18.6.07

Desertificação pode gerar conflitos

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

A Organização das Nações Unidas quis marcar o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, assinalado ontem, com uma chamada de atenção para as alterações climáticas. Na sua mensagem, o secretário-geral da ONU lembrou o facto de esta grande transformação ambiental colocar em risco a saúde e o bem- -estar de 1,2 mil milhões de pessoas em mais de cem países.

"Desertificação e Mudanças Climáticas - Um desafio Global" foi o lema do dia, que Ban Ki-Moon aproveitou para chamar a atenção para o facto de os mais pobres serem os que mais sofrem com os efeitos da seca e desertificação (dois terços dos pobres do planeta vivem nessas regiões). O agravamento destas condições climatéricas e do solo ameaça a produção agrícola, de que dependem sobretudo essas faixas da população mundial. Ban Ki-Moon, a desertificação e as mudanças climáticas são duas faces da mesma moeda e interagem a diversos níveis. E levantam preocupações quanto a migrações maciças - e conflitos armados daí decorrentes -, tendo como origem a escassez da água e o empobrecimento dos solos. A desertificação ameaça também seriamente o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, que deveriam ser atingidos em 2015. Estes compreendem a intenção e o compromisso dos países mais desenvolvidos contribuírem para o desenvolvimento dos mais pobres, nomeadamente na saúde, o acesso à água e na educação.

Mas o fenómeno não é exclusivo das zonas tórridas. Mesmo zonas temperadas, como aquela em que se situa Portugal, revelam problemas. Uma faixa interior do território, quase contínua de Trás-os-Montes ao Algarve, tem vindo a acumular tendências para a desertificação. As previsões de aumento da temperatura média indicam que Portugal pode ter um terço da sua área nas condições de terra semi-árida dentro de escassas décadas. E, segundo a Agência Espacial Europeia e a Desert Watch, Portugal é um dos três países mais desertificados da Europa.