11.5.23

Campanha alerta para riscos cardiovasculares. 74% desconhecem níveis de colesterol

Ana Maia, in Público online

Fundação Portuguesa de Cardiologia alerta para a necessidade de controlo dos níveis de colesterol. Doenças cardiovasculares são “responsáveis por cerca de um terço do total das mortes”.

É o mote da campanha deste ano da Fundação Portuguesa de Cardiologia para assinalar o mês dedicado ao coração: sensibilizar para o controlo do colesterol, factor de risco para as doenças cardiovasculares. Um risco “invisível”, alerta o presidente da Fundação, já que “as pessoas podem ter valores altos, mas como são assintomáticas, não sabem”. E o desconhecimento é elevado, com 74 % dos portugueses a referirem desconhecer os seus níveis de colesterol, segundo um estudo que vai ser apresentado esta quinta-feira.

A campanha Maio, Mês do Coração vai ser apresentada esta quinta-feira, de manhã, na Câmara Municipal de Lisboa e o mote é a necessidade de controlo do colesterol. “O colesterol LDL (colesterol mau) é mais do que um factor de risco para as doenças cardiovasculares. Não há aterosclerose sem colesterol, que é uma causa directa de enfartes agudos do miocárdio e de AVC [acidente vascular cerebral]”, aponta. Os dois problemas “são causados por placas ateroscleróticas, que é uma acumulação de colesterol nas paredes das artérias”, explica Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

O médico salienta que “as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de um terço do total das mortes”, que, “em média, morrem cerca de 80 pessoas por dia devido a doença cardiovascular” e que “só o enfarte do miocárdio mata, em média, mais de 12 pessoas por dia”. Deixa uma outra nota importante, que mostra a importância da prevenção: “Oito em cada dez óbitos de causa cardiovascular que ocorrem precocemente podem ser evitados com um estilo de vida saudável e com controlo de factores de risco.”

Para os controlar é preciso conhecê-los. Mas uma das conclusões do estudo Os Portugueses e o Colesterol 2023, realizado pela GFK Metris, em parceria com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, é que “74 % dos portugueses, isto é 3 em cada 4, assumem que não sabem qual o seu valor de colesterol”. Um desconhecimento, referem ainda as conclusões, “que é muito expressivo entre os jovens e diminui com a idade”. Segundo os resultados apurados, 88% dos inquiridos entre os 18 e os 24 anos disse desconhecer o valor do seu colesterol, entre os 25-44 anos 86%, entre os 45-66 anos 66% e nos 65 e mais anos 69%.

A amostra foi constituída por 800 indivíduos, com idade igual ou superior a 18 anos e residentes em Portugal continental. Os respondentes foram seleccionados através do método de quotas e a informação foi recolhida através de entrevistas, que se realizaram em Abril deste ano.
Medicação necessária

Afirmando que “uma campanha sobre o colesterol é essencial”, Manuel Carregeta adianta que o objectivo não é acabar com o colesterol - “é uma gordura que faz falta para a produção de hormonas, mas que precisamos de muito pouca”, mas garantir que este apresenta níveis considerados normais. Tendo em conta a nossa alimentação, normal será ter um valor de colesterol total abaixo de 190 mg/dL. No caso de já existirem placas ateroscleróticas, para que exista regressão, o valor de colesterol LDL deve estar abaixo de 55mg/dL.

Apesar de 89% afirmarem que o colesterol é uma gordura que circula no corpo e destacarem o AVC e as doenças/complicações cardiovasculares entre as doenças provocadas pelo colesterol, só 64% dos respondentes do estudo afirmaram que um valor normal de colesterol é inferior a 190 mg/dL. Foram dadas também frases para inquiridos identificarem como verdadeiras ou falsas.

“A quase totalidade rejeita a ideia de que 'A prática regular do exercício físico não traz vantagens para quem tem o colesterol elevado' ou que 'Os magros não têm que se preocupar com o colesterol Isso é um problema dos gordos'”, lê-se nas conclusões. Mas “33% consideram falso que alguns suplementos alimentares fazem melhor ao colesterol do que as estatinas que os médicos receitam”.

“A nossa realidade é chocante. Um doente que teve um enfarte, em princípio, tem de tomar quatro medicamentos diferentes e um deles é estatina. O doente vai à consulta, perguntamos o que está a tomar e é frequente dizerem que não estão a tomar a estatina. É uma luta constante para que os doentes mantenham esta terapêutica essencial”, refere o médico, lembrando que um “estudo recente mostrou que cerca de 90% dos doentes com colesterol considerado de risco elevado e muito elevado não estavam controlados e que cerca de 20% dos doentes de muito alto risco não estavam a fazer medicação”.

Manuel Carrageta recorda um outro estudo da fundação que revelou que durante a pandemia "metade dos doentes cardiovasculares tiveram mais medo do vírus do que da doença" e "não procuraram os cuidados de saúde". "As pessoas passaram a ser menos bem controladas", diz, referindo que actualmente quer a procura de cuidados por parte dos doentes como a resposta dos serviços estão a recuperar para níveis anteriores.