Ricardo Dias Felner, in Jornal Público
Só no último mês, o primeiro-ministro recebeu uma dúzia de chefes de Estado e de Governo. Hoje, é a vez de o líder finlandês passar por São Bento
Tem sido um trabalho quase invisível, mas José Sócrates está há mais de um mês a trabalhar incessantemente na preparação da presidência da União Europeia. Sem grandes títulos nos jornais, quase sempre em audiências recatadas em São Bento, o primeiro-ministro reuniu-se, desde o iníco de Maio, com 12 chefes de Estado e de Governo, mantendo quase uma iniciativa em cada dois dias dedicada ao dossier da UE.
Daqui para a frente, até ao início da presidência da UE - a 1 de Julho -, o ritmo não vai abrandar. Da agenda do primeiro-ministro constam encontros com mais sete chefes de Governo, fora as conversações bilaterais que poderão ocorrer durante o Conselho Europeu de 21 e 22 de Junho, em Bruxelas.
Nestas circunstâncias, é natural que o primeiro-ministro seja muito selectivo quanto à política interna. E que a oposição aproveite a sua menor disponibilidade para os combates que se avizinham. Marques Mendes terá isso em mente, Paulo Portas não deverá andar distraído.
Recorde-se que alguns analistas políticos e responsáveis do CDS-PP profetizaram com êxito, ainda em 2006, que Paulo Portas recandidatar-se-ia na véspera da presidência portuguesa da UE, quando Sócrates estivesse mais vulnerável.
Lisboa é base de negociações
São Bento recusa esta fragilidade. O gabinete do primeiro-ministro chama, sobretudo, a atenção para um dado novo relativamente à preparação de outras presidências da União Europeia: com a Europa a 27, deixaram de ser os chefes de Governo a fazer o habitual périplo negocial pelos outros países-membros. Ou seja, Sócrates estará mais disponível para a actualidade nacional (do que, por exemplo, esteve António Guterres), porque estará mais tempo em Lisboa.
Ontem mesmo, o primeiro-ministro recebeu na sua residência oficial a direcção dos eurodeputados do Grupo Socialista do Parlamento Europeu. Hoje é a vez de Matti Vanhanen, primeiro-ministro finlandês, e do ministro dos Negócios Estrangeiros da Líbia, Abdu Raham Shalgam.
Ainda esta semana, na quarta-feira ocorrerão duas reuniões, também em São Bento: uma com a direcção do grupo de eurodeputados Liberais Democratas, outra com a ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel, Tzipi Livni. No dia seguinte, Sócrates conversará com o primeiro-ministro grego, Konstantínos Karamanlís, e com os deputados europeus do Partido Popular Europeu.
A 17 de Junho parte para Bratislava, onde se encontrará com os chefes de Governo da Hungria, da República Checa, da Eslováquia e da Polónia. E nos dias 21 e 22, após audiências com os partidos parlamentares e com os parceiros sociais, viaja para Bruxelas, onde decorrerá o próximo Conselho Europeu, para tentar um acordo "determinante" sobre o futuro do Tratado Constitucional Europeu.
Mesmo antes de 1 de Julho, haverá ainda tempo para um encontro com o primeiro-ministro da Dinamarca.
Até à data, por Lisboa já passaram, entre outros, os primeiros-ministros da Itália, da Bulgária, do Líbano, de Cabo Verde, da Noruega, de Malta, da Holanda e da Eslovénia, a chanceler Angela Merkel, bem como a Presidente suíça, Micheline Calmy-Rey.
Somaram-se ainda outros encontros, quer com responsáveis europeus, quer com personalidades que poderão ser determinantes para as relações entre a UE, o Médio Oriente e África. Neste grupo inserem-se o secretário-geral da OCDE, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o secretário-geral da Liga Árabe.
No início de Junho, Sócrates passou por Viena e por Paris, onde esteve com Heinz Fischer e Nicolas Sarkozy.