in Jornal de Notícias
Valorização dos estabelecimentos de ensino passa em grande parte pela colaboração dos pais
Cientes do valor do seu trabalho de colaboração com as escolas, muitas associações de pais têm desenvolvido projectos que se traduzem no incremento do sucesso escolar. Em Gaia, a Federação das Associações de Pais local (FEDAPAGaia)iniciou, neste ano lectivo que agora termina, um projecto de mediação familiar, que pretende dar apoio às famílias desestruturadas como forma de apoiar as crianças e adolescentes em risco.
Albino Almeida, presidente da FEDAPGaia, disse ao JN que aquela federação vai lançar-se, já a partir do início do próximo ano lectivo, num trabalho de mediação.
"O que nós pretendemos é valorizar a escolas. Para isso, vamos colocar ao serviço das escolas as equipas sociais da Gaianima", disse. No seu entender, "são muitos os problemas sociais que interferem no trabalho dos professores e, por isso, é necessário remover esses obstáculos".
Albino Almeida explicou que, habitualmente, as escolas sinalizam à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco os casos mais problemáticos.
"Só em Gaia, são cerca de 700 as crianças sinalizadas por ano. Mas a realidade é que as comissões não têm capacidade nem pessoal para fazer uma coisa que é muito importante a mediação familiar", realçou.
Assim, segundo aquele responsável, as crianças que forem sinalizadas vão beneficiar de um atendimento integrado. "São crianças oriundas de famílias desestruturadas, com poucos rendimentos e muitos irmãos, provavelmente sofrendo de problemas de saúde. Por isso, são casos que têm de ser trabalhados em rede, com equipas de profissionais que respondam por todas as necessidades que essas crianças e famílias manifestam", referiu.
Albino Almeida frisou a necessidade de ser feita a capacitação parental, ou seja, o aumento das competências das famílias para o exercíco da função de pais. Para isso, irão ser criados cursos, com o apoio da Escola de Pais, a nível de bairro, agrupamento de escolas ou, mesmo, em contexto mais restrito de família.
Dificuldades
"As equipas sociais vão falar com os pais sobre, por exemplo, o programa Novas Oportunidades, de forma a tentar fazer com que os próprios pais voltem à escola, até pela própria necessidade de obterem emprego", afirmou Albino Almeida.
Se há associações de pais que são bem sucedidas no seu trabalho em prol do sucesso escolar dos alunos, muitas outras enfrentam uma série de problemas, muitos deles causados pelo corpo docente das escolas, que vêem os pais como intrusos.
Rosa Novo, presidente da Federação Regional de Associações de Pais do Porto, tem uma larga experiência de trabalho com o associativismo de encarregados de educação.
"Se algumas vezes os problemas surgem por causa de falta de informação, o que desmotiva os pais, muitas vezes os entraves são colocados pelos próprios professores, que não deixam efectuar eventos, ou realizam iniciativas com os miúdos mas impedem os pais de participarem, ou permitem que a associação de pais reúna mas sob a presidência de uma professora", revelou.
Segundo Rosa Novo, a maior parte dos problemas que as associações de pais enfrentam acontece em escolas do 1.º ciclo, devido à monodocência.
Contudo, segundo realçou, há muitas associações de pais que desenvolvem trabalho importante, ajudando a ultrapassar as carências das escolas. "Há uma associação de pais no Marco de Canavezes que até conseguiu colocar ar condicionado nas salas de aula!", realçou.
Para a presidente da Federação Regional de Associações de Pais do Porto, os pais não se podem demitir das suas funções. "É muito importante que procurem ajudar a resolver os problemas das escolas, recorrendo, sempre que possível, ao fomento de parcerias", concluiu.