15.6.23

BCE volta a subir os juros, mas mantém ritmo mais moderado de 25 pontos-base

Sónia M. Lourenço, in Expresso


O Banco Central Europeu decidiu esta quinta-feira voltar a subir os juros, mas manteve o ritmo mais contido da última reunião, com um aumento de apenas 25 pontos-base. A taxa diretora subiu para 4% e a taxa de remuneração dos depósitos para 3,5%

Tal como era antecipado pelos mercados financeiros, o Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira voltar a subir os juros, mas manteve o ritmo mais moderado, com um aumento de apenas 25 pontos-base. Com esta decisão, a taxa diretora do BCE subiu para 4% e a taxa de remuneração dos depósitos para 3,5%.

O BCE não seguiu, assim, o exemplo da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), que esta quarta-feira optou por fazer uma pausa na subida dos juros. Ainda assim, mantém a opção de maior contenção nos aumentos, adotada na última reunião do Conselho da instituição, realizada no início de maio.

A subida decidida esta quinta-feira é a oitava do banco central dirigido por Christine Lagarde, que passa a acumular um aumento de 400 pontos-base. O BCE iniciou o ciclo de aumento da taxa diretora em julho do ano passado, oito meses depois do Banco de Inglaterra e meio ano após a norte-americana Fed, o que foi considerado por muitos analistas como um erro de política monetária.

E os aumentos podem não ficar por aqui. No comunicado publicado esta quinta-feira, a instituição destaca que “a inflação tem vindo a descer, mas as projeções indicam que permanecerá demasiado elevada durante demasiado tempo”.

Aliás, o BCE divulgou também novas projeções económicas, revendo em alta os números esperados para a inflação subjacente. Este indicador que exclui os produtos energéticos e alimentares - com preços mais voláteis - é uma das principais referências para a política monetária de Frankfurt e de outros bancos centrais.

As novas projeções - cuja maior revisão em alta incidiu sobre 2023 e 2024 - indicam que a inflação subjacente deverá situar‑se, em média, em 5,1% em 2023, nos 3% em 2024 e nos 2,3% em 2025. Tudo valores acima da fasquia dos 2% que é a referência para o BCE, que tem a estabilidade dos preços inscrita no seu mandato.

“Os indicadores das pressões subjacentes sobre os preços permanecem fortes, embora alguns evidenciem sinais preliminares de abrandamento”, escreve o BCE. E explica que a revisão em alta ficou a dever-se “a anteriores surpresas em sentido ascendente e às implicações da robustez do mercado de trabalho para o ritmo de desinflação”.

Quanto à inflação total, as previsões são agora de uma descida para 5,4% este ano, recuando depois para 3% em 2024 e para 2,2% em 2025.

Ao mesmo tempo, os especialistas do Eurosistema reduziram ligeiramente as suas projeções para o crescimento económico da zona euro em 2023 e 2024, apontando agora para 0,9% em 2023, 1,5% em 2024 e 1,6% em 2025.

O BCE reconhece, contudo, que os anteriores aumentos das taxas de juro “estão a repercutir‑se de forma vigorosa nas condições de financiamento e estão gradualmente a ter impacto no conjunto da economia”.

Sinal disso, “os custos do endividamento subiram de forma acentuada e o crescimento dos empréstimos está a abrandar”, lê-se no comunicado. Evolução que deverá ajudar a inflação a descer ainda mais.

Sobre as suas próximas decisões, o BCE assegura que “assegurarão que as taxas de juro diretoras do BCE sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos para lograr um retorno atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2% e sejam mantidas nesses níveis enquanto for necessário”.

Para isso, “o Conselho do BCE continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados na determinação do nível e duração adequados da restritividade. Mais especificamente, as suas decisões sobre as taxas de juro continuarão a basear‑se na sua avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, lê-se no comunicado.

O BCE confirma ainda que “descontinuará os reinvestimentos ao abrigo do programa de compra de ativos (asset purchase programme – APP) a partir de julho de 2023”.