Pedro Rainho, in "Jornal I"
Rezar já não era suficiente. Para combater o tráfico de seres humanos - sobretudo, de mulheres - e a escravidão um grupo de freiras decidiu despir os hábitos e infiltrar-se em bordeis para resgatar vítimas das redes organizadas. O grupo de freiras (são cerca de 1100 dedicadas a esta missão) partiu literalmente para o terreno para combater o tráfico de mulheres que, depois de apanhadas nestas redes internacionais, são sexualmente exploradas e deixadas reféns, sem meios próprios para escapar. Estima-se que haja cerca de 73 milhões de pessoas vítimas de tráfico humano.
A maior parte- os números oficiais apontam para 70% - são mulheres. E a maior parte delas acaba transformada em escrava sexual. O objectivo das freiras, numa missão delineada em 2009, foi entrar no mundo da exploração sexual, infiltran- do-se em bordéis e cruzando-se com estas mulheres.
Actualmente, estão presentes em 80 países. "Estas irmãs não confiam em ninguém. Elas não confiam nos governos, não confiam em corporações, e não confiam na polícia local. Em alguns casos, elas não podem sequer confiar no clero masculino", refere John Studzinski, um banqueiro e filatropo que preside à Talitha Kum. É em torno desta organização (cujo nome se pode traduzir por pequena menina, levanta-te) que se reúnem as freiras envolvidas na missão. É um trabalho quase sem rede e que vive emergido no mais profundo secretismo. As freiras estão perfeitamente nos bordéis e nas ruas onde trabalham para resgatar as mulheres sexualmente exploradas e ninguém, além das pessoas ajudadas, conhece a sua verdadeira identidade. A vida das freiras depende dessa absoluta reserva. "Não pretendo ser sensacionalista, mas estou a tentar sublinhar o facto de que o mundo perdeu a sua inocência e as forças negras permanecem activas", explicava John Studzinski. Há dois anos, quando se assinalava o Dia Internacional contra o Tráfico, já a coordenadora da organização, Estrella Castalone, destacava a importância desta missão. "Sabemos que a escravatura tem um rosto feminino. Isso força-nos, a nós, mulheres religiosas, a juntarmos mãos e parar isto." As freiras também recolhem dinheiro para "comprar" crianças.
Aqueles menores, vendidos pelos pais em países como o Brasil, as Filipinas, Índia e várias nações africanas ficam a salvo de um futuro não muito diferente do das mulheres envolvidas nas redes de exploração. A organização estabeleceu "uma nova rede de casas para crianças de todo o mundo que, de outra forma, seriam vendidas para a escravidão. É chocante, mas é real", volta a destacar Studzinski. "Estas irmãs não confiam em ninguém. Elas não confiam nos governos, não confiam em corporações e não confiam na policial local. Em alguns casos, elas não podem sequer confiar no clero masculino" John Studzinski


