14.7.23

Alunos mais pobres têm piores resultados em Lisboa e no Sul do país

Samuel Silva, in Público online

Estudo do Edulog mostra “padrão muito bem definido” na diferença de desempenho escolar entre o Norte e o Sul do país. Regiões mais industrializadas parecem ter vantagens.

Os alunos de contextos socioeconómicos desfavoráveis têm mais dificuldades em conseguir bons resultados académicos se viverem na Área Metropolitana de Lisboa ou no Sul do país. Um estudo do think tank Edulog, que é divulgado nesta sexta-feira, mostra um “padrão muito bem definido” em termos regionais, com os desempenhos escolares a serem mais positivos no Norte e no Centro. As regiões mais industrializadas parecem ter vantagens, ao contrário das áreas de maior densidade populacional, mostra a mesma investigação.

É a primeira vez que um estudo como este é feito em Portugal. Trabalhos semelhantes noutros países faziam antecipar que fossem encontradas diferenças nos resultados entre os vários concelhos, mas “em vez de uma mancha aleatória”, os investigadores encontraram “um padrão muito bem definido”, define Luís Catela Nunes, que coordenou este trabalho. Da Desigualdade Social à Desigualdade Escolar nos Municípios de Portugal é publicado pelo think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, fruto de uma parceria com a Nova School of Business and Economics (SBE).

As diferenças entre o Norte e o Sul do país são notórias. “Os municípios em que os alunos de estatuto socioeconómico baixo conseguem atingir melhores resultados situam-se maioritariamente no Norte e no Centro do país”, apontam as conclusões publicadas nesta sexta-feira.

“Já nos municípios na Área Metropolitana de Lisboa e a sul do Tejo, o desempenho dos alunos de estatuto socioeconómico baixo tende a ser mais baixo”, notam também os investigadores, no mesmo documento. O padrão de resultados é “similar” para qualquer uma das medidas de desempenho consideradas, quer seja de percurso escolar ou de classificações em exames nacionais.

O estudo apresenta vários indicadores, mas centra a sua análise num instrumento que mede a percentagem de alunos que tiveram nota positiva (igual ou superior a 3 valores, numa escala até 5) nas provas nacionais do ensino básico entre os que têm nível socioeconómico mais baixo — é considerado o percentil 25 da distribuição nacional, que corresponde a estudantes cujos pais tenham apenas o 2.º ciclo do ensino básico e não estejam desempregados e que sejam beneficiários do escalão B da Associação Social Escolar (ASE).

Olhemos para resultados do exame de Matemática do 9.º ano, em que a percentagem de alunos desfavorecidos com nota positiva varia entre 8,1%, em Fronteira, no distrito de Portalegre, e 64,8% em Fornos de Algodres (distrito da Guarda). Os concelhos do Porto e de Lisboa têm indicadores semelhantes – 29,1% e 28,4%, respectivamente.

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As conclusões desta investigação foram apresentadas nesta quinta-feira em primeira mão aos deputados da Assembleia da República. Luís Catela Nunes considera que os resultados agora conhecidos evidenciam que as políticas para combater as desigualdades em contexto educativo, como o programa TEIP — Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, “têm de ser ajustadas aos contextos” regionais para terem melhores resultados.

Os resultados do estudo não se destinam apenas aos decisores políticos. Os dados “podem ser usados por toda a gente”, sublinha o coordenador. Os indicadores recolhidos e analisados para este trabalho podem ser consultados no portal Edustat. O objectivo, afirma Luís Catela Nunes, é “dar, a quem a quiser, informação para que possam contar as suas próprias histórias”.

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