Nas sociedades europeias, face à pobreza, acontecem efeitos simultâneos. Há os dispositivos públicos, das igrejas e de outras instituições, que procuram a sua erradicação através de programas educativos, formação, incentivos ao emprego, apoio à habitação, suporte alimentar, RSI, etc.; há os programas de emergência social; há as atitudes cidadãs face à pobreza.
1. A erradicação da pobreza -- A pobreza, a carência de acesso a recursos básicos, é, infelizmente, um problema que acompanha a história da Humanidade. Há exemplos comunitários e de distribuição equitativa, desde a Pré-História e nas mais diversas localizações geográficas, que nos deviam inspirar hoje. A verdade é que vivemos graus elevados de desigualdade, embora as condições de acesso à proteção social na Europa sejam, em geral, melhores do que na maior parte do mundo. Os modelos atuais que pretendem erradicar a pobreza demonstram capacidade de contenção relativa do fenómeno, mas não efetivam, tendencialmente, a sua erradicação. Situações recentes de contexto - crise económica, guerra, aumento da inflação - têm propiciado o aumento das carências.
2. Os programas de emergência social -- Estes programas têm sido essenciais para responder, no curto prazo, a situações de habitação, acesso a bens alimentares, vestuário, medicamentos ou situações similares, originadas por desemprego, aumento de custos de bens essenciais, reformas insuficientes, remunerações de trabalho abaixo do limiar das necessidades básicas ou, de forma evidente nos últimos anos, a fuga de cenários de guerra, refugiados e migrações, legais e ilegais. Infelizmente, amiúde, situações de emergência social tendem a prolongar-se e medidas que deviam ser emergenciais tornam-se assistenciais no médio prazo. Cessando, colocam muitas vezes os beneficiários, de novo, num ciclo de limitações e dificuldades.
3. As atitudes cidadãs -- Há um número pequeno de cidadãos que, confrontado com fenómenos de pobreza, se mobiliza e procura contribuir, na medida das suas possibilidades, para melhorar a vida dos que sofrem desta circunstância, notando que, mais do que pobres, o que há é pobreza. Esta não é a atitude da maioria. A maioria que não pode ser categorizada toda da mesma maneira. Para lá dos indiferentes, há os que consideram que, com a carga fiscal que pagam, já entregam ao Estado o suficiente para que este se ocupe do assunto e que mais não têm de se preocupar; há quem considere que um pobre é, essencialmente, um mandrião - é pobre por não trabalhar o suficiente, por não se fazer à vida; há os que têm horror aos pobres, pois a sua visão confronta-os com realidades que querem ignorar, e procuram, por isso, afastar-se o mais possível; há quem os associe a grupos que criticam e que, por vezes, mais ou menos abertamente, detestam: refugiados, imigrantes, ciganos, nomeadamente.
O que provoca na Europa a execração do fenómeno da pobreza? Países como a Hungria, a Polónia, a Roménia e outros próximos da Ucrânia são destino de milhões de deslocados da guerra com a Rússia. Países como a Grécia, Itália e outros da região mediterrânica têm recebido vagas sucessivas de norte-africanos, fugindo da guerra e/ou da falta de recursos, ou, simplesmente, procurando uma vida melhor.
Há pouco tempo, na Grécia, assisti ao desespero de crianças a procurar vender na rua pensos e pechisbeques, sendo ignoradas por toda as pessoas a quem se dirigiam. Podia ser um dos nossos filhos ou netos, podia ser em muitos outros lugares... Será que são exploradas por uma rede de tráfico?; são filhos de famílias pobres à procura de sobreviver naquele dia com uma refeição?; ao fim da tarde vão bater-lhes por não trazerem o suficiente? Qual o seu futuro imediato? Qual o seu futuro? Estas situações multiplicam-se. Agravam-se. O seu agravamento pode tornar o desespero revolta, e a revolta violência. Esta pode manifestar-se por atos isolados, por adesão a causas radicais. Se, por um lado, precisamos de proteger o que Ursula von der Leyen chamou "o modo de vida europeu", por outro essa proteção implica transformar o incómodo cidadão face à pobreza em proatividade e promover ações sistémicas no quadro internacional que estabilizem as condições de vida em países hoje em ruína. Se assim não for, entre a miragem de fazer parte do "modo de vida europeu" e a pressão dos contextos atuais, todos ficaremos a perder.
Há pouco tempo, na Grécia, assisti ao desespero de crianças a procurar vender na rua pensos e pechisbeques, sendo ignoradas por toda as pessoas a quem se dirigiam. Podia ser um dos nossos filhos ou netos, podia ser em muitos outros lugares... Será que são exploradas por uma rede de tráfico?; são filhos de famílias pobres à procura de sobreviver naquele dia com uma refeição?; ao fim da tarde vão bater-lhes por não trazerem o suficiente? Qual o seu futuro imediato? Qual o seu futuro? Estas situações multiplicam-se. Agravam-se. O seu agravamento pode tornar o desespero revolta, e a revolta violência. Esta pode manifestar-se por atos isolados, por adesão a causas radicais. Se, por um lado, precisamos de proteger o que Ursula von der Leyen chamou "o modo de vida europeu", por outro essa proteção implica transformar o incómodo cidadão face à pobreza em proatividade e promover ações sistémicas no quadro internacional que estabilizem as condições de vida em países hoje em ruína. Se assim não for, entre a miragem de fazer parte do "modo de vida europeu" e a pressão dos contextos atuais, todos ficaremos a perder.