2.12.10

Associação de apoio a sem abrigo despejada pela câmara no final do ano

in Destak

Uma associação de apoio a pessoas sem abrigo vai ser despejada no final do ano das instalações onde fornece cerca de 80 refeições por dia, mas a autarquia diz que “nem todos precisam” e promete responder às situações de carência.

“Podemos ficar aqui até 31 de dezembro e depois não sabemos o que irá acontecer” disse à Lusa Joaquim Sá, responsável pela Associação De Volta a Casa que diariamente fornece almoço e jantar a cerca de 40 pessoas carênciadas.

A associação funciona desde 2003 em instalações cedidas pela câmara das Caldas da Rainha mas recebeu ordem de despejo por, segundo a vereadora da acção social, Conceição Pereira, “não ter órgãos sociais” e estar “a funcionar em condições de higiene pouco recomendáveis”.

Questionada pelo Bloco de Esquerda (BE), a vereadora explicou na última assembleia Municipal (AM) que o projecto “tem sofrido várias vicissitudes” e foi nos últimos anos alvo de várias participações à PSP por “conflitos e desacatos” junto às instalações.

Apesar das queixas, “a câmara tentou arranjar parcerias com outras associações” para manter aberta a Volta a Casa, mas “o responsável [Joaquim Sá] recusou e não temos condições de continuar a apoiar uma associação sem órgãos sociais e onde se passam situações muito graves que nos são relatadas”, explicou a autarca.

No entanto, Joaquim Sá admite a inexistência de direcção, mas refuta a falta de condições: “Temos um espaço no primeiro andar onde chove e precisamos de obras no telhado, que a câmara nunca apoiou, mas temos feito obras com a ajuda de empresas que nos fornecem materiais e os próprios utentes dão o trabalho”.

No espaço onde, além das refeições, alguns utentes usufruem de banho e lavagem de roupas, não existem balneários e a casa de banho utilizada “é a dos voluntários, que também precisa de obras”, reconhece.

Porém, a falta de condições não incomoda os utentes, mais preocupados com a falta alternativa para assegurar as refeições.

Raul Jorge, de 50 anos e desempregado, é desde agosto ‘cliente’ assíduo do almoço. Com uma pensão de invalidez de 275 euros e a pagar 200 de renda, “depois de pagar água e luz não sobra para comer” disse à Lusa, admitindo “voltar para Torres Novas, para casa de familiares”, se o encerramento se concretizar.

“Se fechar, ou passamos fome ou vamos roubar” afirma Guilherme Filipe, de 64 anos, a viver de uma reforma de 200 euros e pagar 150 de renda.

Entre frequentadores há desde jovens de 18 anos a idosos com mais de 70, na sua maioria desempregados e, entre eles, alguns com problemas de alcoolismo e toxicodependência.

“A seriação dos utentes não são viáveis” afirma Joaquim Sá que recusou parcerias com associações ligadas à autarquia por considerar que “iam seleccionar quem teria ou não direito e afastar as pessoas tentando encaminhá-las para tratamentos”.

A associação que vive “da solidariedade e para a solidariedade” tem previsto para dia 18 a Festa de Natal e, se não for disponibilizado um espaço alternativo, a 31 de dezembro servirá a última refeição.

Conceição Pereira garantiu na AM que “as situações de carência serão acompanhadas” mas considera que entre os 40 utentes “nem toda a gente precisa”.