2.7.10

Como criar futuros empreendedores?

por Diogo Lopes Pereira, in Diário de Notícias

E se conseguíssemos educar os nossos filhos a serem empreendedores? Se o conseguirmos, Portugal será melhor daqui a 20 ou 30 anos.

Portugal tem futuro. Portugal tem futuro se conseguirmos educar os nossos filhos a serem empreendedores. Portugal tem futuro se conseguirmos fazer que eles não queiram ser funcionários públicos, nem viver à conta dos subsídios, nem sequer tolerem ser trabalhadores por conta de outrem. Portugal só terá futuro se conseguirmos incutir nos nossos filhos a ambição de quererem ser empreendedores.

Só podemos formar futuros empreendedores se lhes despertarmos o interesse em serem donos do seu próprio destino, de lhes darmos oportunidades para arriscarem, falharem e voltarem a tentar.

Um dos principais problemas que afectam a maioria dos portugueses é a iliteracia financeira. Isto pode ser facilmente corrigido se ajudarmos os nossos filhos a gerir o seu dinheiro. Basta que a partir dos 6 anos, com a entrada no primeiro ano, comecemos a pagar- -lhes uma semanada simbólica, os estimulemos a poupar e a gerir o seu dinheiro.

Mas é extremamente importante que ensinemos às crianças que o dinheiro não aparece miraculosamente na caixa multibanco. Que tirando as pessoas que vivem de subsídios, todas as outras têm de trabalhar. E tirando a função pública, salvo honrosas excepções, todas as pessoas têm de trabalhar e acrescentar mais valor do que aquele que recebem de ordenado, o que implica esforço, dedicação e sacrifício.

Mas é também importante que o valor da semanada seja suficientemente baixo para que possamos estimular as nossas crianças a quererem ganhar mais com o seu esforço. É necessário incentivá-las a prestarem pequenos serviços em casa, como por exemplo arrumar a loiça na máquina, colocar o lixo à porta ou fazer babysitting, para que possam ganhar mais e perceber que o dinheiro custa a ganhar. Isto vai fazer que elas estejam mais atentas ao que podem fazer para ajudar em casa, ou seja, a descobrirem oportunidades de negócio. Dar incentivos monetários em função das notas académicas é também uma boa forma de ligar o esforço ao dinheiro.

É indispensável ajudá-las a perceber que não podem ter tudo o que querem e que têm de fazer opções. Que, por exemplo, se quiserem fazer a colecção de cromos do Mundial que possui 637 cromos - cada carteira com 6 custa 50 cêntimos e, para completar a colecção, vão certamente comprar muitos repetidos - terão de abdicar de cerca de 100 euros, que poderiam ser torrados noutra coisa qualquer ou poupados. Infelizmente, tenho de confessar que não fui muito bem-sucedido neste processo de negociação com o meu filho de 7 anos.

A negociação também é uma característica muito importante a ensinar a um futuro empreendedor. Sejam as colheres de sopa que eles têm de comer, seja fazer os trabalhos de casa antes de ver televisão, devemos aproveitar todas as oportunidades para os ensinar a negociar.

Outra actividade que deve ser estimulada é a capacidade de falar em público e saber vender. É nosso dever ensinar os nossos filhos a contarem histórias, que vender é uma arte e que se deve dar aos clientes aquilo de que necessitam (ou às vezes nem tanto - o meu filho descobriu que os bonecos desenhados por ele possuem um valor artístico extremamente elevado para as avós).

Finalmente, é fundamental ensinar aos nossos filhos a importância de investir e arriscar. Seria extremamente interessante se conseguíssemos ajudar os nossos filhos a poupar todos os anos e a investir esse dinheiro, de preferência em acções, o que estimularia neles a vontade de poupar mais e de aprender mais sobre economia, sobre risco e retorno, sobre as empresas e os seus negócios.

E não esquecendo de os deixarmos sonhar. Se o fizermos, Portugal tem futuro.