos de deflação, estímulos insuficientes, crise imobiliária e falta de confiança no setor privado são algumas das principais causas apontadas pelos analistas para explicar o abrandamento da segunda maior economia mundial.

A China representa cerca de um terço do consumo de gama alta do mundo, segundo diferentes análises.

20.9.23

"É mais importante saber se estão a ser tomadas medidas para evitar situações idênticas"

Ana Mafalda Inácio, in DN


O diretor-geral da OMS lançou outro apelo à China para que permita a entrada no país de nova equipa de cientistas para investigarem a origem do vírus. O que poderá significar esta atitude? O infecciologista António Silva Graça assume ao DN não perceber o interesse deste apelo tanto tempo depois. E defende: "É mais importante a vigilância do trabalho em laboratório com alguns vírus".


Mais de três anos e meio depois de o vírus SARS-CoV-2, detetado pela primeira vez na província de Wuhan, na China, ter invadido o resto do mundo, há uma questão que continua em aberto: qual a sua origem? É verdade que, em 2021, a China permitiu a entrada no país de uma equipa de cientistas indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que, juntamente com cientistas locais, investigassem a origem do novo coronavírus, mas até agora não há uma certeza.


Na altura, esta equipa da OMS tornou público não ter tido "acesso total" à informação, mas produziu conclusões, considerando não haver evidências que provassem que a origem estaria "na fuga de um laboratório" na cidade onde este tipo de vírus estava a ser estudado, privilegiando antes a hipótese de este coronavírus ter sido transmitido aos seres humanos por um animal que atuou como intermediário entre o morcego e os seres humanos, possivelmente num mercado da cidade chinesa.


Tempos depois da divulgação destas conclusões, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, veio declarar que "todas as hipóteses continuavam em cima da mesa".


O assunto parecia estar esquecido, até porque a evolução da doença está mais controlada com a existência das vacinas e porque a própria OMS considerou estarem reunidas as condições para que se decretasse com segurança o fim da pandemia, mas novas declarações do diretor-geral da organização, neste fim-de-semana, numa entrevista ao Financial Times, voltaram a surpreender.


"Estamos a pressionar a China para que forneça acesso total [à informação] e estamos a pedir aos países que abordem o assunto nas suas reuniões bilaterais [para encorajar Pequim a cooperar]", afirmou. O que terá levado a OMS a voltar ao assunto, ao fim de tanto tempo? Tedros Adhanom explicou que tal aconteceu porque, até à data, "a comunidade internacional não conseguiu determinar com certeza a origem da covid-19" e, além disso, a OMS não irá desistir dessa investigação.

Na entrevista explicava que "a OMS já pediu à China, por escrito, que forneça informações e estamos prontos a enviar uma equipa, se nos autorizarem a fazê-lo". Insistindo: "Pedimos à China que seja transparente na partilha de dados, que efetue as investigações necessárias e que partilhe os resultados".

É difícil encontrar explicação para o regresso ao tema

Para o infecciologista português António Silva Graça, que tem acompanhado e estudado a evolução do SARS-CoV-2 e da covid-19, "é difícil encontrar uma explicação para se estar agora, depois de tanto tempo, a insistir num tema que já foi tratado previamente". A não ser que haja "outras razões que não sanitárias por detrás neste momento", porque, explica, tendo em conta a situação atual, "parece-me mais importante criar condições para que se possa fazer vigilância e um controlo rigoroso sobre o trabalho que é feito em laboratório com agentes biológicos críticos. Este controlo não se faz e deveria ser feito por entidades competentes, como a OMS".

Silva Graça sublinha que, "independentemente da causa que esteve na origem da pandemia, é importante agora que se tomem medidas para haver uma maior vigilância e controlo em relação a alguma situações". "Por exemplo, sabemos que alguns países têm hábitos culturais de consumo de animais que podem ser transmissores de vírus. O que estão estes países a fazer do ponto de vista da vigilância na cadeia alimentar para evitar que este tipo de situação volte a acontecer no futuro? A minha preocupação é esta, não tanto saber a origem do vírus", diz.


Para o infecciologista "é imprescindível que se pense, efetivamente, nas medidas que possam evitar o tratamento deste tipo de vírus a nível laboratorial sem controlo por parte da OMS". Isto, por um lado. Por outro, "é imprescindível que se tomem medidas do ponto de vista do comércio de animais e sobre a proximidade destes com as pessoas nos mercados - porque sabemos que há um risco grande de fazerem parte da cadeia de transmissão -, para se evitar que um vírus do grupo dos coronavírus possa dar o salto para a espécie humana".
Mais de 700 milhões de infeções e quase 7 milhões de mortes

O médico reforça mesmo que a sua grande preocupação "é se estão ou não a ser criadas as condições para impedir que outros vírus possam levar-nos a uma situação semelhante".

Recorde-se que o SARS-CoV-2, e de acordo com dados da própria OMS, provocou desde o início da pandemia mais de 770 milhões de infeções no mundo e quase sete milhões de mortes, mas há duas semanas o diretor-geral da OMS alertou novamente para mais um aumento de casos na Europa. "As hospitalizações e as mortes por covid-19 estão a aumentar na Ásia Oriental e no Médio Oriente, assim como as hospitalizações na Europa, o que mostra que a covid-19 está a aumentar", frisou, lamentando que, nesta altura, "só 43 países continuam a reportar as mortes [por covid-19] e apenas 20 dão dados de hospitalizações".

O infecciologista português concorda que os dados agora recolhidos pelas autoridades são apenas indicativos, "não têm o valor que já tiveram no passado", precisamente porque hoje em dia muitas pessoas já não fazem testes de diagnósticos nas farmácias ou nos laboratórios para que os resultados possam ficar registados no sistema informático.

Mas, na análise que faz aos dados divulgados pela DGS, diz que se pode verificar que Portugal também registou um aumento de casos, quando se compara os meses de julho e de agosto e o número de óbitos. "O número de casos em agosto foi sensivelmente o dobro dos que foram registados em julho, e convém sublinhar que não estamos no inverno. Pelo contrário, tivemos uma onda de calor. Ou seja, as condições eram pouco propícias para os vírus respiratórios, mas, mesmo assim, houve uma duplicação".

As autoridades chegaram a apontar a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, que reuniu mais de um milhão de pessoas, e os festivais de verão com razões para tal, mas a verdade, alerta o médico, é "que o aumento de casos não cessou nas semanas imediatas a estes eventos. O que se verificou foi que esse aumento foi secundado por mais transmissão, mais pessoas infetadas".

Em parte, refere, porque a população também deixou de ter noção de quando corre riscos maiores, esquecendo medidas de proteção. "É claro que a vacinação dá proteção para formas graves da doença, mas continua a permitir a transmissão". Portanto, diz, "a vacinação deve ser dada aos mais vulneráveis, quer por razões clínicas quer por faixas etárias, mas não me parece aconselhável que este reforço seja feito de forma generalizada. Devemos estar atentos e, se quisermos reduzir o número de casos, voltar a relembrar as medidas que devem ser tomadas para evitar a transmissão. É neste aspeto que me parece que está a faltar alguma iniciativa da parte da Direção-Geral da Saúde. É preciso relembrar à população as medidas que evitam a transmissão".

