17.4.15

"Falhanços" do Banco Mundial prejudicam milhões de pessoas

Ana Sofia Rodrigues, in RTP

The International Consortium of Investigative Journalists

Um trabalho de investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), do diário digital The Huffington Post e 20 outros parceiros mediáticos conclui que os projetos financiados pelo Banco Mundial afectaram 3,4 milhões de pessoas e deixaram um "rasto de miséria".

Um trabalho de investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), do diário digital The Huffington Post e 20 outros parceiros mediáticos conclui que o Banco Mundial desrespeita com frequência as suas próprias regras sobre a proteção das pessoas mais vulneráveis. Na última década os projetos que patrocinou afetaram física ou economicaA investigação fala de um “rasto de miséria” deixado pelos projetos que o Banco Mundial financiou, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento.mente pelo menos 3,4 milhões de pessoas.
Segundo a investigação hoje publicada no site do ICIJ e em The Huffington Post, os projetos financiados pelo Banco Mundial deslocaram pessoas de suas casas, seja pela destruição de casas, seja pela destruição dos locais onde viviam ou das fontes de rendimento.

A investigação, chamada “Despejados e Abandonados: A promessa aos pobres quebrada pelo Banco Munidal”, representa um conjunto de reportagens feitas por uma equipa de mais de meia centena de jornalistas de 21 países e que durou cerca de um ano a concluir. Foram analisados milhares de documentos da organização, foram entrevistadas centenas de pessoas e feita reportagem junto das comunidades em mais de uma dezena de países, desde o Brasil à Índia.

Banco Mundial quebrou a promessa

O compromisso do Banco Mundial é o de “não fazer mal” a pessoas ou ao ambiente. Diz esta investigação que o banco falhou regularmente essa promessa, com “consequências devastadoras para os mais pobres e os mais vulneráveis do planeta”.

O Banco Mundial é considerado o mais prestigiado credor dos países em desenvolvimento. Financia anualmente centenas de projetos governamentais com o objetivo de "combater a propagação da pobreza através do apUma das primeiras reportagens que foi publicada refere-se a comunidades indígenas do oeste do Quénia que dizem ter sido forçadas a abandonar as suas florestas ancestrais devido a um programa de conservação do Banco Mundial.oio à construção de sistemas de transporte, centrais elétricas, barragens e outros projetos", teoricamente dirigidos às populações mais pobres do planeta.

Barragens, centrais elétricas, exploração de minas de ouro, oleodutos, estão entre os projetos apoiados pela instituição financeira e que prejudicaram milhões de pessoas, empurrando-as muitas vezes das suas terras e das suas casas.

“O Banco Mundial é negligente a rever os projetos atempadamente para garantir que as comunidades são protegidas e frequentemente não tem ideia do que acontece às pessoas depois de serem afastadas”, lê-se nesta reportagem. “Em muitos casos, (o Banco) continua a fazer negócio com os governos que abusaram dos seus cidadãos, enviando um sinal de que têm pouco a recear se violarem as regras do banco, de acordo com atuais e antigos funcionários do Banco Mundial”, assegura a investigação.

A investigação adianta que o Banco Mundial e a International Finance Corp. (IFC, membro do Grupo Banco Mundial e a maior instituição de desenvolvimento global voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento) financiaram governos e companhias acusadas de violações dos direitos humanos, tal como violações, homicídio e tortura. Em alguns casos, os credores continuaram a financiar estas entidades após terem sido divulgadas provas dos abusos.

Neste extenso trabalho pode ainda ler-se que entre 2009 e 2013 os credores do Grupo Banco Mundial canalizaram 50 mil milhões de dólares (47 mil milhões de euros) para projetos que resultaram num elevado risco de impactos sociais e ambientais "irreversíveis e sem precedentes", e que duplicaram em relação aos cinco anos anteriores.

Banco Mundial promete reformas

O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), e o The Huffington Post informaram em março o Banco Mundial dos novos dados que apontavam para “falhas sistémicas” na proteção das famílias deslocadas, o Banco veio reconhecer que “a supervisão tinha sido fraca” e prometeu reformas.

Numa declaração citada por esta reportagem, Jim Yong Kim, Presidente do Banco Mundial veio dizer que a instituição fez uma análise e que “o que encontrámos causou-me profunda preocupação”.

David Theis, um porta-voz do Banco Mundial por sua vez, assegurou que a instituição “pode e irá fazer melhor”.