26.4.23

Educação para a dignidade pessoal: o papel urgente dos pais

Ana Catarina Mesquita, opinião, in Expresso



A corrida aos “ likes” do Instagram e do Facebook , a tentativa de conquista de um maior número de seguidores, assim como a procura da fama com que sonharam, e como uma alternativa a uma oportunidade não conseguida, ainda que almejada, em televisão, leva muitos jovens a exporem-se de forma preocupante na Internet, publicando imagens mais íntimas sem que muitos pais se apercebam e ficando à mercê de predadores atentos e potencialmente perigosos


A importância de ensinarmos a dignidade aos nossos jovens nunca foi mais urgente. Num mundo em que as redes sociais dominam e as imagens proliferam pelos espaços da web, torna-se imperioso transmitir ideais de respeito e dignidade, acima de tudo, por nós próprios.

A corrida aos “likes” do Instagram e do Facebook , a tentativa de conquista de um maior número de seguidores, assim como a procura da fama com que sonharam, e como uma alternativa a uma oportunidade não conseguida, ainda que almejada, em televisão, leva muitos jovens a exporem-se de forma preocupante na Internet, publicando imagens mais íntimas sem que muitos pais se apercebam e ficando à mercê de predadores atentos e potencialmente perigosos.

Começa em casa a educação para a dignidade pessoal. Efetivamente, devemos ensinar aos nossos filhos o respeito por si mesmos, pelo seu corpo e pela sua alma. Só um jovem que se sente amado e valorizado em casa, com espaço para o diálogo, pode sentir-se seguro de si mesmo e do quanto é importante. Na verdade, quanto mais inseguros e carentes estes jovens se tornarem, mais facilmente se tornarão frágeis perante pessoas mal intencionadas e que não os respeitarão.

Na verdade, quando sabemos o nosso valor, ninguém o retira e será mais fácil percebermos de forma perspicaz como devemos ou não ser tratados, e as palavras e atitudes que nos devem ser dirigidas. Só assim seremos capazes de perceber as reais intenções de alguém que trava conhecimento connosco ou que se aproxima do nosso mundo mais íntimo. Em casa, deve, pois, haver espaço para a conversa, para a confiança e também para alguma atenção parental essencial nestas tenras idades, nas quais a maturidade ainda é inexistente.

Ainda assim, com todo o apoio dos pais, com toda a construção de uma segurança pessoal, os nossos jovens podem cair em erro e acreditar em quem não deveriam? Sim, isso pode, sem dúvida acontecer, até com os adultos acontece! A diferença é que conhecerão os limites da dignidade pessoal e saberão que há linhas que não podem ser atravessadas por promessa alguma de fama ou por qualquer sentimento de paixão. Se esses limites forem bem nítidos para os nossos jovens, acabarão por saber que caminhos não seguir. Por outro lado, quando caírem (porque irão, inevitavelmente, cair), os jovens conseguirão levantar-se e seguir em frente, retirando as lições devidas dos erros cometidos, sem que isso afete a sua autoestima.

Por exemplo, nestas idades os jovens têm uma necessidade enorme de aceitação pelos pares, submetendo-se a determinados comportamentos que nada têm a ver com a sua forma de ser e que, no fundo, sabem que são prejudiciais. Um jovem bem formado, que conversa habitualmente com os seus pais, que criou uma personalidade forte e valores bem estruturados, saberá que o caminho certo é sempre o da nossa dignidade pessoal, e que quem é nosso amigo nos aceita exatamente como somos e valoriza a nossa individualidade.

Por isso, é essencial que os pais estimulem para a leitura desde a mais tenra idade, pois este é um veículo essencial de transmissão de valores e da construção da personalidade. Também é preponderante que haja informação de qualidade, e não desinformação, sendo que a distinção entre ambas também deverá ser gradualmente explicada pelos pais, conferindo aos filhos oportunidades de contacto com o mundo, das mais variadas perspetivas, e fazendo nascer nos mesmos o espírito crítico.

Dignidade pessoal, precisa-se! E de forma urgente! E, neste campo, o papel dos pais, é, de facto fundamental. Há muito e bom mundo para além das redes sociais. E esse mundo deve ser dado a conhecer aos jovens, pelos pais, desde cedo. A humanidade agradece!