Na opinião de Silva Graça, "as pessoas já esqueceram as medidas que as protegem a elas próprias e aos outros", sublinhando ser preciso saber quando usar uma máscara e até o gesto de etiqueta respiratória quando espirramos. "Falamos da vacinação, mas temos descurado a recomendação das medidas de proteção", afirma.
Os Números da covid-19

770 563 467 - De acordo com a atualização feita pela OMS, a 13 de setembro, o SARS-CoV-2 já tinha provocado quase 800 milhões de infeções em todo o mundo. Sendo que nos sete dias anteriores, havia registo de mais 17 576 novos casos. Quanto a óbitos, há quase sete milhões (6 957 216).

5 610 180 - Os dados da OMS indicam ainda que em Portugal já se contabiliza mais 5,6 milhões de infeções e 27 247 mortes. Nos últimos 15 dias, o número de casos registou alguma variabilidade, oscilando entre os 203, nesta segunda-feira, e os 922, a 28 de agosto. Passou-se o mesmo com o número de óbitos que oscilou entre os 4 e os 15 neste período.

15.6.22

Documentário expõe vídeos racistas com crianças africanas vendidos em redes sociais na China

in DN

O documentário da BBC, com o título Racism for Sale ("Racismo à venda", em português), mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Malawi a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês.

Um documentário produzido pela cadeia televisiva BBC expôs um esquema de exploração de crianças vulneráveis em África para produzir vídeos racistas que são depois difundidos nas redes sociais chinesas, suscitando críticas do governo do Malawi.

O documentário de 49 minutos, publicado na segunda-feira, com o título Racism for Sale ("Racismo à venda", em português) mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Maláui a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês.

Num desses vídeos, que remonta a fevereiro de 2020, um grupo de crianças africanas foi instruído a repetir a frase, sem entenderem o que estão a dizer, "sou um monstro negro e o meu QI [Quociente de Inteligência] é baixo".

Como cliente, basta enviar o pedido, com a frase e requisitos, para o criador de conteúdo. Os vídeos não são apenas de conteúdo racista, incluindo muitas vezes desejos de feliz aniversário, bom ano novo, ou anúncios para empresas chinesas.

Depois de analisarem e cruzarem centenas de vídeos semelhantes, com recurso a imagens de satélite do Google Earth, a equipa da BBC encontrou o local onde o vídeo foi filmado: uma vila nos arredores de Lilongué, a capital do país africano.

Alguns dos vídeos identificados na investigação foram vendidos nas redes sociais chinesas Weibo e Huoshan, entre outras aplicações chinesas de partilha de vídeos.

O preço destes vídeos varia entre o equivalente a 10 e 70 euros.

A ministra dos Negócios Estrangeiros, Nancy Tembo, expressou "consternação" com o caso.

"Estão a usar os nossos filhos para enriquecer, o que é mau. Isto é algo que um malauiano não pode aceitar. Estão a desonrar-nos como malauianos", afirmou.

"A polícia e os assuntos internos estão a investigar e vamos envolver os nossos colegas chineses para ajudar a identificar este homem. Apelo às autoridades locais para estarem sempre alertas nas suas comunidades e também aos pais para protegerem sempre os seus filhos", disse, referindo-se ao autor dos vídeos.

8.6.22

Presidente chinês defende "progressos" em matéria de direitos humanos

Yue Yuewei/Xinhua, in Euronews

O Presidente chinês falou por videoconferência com Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos que está em visita oficial de 6 dias à China.

Durante a conversa, Xi Jinping defendeu que o país tem feito "progressos" em matéria de direitos humanos. Isto acontece numa altura em que fugas de informação revelam crimes contra a minoria Uigur, em Xinjiang, tema que não foi abordado por nenhum dos dois na conversa.

As revelações, obtidas a partir de 100 mil documentos da polícia chinesa, foram publicadas por vários meios de comunicação internacionais e dão conta de detenções em massa e condenações arbitrárias de membros Uigur, que se encontram em campos de reeducação. O Governo chinês desmente as acusações e afirma, contudo, que a frequência destes campos é voluntária.

De salientar que a representante da ONU está na China a convite de Pequim até ao próximo domingo. A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos deverá visitar Kashgar e Urumqi, as duas principais cidades de Xinjiang, região que tem estado sob escrutínio mundial nas últimas horas. De referir também que, devido à política 0 Covid-19, adotada pelo país, Michelle Bachelet não deverá passar pela capital chinesa.

Esta visita está a ser criticada por várias organizações de direitos humanos. Também os Estados Unidos da América já se pronunciaram e defenderam que esta deslocação é um "erro".

22.10.20

União Europeia quer OMS mais transparente

Por Alexandre Pinto, in RTP

A União Europeia quer maior transparência da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre como os países reagem a crises emergentes de saúde. A posição está num documento a que a agência Reuters teve acesso. Uma proposta de reforma da OMS quando ainda estão bem vivas as críticas à reação inicial da China em relação ao vírus que criou uma pandemia.
O documento que, de acordo com a Reuters, foi redigido pelo governo alemão após discussões com outros Estados-membros, tenta dar resposta às dificuldades da OMS em relação a financiamentos, liderança e poderes legais.

Com data de 19 de outubro, exorta a OMS a adotar medidas que aumentem a "transparência no cumprimento nacional" das Normas Sanitárias Internacionais, que exigem que Estados-membros partilhem rapidamente informações sobre emergências de saúde.

Estão ainda bem vivas as críticas dos EUA, pela voz do próprio Presidente Trump, ao acusar a OMS de ter alinhado com a China na primeira fase da pandemia por ter demorado demasiado tempo na reação e partilha de informação.

Acusações que foram e têm sido rejeitadas pela Organização Mundial da Saúde.

Este documento agora conhecido, indica que também a União Europeia tem dúvidas sobre a forma como a situação foi gerida.

Tanto responsáveis da UE como do próprio governo alemão recusaram-se a comentar o conteúdo deste documento por ser tratar ainda de um rascunho. Pequim também não reagiu, adianta a Reuters.

A proposta será discutida pelos ministros da saúde da UE numa videoconferência na próxima semana onde será fechada a posição comum antes da assembleia da OMS em meados de novembro.

Apesar de reiterar o apoio e destacar o papel central da agência na abordagem dos desafios globais da saúde, o rascunho desenhado pelo governo alemão aponta a insuficiente transparência como o primeiro de muitos desafios da Organização Mundial da Saúde.

O documento, de acordo com a Reuters, exige "um sistema de relatórios mais eficaz e aplicado de forma consistente pelos Estados Partes do Secretariado da OMS".

E reforça a ideia de que os mecanismos para avaliar o cumprimento das obrigações de relatórios pelos países devem ser fortalecidos e periódicos.


4.9.20

Ai Weiwei: “Vocês já estão profundamente infectados”

Alexandra Prado Coelho, in Público on-line

Como um vírus, a China espalhou-se e vai dominar o mundo. Ai Weiwei, artista chinês e opositor ao regime, está em Portugal e, à beira de uma piscina no Alentejo, traça um quadro negro do estado das coisas. A conversa parte do seu novo projecto, Coronation, filmado dentro da cidade de Wuhan durante o confinamento.

Em Janeiro de 2020 um vírus invisível entrou nas nossas vidas e nos nossos corpos e começou a destruí-los por dentro. Na verdade, já tinha entrado algum tempo antes, mas não tínhamos dado por ele. Como um inimigo silencioso, instalou as suas células adormecidas dentro de nós. E esperou. Quando percebemos isso, era já demasiado tarde. Estávamos infectados. E não sabíamos o que fazer.

