Glória Lopes, in Jornal de Notícias
Situações de maus tratos multiplicam-se, criando problemas de acolhimento, devido à falta de espaços
O distrito de Bragança é dos mais atrasados do país em termos de estruturas de apoio, combate e prevenção da violência doméstica. Em toda a região existe apenas uma casa abrigo, localizada em Bragança, que acolhe mulheres quando estas decidem abandonar a residência. Nos últimos meses, o Gabinete de Apoio à Vítima, instalado no Governo Civil, tem recorrido com frequência a centros de acolhimento de outras regiões, a organizações não governamentais e, até, a pensões.
Ontem, um grupo de deputados da Assembleia da República (AR), deparou-se com uma situação preocupante no distrito existe mais procura do que a capacidade instalada de oferta de estruturas de apoio às vítimas. "Está claramente desfavorecida, tem que haver mais investimento por parte do Estado", afirmou Mendes Bota, deputado do PSD.
Ainda que a prioridade seja para as vítimas de violência, o deputado considera essencial não descurar a parte do tratamento e acompanhamento dos agressores, praticamente inexistente.
Os deputados da delegação verificaram que existem poucas estruturas também para os filhos de famílias desestruturadas e sujeitos a violência familiar, que são as vítimas principais da violência doméstica.
Para dar maior visibilidade ao fenómeno, a Assembleia da República está a organizar conferências regionais nas quatro zonas do país consideradas mais desprovidas de estruturas de apoio às vítimas e de prevenção do fenómeno, nomeadamente Bragança, Madeira, Algarve e Santarém.
Apesar dos constrangimentos, em Bragança, o problema da violência está a ter mais visibilidade e o número de denúncias tem aumentado. "Verifica-se uma maior consciencialização por parte das mulheres", referiu a técnica responsável pelo Gabinete de Apoio à Vítima, que preferiu manter o anonimato.
Apesar de se ter feito grande aposta na divulgação, com informação a chegar às aldeias mais isoladas, as questões culturais continuam dificultar o trabalho dos técnicos. "Ainda há alguma tolerância devido a modelos de comportamento moral que se vão mantendo entre as gerações", verificou a técnica.
No entanto, desde a abertura do Gabinete de Apoio à Vítima houve algumas mudanças "As mulheres estão menos tolerantes e mais dispostas a apresentar queixa e a avançar para o Ministério Público", acrescentou.