Produtividade acelera para o ritmo mais alto desde 1999

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A economia acelerou sem criação de mais empregos. A explicação é um aumento da produtividade, normal no início dos períodos de retoma

Portugal iniciou o ano com um crescimento da produtividade a que não se assistia, em termos anuais, desde 1999, com um desempenho particularmente forte no sector da indústria.

O facto de o país ter conseguido acelerar o ritmo de actividade económica, mas ao mesmo tempo ter mantido quase sem alterações o número de pessoas empregadas, levou a que, de acordo com os números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, se verificasse, durante o primeiro trimestre de 2007, uma variação da produtividade (medida como o PIB por cada emprego) de 1,8 por cento.

Este valor representa uma melhoria significativa face ao cenário de quase estagnação da produtividade a que se tem assistido nos últimos anos. Em 2005 e 2006, a variação deste indicador foi de 0,5 por cento e é necessário recuar até 1999 para encontrar um ritmo de crescimento da produtividade maior do que o registado nos três primeiros meses deste ano.

O mau desempenho português ao nível da produtividade tem estado directamente ligado ao fraco ritmo de crescimento da economia. Mas, para além disso, em 2006, apesar da economia ter crescido 1,3 por cento, a produtividade aumentou apenas 0,5 por cento, uma vez que a melhoria na actividade foi em grande parte garantida com o recurso a mais mão-de-obra (variação de 0,7 por cento).

Este fenómeno não se voltou a registar no início de 2007. A variação homóloga do PIB - calculada pelo INE em dois por cento - aconteceu num cenário em que o número de pessoas a trabalhar quase não se alterou (variação de 0,2 por cento). Normalmente, no início de uma fase de retoma económica é isto que acontece, uma vez que as empresas tentam, quando a procura finalmente aumenta, garantir um acréscimo da oferta através de ganhos de eficiência e não de aumento do pessoal empregado.
Durante a semana passada, comentando a evolução recente da economia portuguesa, o Presidente da República afirmava que "podemos estar neste momento numa fase de aumento de produtividade, mas o crescimento econónimo ainda não é suficientemente forte para que as empresas contratem trabalhadores em grande número". Cavaco Silva referia ainda que "as novas empresas são tecnologicamente avançadas, empregam jovens altamente qualificados, mas empregam poucos e não os trabalhadores pouco qualificados."

Indústria a liderar

Neste aumento da produtividade, um sector destaca-se claramente. Na indústria, a variação do Valor Acrescentado Bruto (VAB) por cada pessoa empregada foi, no primeiro trimestre deste ano, de quatro por cento face a igual período do ano anterior. Este é o melhor resultado desde 2000 e representa uma melhoria significativa face aos 0,6 por cento de 2006.

A subida da produtividade é conseguida graças a um aumento do VAB sectorial de 3,6 por cento, ao mesmo tempo que o número de pessoas empregadas na indústria diminuiu 0,2 por cento. Estes números parecem indicar que o fecho de várias unidades industriais está a ter um impacto negativo no mercado de trabalho, mas acontece maioritariamente em empresas com um contributo para o PIB menor em termos relativos.
Nos outros sectores, também houve melhorias. A variação da produtividade nos serviços foi de 1,8 por cento (1,3 em 2006) e na construção de -2,4 por cento (-5,4 em 2006).