Ai Weiwei, o mais famoso artista-activista chinês, opositor ao regime e a viver no exílio (inicialmente em Berlim, recentemente em Cambridge, no Reino Unido), compara a estratégia da China no mundo ao covid-19. “Para mim, é como um vírus nas células vivas do nosso corpo. Um dia vai infectar e o corpo vai começar a funcionar de forma diferente”. O avanço é quase invisível, os sintomas ainda ténues. Mas, avisa: “vocês já estão profundamente infectados.”

Parecem palavras demasiado negras para ouvir à beira de uma piscina numa casa no Alentejo, num dia de calor. No entanto, é esse o cenário. Numa troca de emails na véspera, para combinar a entrevista, tinha-nos sido dada a localização para podermos chegar a esta casa, a meio de uma estrada de terra, junto a umas oliveiras. É aí que Ai Weiwei tem estado instalado enquanto prepara “uma grande exposição”. Sobre a sua permanência em Portugal ou o trabalho que aqui está a realizar prefere, por agora, não revelar muito mais.

O motivo da conversa é outro: o filme Coronation, feito durante os meses do confinamento, e que acaba de lançar. Filmado em Wuhan, a metrópole chinesa onde a pandemia começou, foi dirigido por Ai Weiwei à distância e montado fora da China a partir de material recolhido por membros da equipa do artista em Wuhan.

São duas horas de olhares sobre o que, para nós, foi em grande parte invisível. Nos primeiros meses do ano chegavam-nos notícias de Wuhan, de fonte oficial ou através de habitantes que relatavam em diários o que estavam a viver (como a poeta Fang Fang, usando a rede social WeChat, numa série de textos já editados em livro), mas em Coronation vamos mais longe, entramos no dia-a-dia dos hospitais, em lugares habitualmente preservados de olhares exteriores.

Intercaladas com imagens aéreas da grande metrópole isolada do mundo, assistimos a longas sequências da vida quotidiana: o processo pelo qual um médico tem que passar para se desinfectar totalmente antes ou após um dia de trabalho no hospital, a tentativa de entrada em Wuhan de um casal que regressa à cidade no primeiro dia do confinamento, a construção de um hospital em tempo recorde.

É o, aparentemente muito eficaz, funcionamento da máquina chinesa. Objectivo: controlar o vírus. Taxa de sucesso: alta. Sobretudo quando comparada com os cenários a que o mundo assistiu em vários países ocidentais nas semanas e meses que se seguiram.

Mas na segunda parte do filme outra realidade começa a surgir. A máquina funciona, sim, mas as peças soltas que são os seres humanos pagam um preço alto por essa eficácia. Ouvem-se então histórias de pessoas como o operário que foi para Wuhan trabalhar na construção do hospital e que, impedido de sair da cidade, se vê forçado a viver dentro do seu carro numa garagem, vendo os familiares apenas no ecrã do telemóvel.

Ou a de homem que quer recuperar, sozinho, a cinzas do pai, vítima da covid-19, e que se sente impotente perante a burocracia do Partido Comunista Chinês, que o obriga a passar pelo processo acompanhado por um funcionário oficial. Assistimos à conversa entre uma mãe e um filho, ela antiga funcionária do Partido, mantendo a crença de toda a vida na ideia de que tudo o que o Partido faz é para o bem comum, enquanto o filho, um artista chinês, tenta questionar essa crença, mostrando-lhe imagens que denunciam os métodos do regime. E, por fim, vemos a crueza do processo de entrega das cinzas das vítimas da pandemia aos familiares — a forma pragmática, brutalmente fria, como os restos mortais são calcados e apertados de maneira a caberem nas pequenas urnas.

E, por detrás de tudo isto, a mentira, diz Ai Weiwei. A China soube muito tempo antes do início do confinamento qual era a real situação, afirma. Provavelmente muitas mortes em todo o mundo poderiam ter sido evitadas “se no início a China tivesse sido transparente, identificando claramente a existência de transmissão entre humanos”.
“Enquanto vocês aproveitam o sol na praia, os chineses estão a trabalhar para fazer as vossas toalhas, os vossos fatos-de-banho, o shampoo, a touca de banho. Por isso eles vão ganhar todo o dinheiro. Vocês têm o sol, que é óptimo, ficam bronzeados, vão ficar perfeitos nas fotografias. E eles até criaram o Tik Tok para que vocês possam apresentar a vossa imagem nas redes sociais. Que belo filme de Hollywood”

Houve médicos a denunciar a situação várias semanas antes. O oftalmologista Li Wenliang, do Hospital Central de Wuhan, alertou a 30 de Dezembro para uma série de casos de pessoas com sintomas semelhantes aos provocados pelo SARS (outro coronavírus, responsável por uma epidemia em 2003, e sobre o qual Ai Weiwei e o irmão fizeram, na época, um pequeno filme, Eat, Drink and Be Merry), mas as autoridades acusaram-no de “espalhar rumores” (e ele acabou por morrer vítima de covid-19).

E houve cúmplices nesse silenciamento inicial. Weiwei aponta o dedo à Organização Mundial de Saúde (OMS), que “trabalhou com a China e nunca disse a verdade”, e também aos Estados Unidos, onde a Administração Trump estava, nesse mês de Janeiro, mais interessada em assinar o acordo de comércio com a China, o Phase One (o que aconteceu no dia 15 de Janeiro), do que em tomar medidas para conter o novo coronavírus. “Trump, não uma mas muitas vezes, elogiou a forma como a China estava a lidar com a situação. Disse que tinha falado com o Presidente [chinês, Xi Jinping] e que estava tudo sob controlo.”

Weiwei garante que se apercebeu da gravidade do que se estava a passar ainda antes do lockdown decretado na cidade a 23 de Janeiro. “Temos muita experiência para saber como é que um Governo como o chinês estava a lidar com uma situação como esta. Escondem coisas desde o início, e até ao fim as pessoas não sabem o que aconteceu.” Admite como possível a tese de que a pandemia começou não no mercado “molhado”, de alimentos e animais vivos, mas sim no centro de investigação que estava a trabalhar com coronavírus.

Não acredita numa propagação intencional mas numa fuga e critica o Governo chinês pela posterior destruição de todas as amostras retiradas de doentes infectados (algo que as autoridades chinesas admitiram e que levou a protestos por parte dos EUA). “Destruir amostras é impensável a menos que se esteja a tentar esconder algo de criminoso”.

O padrão repete-se, garante. Aconteceu com a SARS, em 2003, e mais tarde com o terramoto de 2008 em Sichuan, que deu origem à obra Remembering (2009), na qual Ai Weiwei, que reuniu o nome de todas as crianças mortas no desabamento de escolas construídas de forma precária, colocou nove mil mochilas coloridas na fachada da Haus der Kunst, em Munique, formando a frase da mãe de uma das vítimas: “Durante sete anos ela viveu feliz nesta terra”.

Mas, lembra o artista, aconteceu também com o caso do leite em pó para bebés adulterado, que afectou muitos milhares de crianças, hospitalizadas devido a problemas nos rins. Foi em 2008, ano dos Jogos Olímpicos. “Eles esconderam o facto para não prejudicar os jogos. Não queriam ter um impacto negativo. Só depois é que a informação foi tornada pública, mas nessa altura já muitas crianças tinham sido infectadas. Os bebés urinavam sangue, os pais não sabiam o que fazer, eles detinham todos os que protestassem. Um amigo meu foi preso porque exigiu uma resposta do Governo. O Governo nunca dá respostas.”

