12.3.15

Paulo Macedo "pode não ter avaliado" impacto da pobreza na saúde

por José Pedro Frazão, in RR

Maria de Belém Roseira, acredita que, em parte, Paulo Macedo foi vítima de vários factores na crise das urgências e ataca a titular das Finanças. Em entrevista à Renascença, a antiga ministra da Saúde rejeita urgências sustentadas por empresas de trabalho temporário.

A antiga ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, acredita que, em parte, Paulo Macedo foi vítima de vários factores na crise das urgências e ataca a titular das Finanças. Em entrevista à Renascença, rejeita urgências sustentadas por empresas de trabalho temporário.

A pobreza que atinge muitos portugueses ajudou a agravar o caos das urgências. A tese é de Maria de Belém Roseira, para quem a "coincidência com um pico de gripe, sem vacinas tão eficazes, com maior e mais grave incidência" cruzou-se com a grave crise social e económica, quadro que não foi previsto pelo ministro da Saúde.

"O ministro da Saúde foi vitima do que foi a dureza dos fenómenos de pobreza e privação severa, que são um escândalo. E pode não ter avaliado o impacto que esses fenómenos trariam à exigência sobre o sector da saúde. Porventura, não foi capaz [de convencer] ou a ministra das Finanças não foi 'convencível' de que a saúde não pode ser tratada como outros elementos da administração pública", defende a militante socialista, em entrevista à Edição da Noite, da Renascença.

A deputada do PS considera que seria indispensável preservar a saúde dos cortes orçamentais. " Quando [o Governo] introduz uma ruptura em termos de políticas de recursos humanos, cortando completamente a remuneração e a progressão nas carreiras e em termos de enquadramento dos mais velhos e experimentados face aos mais novos, acaba por introduzir disfunções no sistema, que se repercutem na forma de atendimento", argumenta a antiga ministra da Saúde, sublinhando a incapacidade de muitos portugueses para seguir uma medicação e a inexistência de uma rede familiar que acolha os mais velhos, por impacto de uma emigração maciça nos últimos anos.

Maria de Belém lamenta a saída de clínicos experientes de muitos hospitais: "Desapareceram os médicos de serviço, aqueles que pela sua maturidade profissional são os que mais segurança dão e menos despesa fazem. Ou se arranja uma forma de reativar essas pessoas ou vai demorar muitos anos a recompor essas equipas".

A ex-presidente do PS vai mais longe na avaliação dos impactos desta política de recursos humanos: "Não podemos ter serviços de urgência sustentados por empresas de 'man power'. É isso que está a acontecer. É errado. É uma prática muito recente, a nível dos serviços de saúde. Em saúde, actua-se em equipa. Se aparecem pessoas que estão completamente fora da filosofia institucional e do conhecimento dos seus colegas de trabalho, o atendimento é mais difícil e o risco é acrescido, como é evidente".