No Dia Mundial da População, a Pordata traça um retrato dos portugueses com 65 anos ou mais, que já constituem quase 24% do total dos residentes no país.
São cada vez mais, vivem mais anos, mas o aumento da esperança média de vida é acompanhado de poucos anos vividos de forma saudável e, não fossem as prestações sociais do Estado, a esmagadora maioria viveria na pobreza. No Dia Mundial da População, a Pordata traça o retrato dos portugueses com 65 anos ou mais, que já constituem quase 24% da população. O desenho ainda é preocupante, mas há variantes negativas que deverão mudar nos próximos anos.
No cenário traçado pela Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel do Santos, 30% dos residentes no país com 65 anos ou mais percepciona o seu estado de saúde como “mau ou muito mau”, muito acima da média da União Europeia (UE), onde essa percentagem não vai além dos 19%. E há dados neste retrato agora dado a conhecer que ajudam a perceber o porquê desse sentimento.
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Luísa Loura, directora da Pordata, diz que as duas questões – poucos anos de vida saudável e risco de pobreza – “se interligam muito” e salienta que, quanto mais velhas as pessoas, pior é a situação. “Os principais problemas estão no grupo dos muito mais velhos, sobretudo nas pessoas a partir dos 80 anos. Estamos a falar de uma população maioritariamente feminina, que seria sobretudo doméstica e que ao longo da vida não fez descontos. As pensões que recebem serão, eventualmente, de viuvez, mas os próprios maridos não terão tido uma carreira contributiva muito longa, já que a obrigatoriedade de se fazer descontos é relativamente recente, dos anos 1980. Ou seja, são pessoas que na altura do 25 de Abril [de 1974] teriam 30 ou 40 anos, mulheres que estariam em casa e muitos homens que não faziam descontos. É um lastro que vem de antigamente”, diz.
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Mas, Luísa Loura também acredita que este cenário menos animador irá evoluir para um mais optimista, nas próximas décadas. Porque, diz, a população que tem agora entre 55 e 64, e que constituirá os octogenários do futuro, representa uma “alteração profundíssima” da sociedade portuguesa. São pessoas com mais escolaridade, que descontaram ao longo da vida, que tiveram mais acesso a cuidados médicos. “Este grupo, acima dos 65 anos, vai aumentar muito até aos 3,3 milhões de pessoas, em 25 anos. Mas, acredito que, apesar deste aumento, o esforço sobre a sociedade, proporcionalmente, não irá aumentar tanto, por causa destas mudanças”, diz.
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No campo do combate à solidão, Luísa Loura salienta ainda os dados relacionados com as actividades agrícolas. Em 2019, mais de 243 mil idosos trabalhavam ou ocupavam-se com a agricultura, e a directora da Pordata acredita que este dado não reflecte apenas o facto de os mais velhos estarem mais presentes no interior do país ou de a agricultura poder ser uma forma de ajudar a equilibrar o orçamento familiar. “Para muitos será esse complemento ao rendimento, mas para outros é uma nova ocupação pós-reforma. Uma forma de as pessoas saírem do isolamento. Conheço vários casos de pessoas já aposentadas que saíram de Lisboa e agora estão a dedicar-se ao trabalho do campo, em terras que eram da família, numa espécie de hobby com frutos concretos”, diz.
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Do outro lado da balança, o país está a atrair cada vez mais cidadãos idosos estrangeiros. Os Censos 2021 dizem-nos que, nesse ano, 46 mil pessoas com 65 anos ou mais residentes em Portugal eram estrangeiras (2% do total da população desta faixa etária e mais do dobro das que existiam dez anos antes), provenientes, sobretudo da Europa (67%). E só nesse ano entraram 23 mil pessoas idosas no país, para residir pelo menos durante um ano, representando 23% do total dos imigrantes.