Existe, portanto, um padrão, repete. “Basicamente, a China é um Estado secreto. Estas são as palavras correctas para o descrever. É muito poderoso, com uma visão muito clara de como se quer desenvolver, mas é um Estado secreto.” Claro que as novas tecnologias — os sistemas de reconhecimento facial, por exemplo — tornam tudo muito mais fácil hoje. Mas o sistema foi montado muito antes disso e existiria mesmo sem esses avanços.
“O Ocidente é como uma família muito rica em que cada um tem o seu quinhão justo mas não se preocupa com os vizinhos do lado”. Não tem dúvidas de que “o capitalismo é uma filosofia egoísta” e está convencido de que este exercício da “verdade selectiva” vai levar o Ocidente ao colapso

“A nação tem uma fábrica, que pertence ao Partido, um banco, que é do Partido, um meio de comunicação, que é do Partido, uma polícia, um sistema judicial, que são do Partido. Como é que se pode desafiar isto? Não é possível.” A tecnologia permite apenas “reforçar o controlo” com técnicas como o Sistema de Crédito Social, que classifica os cidadãos de acordo com um rating numérico baseado na análise do comportamento social de cada um, valorizando determinadas coisas e penalizando outras. “Eles têm todas as informações sobre as pessoas, onde vivem, onde fazem compras, com quem falam, de que falam online…”.

Tudo isto acontece perante a impotência, ou, em muitos casos, a indiferença. Coronation mostra, contudo, tentativas individuais de fazer frente ao sistema. A abertura da China ao capitalismo, a possibilidade de cada indivíduo fazer dinheiro, a ambição que isso implica, não vieram mudar mentalidades? Não abalaram o espírito colectivista da sociedade chinesa, trazendo ao de cima um maior individualismo?

Ai Weiwei é taxativo: “Não. Houve sempre injustiça, houve sempre pessoas a perguntar coisas muito essenciais: porque é que eu não posso ir sozinho buscar as cinzas do meu pai? Mas esses detalhes são um grão de areia, uma gota de água. Esse homem não terá qualquer hipótese, não é possível. Nessa cena consegue ver o controlo comunista até ao fundo.”

Noutra, que mostra o local onde são entregues as cinzas dos mortos por covid-19, “todas as pessoas com roupa branca são funcionários governamentais ou polícia secreta, só os que não têm esse tipo de roupa [de protecção] é que são cidadãos. Os funcionários garantem que a pessoa assina um papel, não faz ondas, dão-lhe 500 dólares e está tudo terminado.”

Mesmo assim, insistimos, parece haver maior consciência crítica numa geração mais jovem — basta ver a cena da mãe idosa, antiga funcionária do Partido, premiada várias vezes pelo seu desempenho, e o filho que tenta questionar a gestão da crise por parte das autoridades. “Incluímos essa cena porque reflecte a forma como as pessoas mais velhas pensam sobre o comunismo, porque toda a vida contribuíram para a nação e têm uma ligação emocional. Ao mesmo tempo, sofreram uma lavagem cerebral toda a vida, não tiveram outra opção. O filho é um artista contemporâneo, está numa posição muito especial, não é uma pessoa comum.”

E fora da China, como é que o Ocidente olha para o que se passa o país? Continuamos sem entender nada? “O Ocidente talvez conheça 5% da situação da China.” Ironiza: “Sabem que Xangai é bonito, que Pequim é muito poderoso, que a capital da China não é Tóquio, que a comida é boa”. Este nível de ignorância “é interessante” tendo em conta que “com a globalização a China tornou-se o principal desafio do Ocidente”.

Desde a infância de Ai Weiwei — que viveu num campo de trabalho quando tinha um ano, depois de o pai, o poeta Ai Qing ter sido denunciado como opositor ao regime — que a China mudou profundamente. “O país onde eu cresci nos anos 70 era como a Coreia do Norte hoje. Mas, depois da Guerra Fria, o Ocidente precisava da globalização e de uma nova ordem mundial e tornou a China o seu grande mercado de trabalho. Não poderiam ter encontrado um mercado de trabalho com tão grande dimensão e um desejo tão grande de se tornar rico. Sob Deng Xiaoping, toda a gente queria ganhar um cêntimo, ou meio cêntimo. Em todas as aldeias abriu um negócio”.

Nunca até esse momento se vira algo igual. “A China aceitou voluntariamente ser o mercado de trabalho do mundo”. E um mercado em que as regras do Ocidente não se aplicavam. “É o Oeste selvagem, ou melhor, o Oriente selvagem”. E durante trinta anos, o mundo beneficiou disso.

Enquanto isso, estava a acontecer um fenómeno de que poucos se aperceberam. Ou ao qual preferiam fechar os olhos. A China foi — como o vírus, na comparação de Ai Weiwei — invadindo lentamente as células do corpo ocidental. Um exemplo são as leis que exigem que qualquer empresa estrangeira que tenha mais de três funcionários chineses passe a ter um sindicato, sob o controlo do Partido. “Não é louco? É uma mafia dentro da empresa. Fazem os próprios relatórios, agem da forma que querem.”

O filme mostra como é feito o recrutamento de novos membros para o Partido. Numa cena, crianças e noutra enfermeiras que trabalharam para combater a pandemia fazem o juramento de lealdade. “Têm que fazer o mesmo gesto [punho cerrado, com o indicador preso pelos restantes dedos], dizem-lhes exactamente a que altura posicionar o braço, e as palavras que têm que dizer. Prometem obediência à política do Partido Comunista, prometem proteger os seus segredos e sacrificar a vida por ele.”

Há na China “100 milhões de membros do Partido”. Faz uma pausa. “Portugal tem quantos habitantes? Dez milhões? Os membros do Partido, essa sociedade negra na China, é já dez vezes superior à vossa população. Acham que podem desafiar isso? Não acredito. Os EUA não podem desafiar isso. A China vai derrubar os EUA e tornar-se a maior potência global”.

Contudo, os EUA têm gesticulado, protestado, ameaçado. “Fazem barulho mas com poucos resultados. Basicamente, Trump usa isso como estratégia eleitoral, faz de cowboy num filme do Oeste, para lidar com os ‘maus da fita’. Mas será que compreendem realmente a condição filosófica e histórica do que são os EUA e do que é a China? Não sei…”.

“Um Estado autoritário toma conta de tudo, incluindo as ideias das pessoas — é isso que o Ocidente quer?”. O vírus já entrou

Acredita, que em breve o mundo descobrir-se-á sob o domínio chinês. “Falo disto pelo menos desde 2008. Durante os Jogos Olímpicos comecei a escrever sobre as tácticas chinesas e a negligência ocidental perante esta ascensão da China”. Os exemplos estão por todo o lado. “Em Portugal, por exemplo, a China tem a tentação de comprar empresas ligadas à electricidade, à banca, à comunicação social”. Depois, há o resto do mundo. “Está em África, na América do Sul, até na Alemanha compraram parte do Deutsche Bank. Como é que o Ocidente consegue competir com um país assim? Tomam decisões num segundo, não têm que perguntar nada a ninguém, os outros são amigos ou são inimigos”.

