25.2.07

Quinze da UE perdem 88 mil empregos em favor do Leste

Raquel Almeida Correia, in Jornal Público

Postos de trabalho criados no sector automóvel nos novos Estados--membros da União Europeia já superam a quebra no lado ocidental

A indústria automóvel dos quinze da união europeia (ue) perdeu cerca de 88 mil postos de trabalho, entre 2000 e 2005, enquanto os novos estados-membros do centro e leste, no mesmo período, criaram 146 mil novos empregos. A conclusão é da associação dos construtores europeus de automóveis (acea), no seu último relatório económico, mostrando uma europa cada vez mais dividida nesta matéria.

A migração do sector automóvel de ocidente para leste acentuou-se, sobretudo na primeira metade deste quinquénio, fazendo com que a ue tenha chegado ao final de 2005 numa situação quase paradoxal. apesar de ter excesso de capacidade instalada e de reduzir empregos no lado ocidental, registou, assim, um saldo líquido positivo de criação de 58 mil postos de trabalho. face a este quadro global, os resultados não são pacíficos na análise por países. No caso português, a acea refere que, no final de 2005, o país tinha 22 mil trabalhadores no sector e que, desde 2000, foram eliminados seis mil postos de trabalho. São dados que colocam o país no segundo lugar no ranking dos mais penalizados da europa, a par do reino unido, com uma quebra de 21 por cento na taxa de emprego. a indústria portuguesa não se revê neste balanço.

Com base em dados da associação de fabricantes para a indústria automóvel, da associação dos industriais de automóveis e das próprias empresas, o centro de inovação inteli, que se tem dedicado à análise do sector automóvel, estima, para o ano de 2005, um volume de emprego total de 46 mil pessoas e cerca de 600 despedimentos no período analisado pela acea. Aponta como razão para a diferença de valores o facto de os dados apresentados pela associação internacional terem como fonte o eurostat e o instituto nacional de estatística e se referirem a uma leitura directa das classificações de actividade económica, "o que é redutor".

A análise ao desinvestimento na indústria automóvel em portugal mostra que este teve especial expressão na fase anterior ao ano 2000 (nomeadamente com o fecho das unidades da renault, da ford e da seagate) e no período posterior a 2005. vários anúncios de encerramento foram feitos neste ano, mas só produziram efeitos em 2006.

Europa a duas velocidades

Dentro da ue, a dinamarca é o país que mais tem sofrido com a crise do sector automóvel, registando uma diminuição de 28 por cento no número de trabalhadores. E, no leste, a república checa apresenta a maior subida - mais 24,4 mil novos postos de trabalho, em apenas cinco anos. a confirmar a transferência do aparelho produtivo para os novos estados-membros, a associação conclui que, apesar de no ano 2000 89,4 por cento dos trabalhadores do sector pertencerem a empresas com sede na ue a quinze, o número diminuiu para 83,2 por cento em 2005. A acea aponta "o esforço de reestruturação do sector" como a principal causa para esta desaceleração. É o retrato de uma europa a duas velocidades, também evidente quando analisados os índices de produtividade entre 2005 e 2006.

Na categoria dos veículos ligeiros de passageiros, os novos membros registaram um crescimento de 25,3 por cento nos índices de produção, contra um decréscimo de 2,4 por cento nos "velhos" países da ue. Apenas a finlândia consegue bater os valores da europa do leste, com uma subida de 52,7 por cento. Portugal também apresenta um saldo positivo, embora se fique por um aumento de 4,3 por cento. nos pesados, os novos membros também têm um desempenho acima da média da ue, com 13,1 e 8,2 por cento de crescimento, contra 0,9 e 4,8 por cento da europa a quinze. mas nos comerciais ligeiros o cenário muda de figura - é o segmento que continua a ter mais expressão nos estados-membros a ocidente. 58 mil novos postos de trabalho foi quanto a indústria cresceu, em termos líquidos, com a migração para leste.