28.6.23

Há mais mulheres e crianças na situação de sem-abrigo

Diana Morais Ferreira, in JN

O perfil das pessoas em situação de sem-abrigo está a mudar: há mais mulheres, mais casais e mais crianças na rua, além de imigrantes que têm dificuldade em aceder a apoios. A classe média baixa tem sido afetada pela crise, levando a que muitas pessoas não consigam pagar todas as despesas e percam a habitação.

"Toda e qualquer pessoa que esteja sem teto é uma pessoa em situação de sem-abrigo", afirma Henrique Joaquim, coordenador da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), que participou esta terça-feira num seminário em Gondomar.

Embora admita que o número de pessoas em situação de sem-abrigo está a crescer em Portugal, Henrique Joaquim garante que este crescimento também se deve ao facto de as instituições estarem mais atentas e a abranger pessoas que até aqui não incluíam nos levantamentos que fazem da situação. "Estamos efetivamente a olhar melhor", assume.

Na apresentação do trabalho realizado no âmbito do projeto “Acolher, Proteger, Incluir", da Câmara Municipal de Gondomar, esta terça-feira, no pavilhão multiusos da cidade, foram vários os pontos debatidos no que toca à situação de pessoas em situação de sem-abrigo.
 
Seminário: "Acolher, Proteger e Incluir - Pessoas em Situação de Sem Abrigo"

Há mais mulheres, mais casais e mais casais com filhos a viverem na rua. Segundo Maria José Vicente, da Rede Europeia Anti Pobreza, apesar de a maioria das pessoas em situação de sem-abrigo ser do sexo masculino, tem-se verificado, tanto a nível nacional como europeu, uma maior visibilidade de mulheres.

Além disto, explica que há cada vez mais casais e pessoas com crianças nesta situação e alerta para a falta de respostas para esta população. "Muitas vezes os maridos são colocados numa resposta e as mulheres noutra. E isto leva a que, passados uns dias, voltem à rua porque não existem respostas adequadas a estas situações", afirma.

Classe média baixa

O perfil da pessoa sem-abrigo tem mudado ao longo dos últimos tempos, tendo a classe média baixa ganho algum destaque. Segundo os vários oradores, há muitas pessoas que não estão a conseguir pagar rendas e créditos à habitação. No fundo, que não estão a conseguir fazer face a todas as despesas, o que leva a que, muitas vezes, percam a habitação e acabem a viver na rua.

No entanto, a maioria destas pessoas consegue reintegrar-se com facilidade porque têm mais competências, explica Emília Monteiro, do Centro Distrital da Segurança Social do Porto.

"Estamos perante um conjunto de situações que vêm agravar o panorama. Tivemos a pandemia de covid, em que muitas pessoas ficaram em situação de desemprego, depois tivemos o problema da inflação. O custo dos produtos, dos bens alimentares, das rendas de casa, o aumento das taxas de juros, tudo isto contribui para que haja um panorama em que as famílias têm muita dificuldade em suportar os custos básicos de vida", garante Sara Valente, diretora geral da Cruz Vermelha Portuguesa.

Apostar na prevenção

"Acho que temos que apostar na prevenção: mapear, conhecer bem os territórios e detetar as situações antes de elas acontecerem. Acho que a prevenção é a maior arma que podemos ter para melhorar estas situações", afirma a diretora geral da Cruz Vermelha Portuguesa.

A prevenção é um dos principais objetivos das instituições, uma vez que quanto mais rápido as situações forem identificadas, mais fácil é ajudar a pessoa em situação de sem-abrigo. "Quanto mais tempo a pessoa passa na rua, mais difícil é reverter a situação", alerta Henrique Joaquim.

Para o coordenador da ENIPSSA é "fundamental que a abordagem seja integral e cada vez mais centrada na pessoa" e que cada pessoa em situação de sem-abrigo tenha um técnico responsável pelo seu processo.

Quanto às respostas sociais, a Segurança Social reconhece que nem sempre são suficientes. Segundo Emília Monteiro, do Centro Distrital da Segurança Social do Porto, há muita dificuldade em reintegrar as pessoas em habitações individuais e coletivas. Por muito que consigam acompanhar e abrigá-los em albergues ou abrigos temporários, depois não conseguem reencaminhar as pessoas para outras habitações.