Mas o olhar muito crítico sobre a China e o comunismo não impede Ai Weiwei de ser igualmente crítico em relação ao Ocidente e ao capitalismo. “O Ocidente é como uma família muito rica em que cada um tem o seu próprio quarto e o quinhão justo mas não se preocupam com os vizinhos da porta ao lado”. Não tem dúvidas de que “o capitalismo é uma filosofia muito egoísta” e está convencido de que vai chegar o dia em que este exercício da “verdade selectiva” vai levar o Ocidente ao colapso.

Fala dos refugiados, claro — é também autor do documentário Human Flow (2017) —, mas de muito mais. “Os refugiados são empurrados para o oceano, diariamente morrem pessoas e o Ocidente pergunta ‘porque é que vêm?’.” As perguntas de Weiwei são outras: quem cria aquelas guerras? Quem vende as armas para matar os iemenitas? Qual é o acordo entre o Ocidente e a Arábia Saudita? As pessoas dizem ‘não é connosco, não vamos falar sobre isso’. Mas vai haver consequências. Neste momento enfrentam a China. É algo sobre o qual já não podem dizer ‘não é um problema nosso’”.

O Ocidente acreditou na sua própria “propaganda”, que dizia que quando ficasse rica, a China tornar-se-ia uma democracia. Não percebeu uma coisa: “A democracia não vem de se ficar rico, é uma estrutura política que tem que vir com uma visão de como é que uma sociedade se deve manter e desenvolver”. E para Weiwei há algo bastante claro: “A China nunca se vai tornar uma democracia livre, não importa quão rica for, porque nunca vai mudar a ideologia do partido único”.

Estamos, portanto, entalados entre o capitalismo e a visão do mundo chinesa. Não há saída? “A China está num beco sem saída e o capitalismo também”. Falta no Ocidente “uma autoconsciência clara” que é a própria essência do comportamento humano. “Temos que estar alerta e ter essa autoconsciência que vem de um julgamento moral muito básico sobre se estamos certos ou errados”. O problema, diz, é que “há muito que no Ocidente falta este tipo de julgamento moral”.

O olhar crítico não exclui o próprio artista. Tenta, com o seu trabalho, despertar consciências? “Não. Tento manter-me desperto a mim próprio. Basicamente sou uma pessoa muito egoísta, só quero saber o que se está a passar, ter uma visão mais clara do tempo em que estou a viver e com quem estou a lidar. Espero que mais tarde os meus filhos possam dizer que o pai tinha razão sobre isto. Sou responsável pelos meus filhos e tenho amigos que se identificam com as minhas ideias e com quem trabalho. É isto. O resto é sorte. Teremos sorte? Não sei.”

O optimismo que lhe resta, reserva-o para uma espécie muito própria de fé no humano: “Não tenho uma boa visão da Humanidade, excepto o pensar que cada vida é tão preciosa, e em relação a isso sinto-me muito positivo sobre a forma como os humanos tentam lutar para sobreviver. Isso é muito positivo. Mas continua a não haver uma visão clara sobre como vão sobreviver”.

Seja qual for o motivo que o leva, em plena pandemia, a querer mostrar o que se passa no interior da cidade fechada de Wuhan, há neste projecto um risco — dele, enquanto a artista que dá a cara por Coronation, e dos amigos que, na China, fizeram as filmagens. “Digo sempre que é por causa destes perigos que existo. Se não enfrento os perigos, isso significa que já desapareci ainda antes de a minha vida ter desaparecido.”

Esse é precisamente um dos problemas que vê na atitude do Ocidente. “É tão protegido, está tudo bem, as companhias de seguros tratam de tudo, e isso torna o nosso cérebro preguiçoso. Não agimos, não respondemos, transformamos esses sentimentos essenciais, de luta, de combate, sejam certos ou errados, noutra coisa qualquer que é totalmente abstracta. E perdemos o significado de liberdade”.

Sinal disso poderá ser a forma como o seu filme não foi aceite por nenhum dos grandes festivais de cinema (nomeadamente o de Veneza) nem pela Netflix ou a Amazon (para ser visto, pode ser alugado ou comprado nas plataformas Vimeo e Alamo). “Todos recusaram, o que é muito compreensível. A China tem uma grande influência, toda a gente quer passar os seus filmes na China. Esses festivais são um mercado de vegetais, onde as pessoas vão comprar, e não querem que eu coloque ali no meio o meu cogumelo, não é bom para o mercado”, diz, sorrindo.

E não tem tanto a ver com medo. É, sim, na sua visão, a “ânsia de fazer negócios”. Empresas como a Netflix ou a Amazon “estão a fazer milhões durante a pandemia, adoram dinheiro, adoram ver a linha a subir na Bolsa, é assim que o mundo funciona, até um dia colapsar totalmente”.

E não, o vírus não vai mudar nada. “Nas ruas de Berlim todos estão a agir normalmente outra vez. Há já grandes festas, ajuntamentos, bares cheios, como se nada tivesse acontecido, como se um vento tivesse passado e o sol já tivesse voltado. As pessoas nunca aprendem com as tragédias. Põe-se a máscara, tira-se a máscara, voltamos ao business as usual. E a China percebeu isso perfeitamente”. Morreram alguns milhares de pessoas em todo o mundo. Poderia ter sido evitado? Provavelmente. Mas ninguém quer perder a oportunidade de fazer negócios com a China.

Esquecem-se, diz, que “um Estado autoritário toma conta de tudo, incluindo as ideias das pessoas — é isso que o Ocidente quer?”. O vírus já entrou. Os chineses “trabalham nas fábricas, produzem as máscaras de protecção, produzem os chapéus para a Administração Trump, aqueles que dizem ‘America First’”. Há nisto uma ironia que nos escapa.

Ai Weiwei olha para a relva e a piscina no meio do Alentejo. Daí a pouco, para a sessão fotográfica, vai dar um mergulho, percorrendo o espaço debaixo de água quase sem vir ao de cima respirar. Quando emerge, a água pinga-lhe da barba.

Gosta muito de Portugal, o país tem sol, tem praias. “Mas enquanto vocês aproveitam o sol na praia, os chineses estão a trabalhar para fazer as vossas toalhas, os vossos fatos-de-banho, o shampoo, a touca de banho. Por isso eles vão ganhar todo o dinheiro. Vocês têm o sol, que é óptimo, ficam bronzeados, vão ficar perfeitos nas fotografias. E eles até criaram o Tik Tok para que vocês possam apresentar a vossa imagem nas redes sociais. Que belo filme de Hollywood”.

23.7.20

Uma em cada cinco peças de roupa que usamos tem origem em trabalho forçado uigur na China

Pedro Bastos Reis, in Público on-line

Coligação de organizações de defesa dos direitos humanos exige que marcas como a Adidas, Lacoste, Nike, H&M, C&A, Zara, Ralph Lauren, Muji ou Calvin Klein deixem de recorrer a trabalho forçado dos uigures na província de Xinjiang, onde é produzido 20% do algodão a nível mundial.

Mais de 190 organizações de defesa dos direitos humanos, de 35 países, formaram uma coligação a exigir que grandes marcas internacionais cortem as ligações com os fornecedores ligados ao trabalho forçado de uigures, uma minoria muçulmana na província chinesa de Xinjiang.

