Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
A maioria dos portugueses relaciona crimes ou comportamentos que são moralmente reprováveis com os imigrantes. São 70% os que associam as cidadãs brasileiras à prostituição, 65% fazem- -no entre os africanos e a violência e 52% liga os cidadãos do Leste da Europa a práticas criminosas. Uma percepção que não resulta de uma vivência com estas minorias, mas do que é transmitido pelos media.
Um estudo feito no ano passado por Mário Lajes, com dados relativos a 2002-04, para o Observatório da Imigração, foi divulgado por Luís Pascoal, do Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, em Lisboa, numa sessão do Fórum Educação para a Cidadania. E no Porto, pelo dirigente do ACIME, Rui Marques.
Na Fundação Gulbenkian discutiram-se o impacto e as formas mais usuais de discriminação em Portugal e na União Europeia, motivadas pela idade, a origem étnica, a deficiência, o género e a orientação sexual, esta última a que mais se sente em Portugal. Ao ponto de Elza Pais, coordenadora do Estrutura de Missão para o Ano Europeu para a Igualdade de Oportunidades para Todos, ter dito que, muitas vezes, os políticos discursam sobre todas as outras formas, mas "a língua enrola-se" quando falam sobre a homossexualidade. Por tabu ou receio de lhe serem associados.
Orador convidado para falar sobre este tema, Miguel Vale de Almeida referiu que a orientação sexual não pode ser dissociada da questão de género e que mais do que os acontecimentos homofóbicos, é preciso combater o que está na sua origem.
O docente identificou quatro tipos de homofobia a que existe nas leis, nas instituições - por exemplo, na forma diferenciada com que as forças de segurança ou a escola trata quem não é heterossexual -, nas relações interpessoais, de confronto, e a mais grave a homofobia interiorizada.
Vale de Almeida apontou que esta discriminação é complexa, devido à invisibilidade. Não há sinais exteriores de identificação e são ignorados, como se não existissem. Motivo pelo qual é necessário dar a conhecer as vivências destes grupos para que se entenda não haver razão para discriminações.
Sobre o abandono a que são votados os mais velhos falou Ana Alexandra Fernandes. Vive-se agora até aos 80 anos e não faz sentido forçar alguém válido a uma aposentação compulsiva na docência, por exemplo. Mas será injusto obrigar quem trabalha em funções desgastantes a estar no activo até aos 65 anos, advogou.
A segregação faz-se sentir, sobretudo, no mercado de trabalho, mas também no rótulo de idosos.
Todos os intervenientes concordaram que a discriminação é agravada quando se cruzam estigmas impostos pela sociedade se é mulher e negra, imigrante e homossexual, velho e deficiente, por exemplo.
Pessoas com deficiência analfabetas são 37%
Segundo o Census de 2001, 37% dos portugueses com deficiência eraa analfabetos. Uma taxa que é o dobro da população em geral. E só 29% tinham uma actividade económica, ou seja, trabalhavam.
Ciganos são vítimas a seguir a homossexuais
Luís Pascoal, do ACIME, frisou ontem que, em Portugal, o grupo mais discriminado a seguir aos homossexuais (lésbicas e gays) são os ciganos, apesar de 500 anos de convivência com estes portugueses.
Criar escolas inclusivas
Na telenovela "Páginas de vida" da SIC, a mãe de uma menina com trissoma XXI debate-se contra a escola onde a filha estuda e que a discrimina por ela ser portadora de dedficiência. Para a professora, Clara não é capaz de fazer o mesmo que os outros meninos e por isso, a docente não lhe dá os mesmos exercícios.
Esta problemática foi ontem abordada por Jerónimo de Sousa, no Fórum Educação para a Cidadania, na Fundação Gulbenkian, para pedir "uma escola inclusiva e não subtrativa".
A solução "não é reduzir as exigências e os curricula dos jovens portadores de deficiência", reclamou. "É haver uma escola para todos, com apoio personalizado. A mesma estratégia com uma perspectiva pedagógica diferenciada", disse.
Para Jerónimo de Sousa, os portugueses ainda ignoram os problemas das pessoas com deficiência, "apesar de ser uma situação que pode acontecer a todos, quando se tem um ACV ou um acidente", lembrou o moderador e administrador da Fundação, Marçal Grilo.
O representante dos direitos das pessoas com deficiência realçou também a importância do Governo criar uma lei que permita a estes cidadãos estudarem até ao 12.º ano ou até aos 18 anos, ajudando-os na transição para a vida activa.