Virgínia Alves*, in Jornal de Notícias
Apreensões atingiram níveis significativos em várias substâncias
Cerca de 200 milhões de pessoas entre os 15 e os 64 anos consomem drogas ilícitas em todo o Mundo. Um valor que revela que a luta contra a droga não está ganha, mas que acompanha alguns sinais animadores. O relatório de 2007 da Agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (ONUDC), apresentado ontem, no Dia Mundial de Luta Contra a Droga, refere que há indícios da estabilização do cultivo, produção e consumo de todas as substâncias ilegais.
De acordo com o relatório da ONUDC, a percentagem de consumo de cannabis diminuiu em relação a 2000. Nesse ano, 56% dos países tinha detectado um aumento do consumo. Agora, esse valor desceu para 49%. Actualmente, estima-se que 159 milhões de pessoas consumam cannabis em todo o Mundo.
O responsável pelo relatório, Thomas Pietschmann, sublinhou a dificuldade de controlar o tráfico desta droga, cuja planta é cultivada em mais de 172 países, além das pequenas plantações, muitas vezes para consumo próprio. No entanto, referiu que se registou uma queda acentuada da sua produção em Marrocos, donde provém 70% da cannabis consumida na Europa e 27,2% em todo o Mundo.
No que diz respeito à cocaína, o relatório faz referência a uma descida na superfície de cultivo sobretudo na Colômbia, que reduziu 52% nos últimos seis anos. Mas, foram registados aumentos de produção no Peru e na Bolívia.
Estima-se que esta droga tenha cerca de 14,3 milhões de consumidores em todo o Mundo.
O documento da ONU revela ainda que a cocaína que é traficada na Europa vem essencialmente de África e tem como principais portas de entrada a Espanha, Portugal e a Holanda.
Ao mesmo tempo, faz referência aos esforços feitos pelas autoridades de cada país para a apreensão de drogas, assinalando Portugal como o país com o segundo maior número de apreensões de cocaína, representando 17% das apreensões na Europa.
A esse propósito, e no âmbito das comemorações do Dia Mundial de Luta Contra a Droga, o ministro da Justiça, Alberto Costa, declarou que "Portugal distingue-se por uma intensa actividade no domínio da intersecção desse tráfico. Nós não somos parte do problema porque combatemos o problema, mas uma parte muito activa da solução".
O governante acrescentou que Portugal foi um dos cinco países do Mundo que apreenderam maior quantidade de cocaína, "o que é significativo".
A produção de heroína continua a ser um dos maiores problemas identificados pela agência da ONU, alertando que no Afeganistão, de onde provém 92% da heroína consumida no Mundo aumentou sua produção, só em 2006, em 50%. O documento refere que a cultura da papoila aumentou fortemente nesse país e que os mercados mundiais desta droga "são determinados, pelo menos a curto prazo, pelo que se passa no sul do Afeganistão".
Este aumento é compensado pela redução da produção de papoila desde 2000 no "Triângulo d'Ouro" do Sudoeste asiático. No entanto, no último ano a produção de heroína atingiu o seu máximo, com 6610 toneladas.
* Com agências
Apreensões
Em 2005, a apreensões mundiais de droga conseguiram retirar do mercado cerca de 42% da produção mundial de cocaína e 26% da produção de heroína.
Anfetaminas e ecstasy Consumidas por 24,9 e 8,6 milhões de pessoas, respectivamente, têm os seus níveis de produção estabilizados, com uma pequena descida de 0,5% das quantidades consumidas. Em relação ao ecstasy a descida mundial foi de 10% em 2005, mas o relatório da ONUDC, alerta para o perigo de se voltar a inverter esta curva descendente.
Rotas de droga
O relatório da ONUDC alerta para o surgimento de novas rotas de tráfico de droga, que passam cada vez mais por África, tanto os traficantes de cocaína, vindos da Colômbia, como o de heroína vindos do Afeganistão. Os responsáveis referem que estas novas rotas podem "causar estragos num continente já arrasado por outras tragédias".
Alarmantes
Os dados do relatório da ONUDC são essencialmente preocupantes para Espanha, cujo consumo de cocaína per capita ultrapassou pela primeira vez os EUA. Vinte em cada cem consumidores de cocaína europeus vive em Espanha.