Entre os abusos cometidos contra esta minoria, denunciam as organizações de defesa dos direitos humanos, está a detenção arbitrária em campos de trabalho forçados, tortura, separação forçada e esterilização das mulheres para controlar a natalidade.

Segundo os números revelados esta quinta-feira pela coligação, 84% do algodão produzido na China, o maior produtor desta matéria-prima a nível mundial, é proveniente de Xinjiang, sendo que 20% do algodão mundial tem origem nesta província no Noroeste da China. Em muitos casos, o algodão produzido em Xinjiang é enviado para fábricas noutros pontos do mundo, particularmente países asiáticos como o Bangladesh, o Camboja e o Vietname, onde as roupas são fabricadas.

Entre as marcas visadas pela coligação estão a Gap, C&A, Adidas, Muji, Tommy Hiliger, Calvin Klein, Nike ou a tecnológica Apple. De acordo com estes grupos de defesa dos direitos humanos, pelo menos um em cada cinco produtos de vestuário, feitos de algodão, vendidos no mundo têm origem no trabalho forçado da minoria uigur em Xinjiang, onde as Nações Unidas dizem que vivem mais de um milhão de uigures em campos de detenção.

A coligação acusa ainda várias marcas de vestuário de continuarem a manter parcerias lucrativas com empresas chinesas, aceitando subsídios do Governo do Partido Comunista chinês para expandir a sua produção têxtil na região e para beneficiar do trabalho forçado dos uigures que são transferidos de Xinjiang para outras fábricas na China.

“As marcas globais precisam de se questionar a si próprias sobre o quão confortáveis estão ao contribuir para uma política genocida contra o povo uigure”, afirmou ao The Guardian Omer Kanat, director executivo do Projecto de Direitos Humanos Uigur, uma organização de defesa dos direitos dos uigures e de outras minorias muçulmanas, sedeada nos Estados Unidos. “De alguma forma, estas empresas têm evitado o escrutínio quanto à sua cumplicidade com estas políticas. Isso acaba hoje”, declarou.

“As marcas e os retalhistas deveriam ter abandonado há muito tempo [a conivência com o trabalho forçado uigur], mas não o fizeram e é por isso que este apelo público é tão importante e necessário”, acrescentou à BBC Chloe Cranston, da Anti-Slavery International, uma das mais de 190 organizações envolvidas na campanha. “Não se trata apenas de acabar a relação com um fornecedor. É também sobre adoptar uma abordagem compreensiva”, concluiu.
O que está a acontecer em Xinjiang?

As denúncias contra o tratamento de Pequim aos uigures, uma minoria muçulmana que fala uma língua turca, na província de Xinjiang não são novas, mas têm-se intensificado nos últimos anos.

Além dos já referidos campos de detenção, classificados pela China como “campos de reeducação” e que, segundo Pequim, pretendem ajudar os uigures a fugirem do extremismo islâmico – há um movimento separatista islâmico na província, que já levou a cabo alguns atentados – e a integrarem-se na sociedade, organizações de defesa dos direitos humanos e uigures no exílio denunciam uma perseguição religiosa contra esta minoria, que tem como objectivo impedir que os uigures falem a sua língua ou pratiquem a sua religião.

Para tal, denunciam estas organizações, o Governo chinês impôs um autêntico estado policial com recurso a vigilância electrónica e tem adoptado medidas para controlar a natalidade dos uigures e diluir a etnia. Deixar crescer a barba ou utilizar o véu islâmico, por exemplo, podem levar a detenções.

Nos últimos meses, aumentaram também as denúncias contra o trabalho forçado de uigures em fábricas. No início desta semana, o New York Times revelou que centenas de uigures estão a trabalhar em fábricas em Xinjiang para produzir equipamentos de protecção individual, nomeadamente máscaras, para consumo interno na China e para exportação para outros países.

Em Março, um relatório do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI) denunciou que milhares de uigures foram transferidos dos “campos de reeducação” para trabalhar em fábricas noutras regiões da China que fornecem produtos para 83 marcas internacionais de sectores como a tecnologia, vestuário ou automóveis, entre elas a Apple, Lacoste, Adidas, Ralph Lauren, Nike, Mercedes-Benz, H&M e Zara.
Resposta das marcas

O relatório da ASPI levou o eurodeputado francês Raphaël Glucksmann, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), da qual faz parte o Partido Socialista, a lançar uma campanha a apelar que as marcas parem de colaborar com as fábricas que utilizem trabalho forçado uigur, e a Adidas e a Lacoste anunciaram que vão proibir qualquer parceria com fornecedores ou retalhistas com origem em Xinjiang.

A Nike, por seu turno, disse que está a “conduzir diligências contínuas” com os seus fornecedores na China para “avaliar potenciais riscos relacionados com o emprego de uigures ou outras minorias étnica”, enquanto a Apple afirmou que está a investigar as denúncias. “Não encontrámos evidências de trabalho forçado nas linhas de produção da Apple, mas vamos continuar a monitorizar a situação”, afirmou a empresa norte-americana em comunicado, citado pela BBC.

Outras marcas, como a C&A, garantem que não trabalham com qualquer fábrica da província de Xinjiang, enquanto a PVH Corporation, dona da Calvin Klein e da Tommy Hilfiger, disse que não adquire peças acabadas provenientes da região e garantiu que vai interromper o seu relacionamento com quaisquer fábricas que produzam vestuário ou tecidos em Xinjiang nos próximos 12 meses.

A H&M, inicialmente, disse que não mantinha relação com qualquer fornecedor daquela região chinesa, mas, num comunicado enviado ao Guardian, referiu uma relação indirecta com uma empresa a operar na região, e garantiu que não irá comprar mais algodão e que vai rever esta parceria. Já a Muji confirmou que utiliza algodão da província do Noroeste da China, mas garantiu que que o material vendido pela marca não está ligado a trabalho forçado.

A campanha da coligação de mais de 190 organizações de defesa dos direitos humanos surge numa altura em que os Estados Unidos têm aumentado a pressão sobre a China devido ao tratamento da minoria uigur, tendo emitido uma directiva destinada às empresas a avisar sobre os riscos da ligação com o trabalho forçado em Xinjiang.

Washington impôs também sanções a várias figuras do Partido Comunista chinês devido à violação dos direitos dos uigures, uma acção que teve resposta imediata de Pequim, que retaliou com sanções contra senadores republicanos.







4.10.17

"A China vai dos pobres mais pobres aos bilionários da Forbes"

Helena Tecedeiro, in Diário de Notícias

Em Lisboa para participar na conferência Em Que Pé Está a Igualdade?, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, no Teatro Nacional de São Carlos, Branko Milanovic falou da China e da Índia. O economista sérvio-americano desvalorizou impacto de Donald Trump no sistema americano e explicou que Emmanuel Macron está a tentar combater o populismo causado pelo neoliberalismo com mais neoliberalismo.

A China está a abrandar. Podemos esperar que continue a ser a locomotiva da economia mundial?

A taxa de crescimento da China costumava andar nos dois dígitos, depois passou para 8% e agora anda nos 6,5%. Mesmo assim é um nível de crescimento muito elevado. Sobretudo quando os países ricos baixam as expectativas, considerando taxas de crescimento de 1,5% ou 2% satisfatórias. A longo prazo, à medida que se aproxima da fronteira tecnológica, a China vai deixar de crescer ao ritmo a que cresce agora. Mas não estou preocupado. E mesmo que a China já não seja uma locomotiva tão boa, temos países como Índia, Indonésia, Vietname, até a Birmânia mais recentemente, e países em África, como a Etiópia, que estão a crescer muito rapidamente.

