Hermana Cruz, Leonel de Castro, in Jornal de Notícias
Painel de convidados Rui Rio, Belmiro de Azevedo, Rui Moreira, Luís Portela e Ludgero Marques
A cidade do Porto está desertificada, adormecida e até pessimista. Não soube preparar-se para um país cada vez mais centralizado em Lisboa, e a região que a envolve nãotem um líder que seja ouvido e reconhecido. Essas foram algumas das lamentações que ecoaram, anteontem à noite, no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, no último programa da temporada do "Prós e Contras". Apesar disso, a cidade ainda é vista como a capital do Norte, com potencialidades de desenvolvimento e oportunidades. "Abre outras portas", admitiram alguns universitários que, nas últimas filas, ouviram atentamente as intervenções dos representantes das forças vivas da sociedade portuenese.
Aliás, foi pelo Porto ainda ser uma "oportunidade de emprego" que os jovens João Sarilho e Filipe Leite deixaram Aveiro. Estudantes da Faculdade de Economia, acreditam que na capital do Norte terão melhores saídas profissionais. "Há um rol de oportunidades que não existem em Aveiro", sublinham, ao JN, embora reconheçam que a cidade "está um bocado adormecida". "Se calhar, assustava-nos um pouco viver na Baixa", exemplificam.
Foram muitas as soluções que os jovens ouviram de políticos, empresários, homens da cultura e até do presidente da Junta da Galiza, Emílio Perez Touriño, quase todas convergindo na necessidade de se aproveitar o melhor da cidade a sua marca. "Temos que potenciar essa marca aos mais diversos niveis", disse o presidente da Câmara, Rui Rio.
"Quando o Porto faz coisas diferentes, tem ousadia, sonha, avança. Neste momento, não se passa nada. O Porto é uma marca, que se está a desgastar, a diluir, a perder", contrapôs o jornalista Carlos Magno, enquanto o presidente da Bial, Luís Portela, admitiu que "gostava de ver um Porto mais forte, mais dinâmico, mais competitivo".
Oportunidade perdida
Num debate de duas horas e meia, também se incutiram responsabilidades, pelo descréscimo de peso da cidade, à gestão autárquica e ao agravamento do centralismo, que só seria travado pela regionalização.
"No momento em que o país passou a ser unipolar, o Porto devia ter exercido o peso que tinha. Perdeu-se uma oportunidade com o referendo à regionalização", declarou o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira.
"Se tudo se resolve melhor em Lisboa, então vamos acelerar essa mega ou monocapital! É isso que está a acontecer", acusou o empresário Belmiro de Azevedo, convencido de que o "Porto é uma capital política sem poder político". "É a capital do Norte que é possível ser, aquilo que a deixam ser", anuiu o presidente da Associação Empresarial, Ludgero Marques.
Para António Lobo Xavier, a questão coloca-se a outro nível "O combate, em tempos, teve maus protagonistas. Se recuarmos 20 anos, os paladinos da regionalização, não eram, aos olhos do país, figuras muito carismáticas".
"Quem era o líder do Norte nos anos 40,50 ou 60?", interrogou-se Rui Rio, avisando "Se vamos estar à espera de um líder, então vamos esperar sentados porque não é por aí que conseguimos. Conseguimos é com a nossa mais-valia".
O autarca alegou ainda que o Porto é "um factor de competitividade para o Norte". Defendeu-se de polémicas, desde a do Rivoli à da corrida de carros, garantindo que continuará a fazer "rupturas". E recursou desejar ser presidente de uma região. "Sabe-se que o Porto é uma nação. Sou presidente de uma Nação", ironizou, socorrendo-se do lema do F.C.Porto.