15.12.10

Lopes e Nobre disputam contacto com a pobreza

Ana Paula Correia, in Jornal de Notícias

Primeiro debate entre os cadidatos a Belém realizou-se ontem na RTP

No primeiro de uma dezena de debates televisivos entre os canditado a Belém, Francisco Lopes assumiu-se contra o poder instalado e Fernando Nobre fez um discuso antipartidos. Ambos tentaram medir qual dos dois tem maior conhecimento da pobreza.

Francisco Lopes, o primeiro a usar da palavra, marcou o tom ao afirmar que foi o único a contestar o conteúdo do Orçamento do Estado, "apadrinhado" por Cavaco Silva. A reacção de Fernando Nobre foi imediata e acusou o adversário de ter dito "uma inverdade para não dizer uma mentira". Garantiu que se manifestou contra o OE, mas o comunista voltou a reforçar a ideia de que Nobre considerou o OE "o possível".

A partir daí, o diálogo tornou-se crispado, com o médico a contestar o actual sistema partidário. Depois de ter proposto a redução do número de deputados, Nobre assumiu uma atitude anti-partidos, acusando Francisco Lopes de ser "funcionário do PCP há trinta anos".

"O senhor pertence a sistema perverso, caduco, ultrapassado e retórico", afirmou, ao exaltar a sua independência em reacção aos partidos políticos, que acusou de serem "os responsáveis pelo que se passa no país".

Francisco Lopes tentou demonstrar que o médico "diz-se independente, mas está comprometido com a política que levou o país para a actual situação". E lembrou o apoio de Nobre a Durão Barroso, António Capucho e Mário Soares e de defender um Serviço Nacional de Saúde "tendencialmente pago".

Sempre a puxar pelos galões da "independência", Fernando Nobre insistiu que a sua candidatura é a única transversal aos partidos. Nesse sentido, defende que a solução para a crise em que vive o país é de haver um Governo "que reuna todos os que querem pôr a cima os interesses do país acima das estratégias partidárias".

"Sou o único que poderei falar com todos os líder dos partidos de forma independente".

Sem apoiar a solução de um Governo de salvação nacional, Francisco Lopes defendeu, pelo contrário, "um novo rumo de ruptura para o país" e assumiu a sua militância partidária como "um selo de garantia para os portugueses, forjado na luta contra o fascismo".

Grande parte do tempo de debate foi gasto pelos candidatos a disputarem quem conhece a realidade da pobreza, com Nobre a exaltar da sua experiência na AMI de ter visto pessoas que a morrerem de fome a seu lado e Lopes a puxar das memórias de criança na sua aldeia natal, onde se ia para a escola de pé descalço.

A sintonia de posições acabariam por se centrar apenas na contestação às mexidas nas leis laborais. Ambos defenderam que não se ataca o problema do desemprego e da produtividade com a redução e salários e com a facilitação do despedimento.

Já no final, quando era suposto o fecho da emissão ficar a cargo de Nobre, o comunista usou da sua experiência política para exigir gastar o tempo que ainda tinha. "Eu quero o meu minuto". A exigência surtiu efeito e foi ele que fechou o debate.