A China é uma sociedade capitalista com um regime comunista. Esta contradição pode ser um problema?

Devíamos esquecer a forma como os partidos se chamam. O que temos na China é uma economia capitalista com um sistema de partido único. Nesse sentido, a China representa um potencial parceiro para as sociedades ocidentais - democracias liberais e multipartidárias - por serem ambas capitalistas. E se olharmos para a percentagem do produto interno bruto (PIB) produzida pelo setor privado ou para a percentagem de empregos privados, é de 60% ou 70%.

O aprofundar das desigualdades é o maior desafio para o governo chinês?

É um desafio por várias razões. Em primeiro lugar, a China é geograficamente muito desigual. Tem as províncias costeiras com as grandes cidades, como Xangai ou Pequim, que se estão a dar muito bem. E tem as áreas rurais. Se olharmos para a distribuição de riqueza na China em termos globais, há pessoas nas zonas rurais que estão no fundo da tabela. A China, um pouco como o Brasil, cobre a totalidade da distribuição de riqueza - dos mais pobres que vivem no que o Banco Mundial define como pobreza absoluta aos bilionários na lista da Forbes. Deixando de parte chamar-se comunista, o partido no poder tem preocupações de justiça social. A campanha anticorrupção que lançaram está ligada à conclusão de que as desigualdades e a corrupção podem minar a legitimidade do partido.

Falava da Índia. Uma população mais jovem será segredo para o seu sucesso?

A Índia está a crescer em termos populacionais mais rapidamente do que a China. Irá ultrapassá-la dentro de dez anos, talvez menos. Estou bastante otimista em relação à Índia, até porque tem um número crescente de jovens educados. Também tem a vantagem da língua inglesa, que não sendo falada por todos é falada por uns 200 milhões de pessoas. E é uma democracia. Está permanentemente num alto nível de instabilidade, mas, graças à democracia, é uma instabilidade que tem sido gerida desde a sua fundação, há 70 anos. O perigo agora é que a coabitação entre hindus e muçulmanos se deteriore.

Perante os emergentes, Trump terá de lutar para tornar a América grande outra vez ou basta gerir a vantagem?

Ninguém sabe o que ele vai fazer. Acho que nem ele sabe. Além disso, temos de ver se ele e a administração chegam ao fim do mandato... pode haver um impeachment. O que é mais interessante é o tipo de sistema que permitiu a Trump chegar ao poder. Ele aparece devido a uma grande insatisfação entre os americanos - com os níveis de rendimento, a falta de emprego, a falta de oportunidades, o sentimento de que tinham sido abandonados pelos políticos de ambos os partidos. É mais interessante perceber quais as forças que o trouxeram ao poder do que o que ele vai fazer. Não acredito que ele tenha efeito a longo prazo no sistema americano.

Podemos dizer que foi um falhanço da administração anterior que trouxe Trump ao poder?

Não é só um resultado da última administração, mas sim das últimas administrações. Foram 20 e tal anos de políticas neoliberais. E enquanto a percentagem de pessoas insatisfeitas era relativamente pequena, as elites liberais não lhes prestaram atenção.

O protecionismo defendido por Trump pode prejudicar a economia americana e reforçar desigualdades?

Sim, mas não acredito que vá acontecer. O NAFTA [acordo de comércio livre entre EUA, México e Canadá] está a ser renegociado, mas o sistema construído nos últimos 70 anos não será refeito. E como se viu com a NATO, Trump diz uma coisa e faz outra. Vai ser um presidente populista que na verdade é um plutocrata.

A insatisfação, as desigualdades também existem na Europa e estão a alimentar movimentos populistas. Os líderes europeus têm de lidar com isto?

Na Europa a perceção desse fenómeno é bastante forte. Primeiro foi o brexit, depois [Marine] Le Pen e agora a AfD na Alemanha. Se olharmos para a alternativa proposta por Macron, tem logo problemas a nível interno em França - há uma enorme oposição às suas políticas, de facto, neoliberais. É interessante que este problema tenha sido originado pelo neoliberalismo e que agora Macron se proponha salvar a França do populismo com mais neoliberalismo. Esse neoliberalismo seria equilibrado por uma UE mais forte. Mas isso parece pouco provável depois das eleições alemãs. Todos sabem que é um problema, não sei se há muito a fazer. Olhemos para os grandes países: a Alemanha tem a extrema-direita pela primeira vez no Parlamento na história recente; a França tem um problema com a mudança das leis laborais; o Reino Unido está ocupado com o brexit; a Polónia tem um governo nacionalista/populista e a Espanha está ocupada com a Catalunha. Não vamos resolver os problemas da UE quando os países têm os seus próprios problemas.

Portugal sofreu muito com a crise financeira. O que acha da opção da Europa pela austeridade?

Não sou macroeconomista, mas quando olhamos para a Grécia, era uma questão de matemática. O rácio de dívida em relação ao PIB é mais alto do que no início da crise e vai ficar ainda mais alto. É claro que, a menos que a dívida fosse perdoada ou tornada mais leve através de uma restruturação extravagante, a Grécia não ia conseguir sair do buraco onde estava. E de onde ainda não saiu. Para a Grécia, estas políticas foram claramente erradas. Mas para outros países funcionou. Portugal é muitas vezes dado como bom exemplo por ter aplicado medidas de austeridade e agora estar a sair dela. A Espanha também. Em certos casos, estas políticas de austeridade funcionaram. Mas há casos extremos, como o da Grécia, em que é difícil ver como poderiam ter resultado.

1.3.17

Corte de empregos no carvão e no aço

Magalhães Afonso, in iOn-line

A China anunciou que vai cortar este ano mais de 500 mil empregos nas indústrias do aço e do carvão.

O ministro dos Recursos Humanos, que anunciou os cortes em conferência de imprensa, revelou que as pessoas que serão despedidas entrarão num programa de procura de emprego ou ser-lhes-á oferecida uma reforma antecipada.

A China produz mais de metade do aço mundial, mas uma desaceleração do crescimento económico do país e uma procura mundial menos pujante deixou esta indústria com sobrecapacidade.

No ano passado o governo tinha anunciado um plano para a eliminação de 1,8 milhões de empregos na indústria do carvão e do aço. Em 2016 eliminou quase 730 mil.

Citado pela agência AFP, Yin Weimin afirmou que “todo o processo foi ordeiro e suave”, acrescentando não ter havido “especiais temas ou conflitos”.

Pequim quer reorientar a economia para um modelo de consumo interno em vez de investimento alimentado com dívida, ao mesmo tempo que quer emagrecer o setor industrial.

Em 2016 a economia cresceu 6,7%, o valor mais baixo em 25 anos.

17.7.13

Homem mais rico da China diz que reduzir desigualdades não é prioridade

in Público on-line

O patrão do grupo Wahaha, Zong Qinghou, considerado o homem mais rico da China, afirmou, nesta quarta-feira, que não há “qualquer necessidade” de atacar o fosso crescente entre ricos e pobres no país, desde que cada um tenha possibilidade de enriquecer.

