Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Depois da quebra do poder de compra em 2006, os portugueses vão ter subidas ligeiras dos salários até 2008
Os trabalhadores portugueses vão continuar a ser os que menos poder de compra vão ganhar em toda a OCDE durante os próximos dois anos, antecipa a entidade sediada em Paris.
De acordo com o relatório anual sobre o emprego publicado ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a variação real dos salários (descontado o efeito da inflação) praticada no sector privado será em Portugal de 0,3 por cento em 2007 e de 0,2 por cento em 2008. A confirmarem-se estes resultados, os trabalhadores portugueses obtêm, durante o presente ano, o quarto ganho de poder de compra mais fraco entre os 30 países que compõem a OCDE. Em 2008, apresenta mesmo o pior resultado.
Acumuladas as variações previstas para estes dois anos, Portugal surge destacado como o país com a evolução mais desfavorável do poder de compra até 2008, com um crescimento de pouco mais de 0,5 por cento.
A média dos aumentos entre os países da OCDE será, de acordo com o relatório 1,4 por cento em 2007 e de 1,7 por cento em 2008, o que, em termos acumulados, representa uma subida de 3,3 por cento. Ainda assim, os aumentos quase nulos previstos para este ano e o próximo podem vir a representar uma melhoria significativa face ao que aconteceu em 2006, em que os salários caíram 0,7 por cento no sector privado, em termos reais.
A OCDE não apresenta dados para o sector público, mas, tendo em conta os objectivos de redução do défice e os aumentos salariais obtidos no passado (sempre abaixo da inflação), as expectativas também não deverão ser, neste caso, positivas para os trabalhadores portugueses.
Culpa da globalização?
As previsões de crescimento dos salários apresentadas ontem pela OCDE surgem num relatório em que uma das questões analisadas é a do impacto da globalização nos mercados de trabalho dos países desenvolvidos. A organização sediada em Paris reconhece que "o aprofundamento do comércio - em particular o aumento rápido das importações provenientes de fora da OCDE e a expansão de redes de produção internacionais - é uma fonte potencialmente importante de vulnerabilidade para os trabalhadores".
Apesar de dizer que, até agora, "os impactos foram bastante modestos", a OCDE assinala que o aumento da competição internacional "pode estar a levar os salários e o emprego a responderem mais rapidamente aos choques de ordem económica". Isto quer dizer que, num cenário de crise, a capacidade dos trabalhadores evitarem perdas no salário real ou mesmo no emprego pode ficar seriamente comprometida.
A OCDE diz que este fenómeno é particularmente forte no sector industrial, afectando predominantemente os trabalhadores com baixas qualificações e gerando mais desigualdade na distribuição de rendimentos. A receita dada pela OCDE para responder a estes problemas passa por oferecer mais flexibilidade às empresas, com um aumento da segurança para os trabalhadores. Ou seja, o modelo da flexi-segurança.
0,3%
Subida real dos salários prevista para Portugal em 2008, a mais baixa da OCDE