“Não temos necessidade de atacar o problema das diferenças de riqueza, é preciso resolver o problema da prosperidade comum”, disse à imprensa Zong Qinghou, que tem uma fortuna pessoal calculada em 11,3 mil milhões de dólares (quase 8,6 mil milhões de euros).

“As pessoas ricas devem ajudar o conjunto da população a tornar-se mais próspera”, disse Zong, fundador de um gigantesco grupo de bebidas não alcoólicas, que alargou a actividade aos leites para crianças e vestuário infantil.

“Se toda a gente fosse rica, a sociedade seria harmoniosa e mais confortável”, declarou o empresário de 67 anos, numa conferência que assinalou o lançamento de uma série de centros comerciais.

“Se instaurássemos o igualitarismo […] nem toda a gente teria o suficiente para matar a fome. É melhor encorajar as pessoas a criarem riqueza”, disse Zong, numa alusão ao período maoista. O empresário apelou a uma descida dos impostos para estimular o investimento.

Zong entrou no mundo dos negócios há 40 anos, vendendo bebidas gasosas para crianças. Os media dizem que nessa altura tinha tão pouco dinheiro que chegava a dormir debaixo de uma ponte, em Pequim.

A empresa que criou, a Wahaha (que significa algo como “Criança risonha”) conheceu um êxito fulgurante até se tornar a terceiro maior companhia de bebidas não alcoólicas do país, segundo a empresa de estudos de mercados de consumo Euromonitor International.

A fortuna atribuída a Zong pela revista chinesa Hurun Report faz dele o homem mais rico da China e um dos mais abastados da Ásia.

Os principais indicadores internacionais mostram que o fosso entre pobres e ricos na China se alarga cada vez mais. Um centro de pesquisa sobre economia familiar financiado pelo Governo de Pequim considerava, em Dezembro, a China como um dos 15 países mais desiguais do mundo.

11.2.13

China tornou-se no maior pólo comercial do mundo em 2012

in Jornal de Notícias

A China tornou-se no maior pólo comercial do mundo em 2012, com o peso da sua balança comercial a ultrapassar o dos Estados Unidos, segundo os mais recentes dados oficiais dos dois países.

O Departamento de Comércio norte-americano revelou na sexta-feira que a balança comercial do país, a soma de importações e exportações, totalizou 3,82 biliões de dólares (2,86 biliões de euros), poucas semanas depois de as alfândegas chinesas terem anunciado uma subida da sua balança para 3,87 biliões de dólares (2,9 biliões de euros).

Enquanto a balança comercial chinesa é excedentária em 231,1 mil milhões de dólares, a norte-americana é deficitária em 727,9 mil milhões de dólares.

A China era o maior exportador mundial desde 2009, com os Estados Unidos a reterem o "título" de maior mercado importador.

Para o economista Jim O"Neill, da Goldman Sachs, a emergência da China entre os principais blocos comerciais dá-lhe uma influência crescente, tornando-se mesmo no principal parceiro comercial de países como a Alemanha ou o Brasil.

"Para muitos países em todo o mundo, a China está rapidamente a tornar-se no mais importante parceiro de comércio bilateral. (...) A este ritmo, no final da década muitos países europeus vão estar a fazer mais trocas individuais com a China do que com parceiros bilaterais europeus", disse à agência Bloomberg.

Segundo dados divulgados na semana passada pelas autoridades chinesas, as exportações aumentaram 25% em janeiro, face ao período homólogo, enquanto as importações subiram 28,8%.

Ainda assim, a economia norte-americana continua a ter uma dimensão muito superior à chinesa, mais do dobro (15 biliões de dólares face a 7,3 biliões).

O crescimento económico chinês tem sido mais forte, atingindo uma média de 9,9% entre 1978 e 2012.

16.4.12

Compras da China a Portugal aumentam 69% para 170 milhões de euros

in Jornal de Notícias

A China comprou a Portugal produtos no valor de 221 milhões de dólares (170 milhões de euros) nos dois primeiros meses do ano, mais 69,1% do que o apurado no período homólogo de 2011.

Já para Portugal, o terceiro parceiro comercial da China no universo lusófono, seguiram mercadorias chinesas no valor de 345 milhões de dólares (265 milhões de euros) - menos 25% relativamente ao cômputo de janeiro e fevereiro de 2011.

Não obstante a subida das compras chinesas a Portugal, as trocas comerciais luso-chinesas sofreram um recuo de 4,2% ao somar 566 milhões de dólares (435 milhões de euros) nos primeiros dois meses de 2012, indicam dados divulgados pelo Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau.

As trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa atingiram, nos primeiros dois meses do ano, 17,5 mil milhões de dólares norte-americanos (13,4 mil milhões de euros), valor que traduz um aumento de 17% face ao período homólogo de 2011.

Isto apesar de, em fevereiro, o comércio sino-lusófono ter caído 11% para os 8,2 mil milhões de dólares (6,3 mil milhões de euros) face ao mês anterior devido sobretudo à quebra na ordem dos 38% das exportações da China para os países lusófonos que totalizaram 1,9 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros).

O volume das compras chinesas, em fevereiro, foi de 6,2 mil milhões de dólares (4,8 mil milhões de euros), mais 3% do que em janeiro.

A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa no ano de 2003, altura em que criou o fórum que reúne ao nível ministerial de três em três anos.

10.4.12

Trabalhadores chineses estão dispostos a trabalhar dia e noite

in Jornal de Notícias

A economia chinesa cresceu em média 9,9% ao ano ao longo das últimas três décadas

Os trabalhadores chineses têm menos de metade das férias dos congéneres europeus e "estão dispostos a trabalhar dia e noite", realçou, esta terça-feira, um alto funcionário chinês a propósito do progresso alcançado pela China nas últimas três décadas.

"A China não podia desenvolver-se isolada do mundo, e nunca esqueceremos o duradouro apoio da comunidade internacional. Mas o seu desenvolvimento deve ser atribuído, em primeiro lugar, ao árduo trabalho do povo chinês, que é bem conhecido pelo seu empenho, dedicação e vontade de trabalhar além do horário", disse Le Yucheng, ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros da China.

Numa exposição sobre a política externa chinesa, feita perante diplomatas de dezenas de países, Li Yucheng referiu que "os trabalhadores chineses têm apenas 5 a 15 dias de férias pagas por ano, o que é menos de metade do que nos países europeus".

Foi uma das raras referências à Europa numa exposição de cerca de uma hora, dominada pelas relações sino-norte-americanas, que Li Yucheng considerou "uma das mais importantes do mundo e também a mais complexa".

Em muitas fábricas chinesas, o horário de trabalho excede por vezes as dez horas por dia, seis dias por semana, e o próprio salário mínimo, cujo valor varia de região para região, só foi introduzido na década de 1990.

O salário mínimo mais elevado do país - 1500 yuan (180 euros) por mês - é o que foi instituído este ano em Shenzhen, uma zona económica especial adjacente a Hong Kong.

A economia chinesa cresceu em média 9,9% ao ano ao longo das últimas três décadas, sendo atualmente a segunda maior do mundo, a seguir aos Estados Unidos.

Contudo, a China "ainda é um país em crescimento" e "com um desenvolvimento desequilibrado", salientou Li Yucheng.

Em 2011, o Produto Interno Bruto chinês cresceu 9,2%, mas, dividido pela população do país (cerca de 1350 milhões de habitantes), o valor per capita não chegou a 6000 dólares (4586 euros) - menos de um terço de Portugal.