9.7.07

Desemprego assusta população mais pobre e com menos qualificações e faz recuar a confiança dos consumidores

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

O aumento da expectativas de desemprego está a diminuir a confiança dos consumidores, principalmente dos mais pobres e menos qualificados


Apesar dos sinais cada vez mais fortes de uma recuperação da actividade económica em Portugal, a confiança dos consumidores voltou a cair durante a primeira metade deste ano, com o maior contributo para este resultado a vir dos consumidores mais idosos, com menos qualificações, mais pobres e com vínculo laboral mais precário. O receio em relação à evolução do desemprego assusta esta parcela da população.

O índice de confiança dos consumidores, calculado pelo INE e cujos resultados são também publicados pela Comissão Europeia, caiu, entre Dezembro de 2006 e Junho de 2007, de -33 para -38 pontos, quebrando a tendência de recuperação que se fez sentir durante a totalidade do ano passado. Esta recaída deu-se ao mesmo tempo que os indicadores económicos apontavam para um crescimento mais forte do que o esperado no início de 2007, que poderá, de acordo com os analistas, colocar a variação anual do PIB acima dos dois por cento, pela primeira vez desde 2001.

O que explica então esta nova descida da confiança dos consumidores portugueses na primeira metade de 2007? Olhando para a evolução deste indicador por escalão de rendimento nota-se que foi entre os mais pobres que se deu um recuo mais acentuado. Aliás, no grupo constituído pelos 25 por cento mais ricos o índice de confiança manteve-se praticamente inalterado entre o final de 2006 e Junho de 2007.

Ao longo dos últimos 21 anos de cálculo dos indicadores de confiança em Portugal, os inquiridos com maiores níveis de rendimento sempre revelaram, naturalmente, um maior optimismo em relação ao futuro. No entanto, a diferença registada actualmente entre a confiança dos 25 por cento mais ricos e os restantes está entre as mais elevadas de sempre.

A ameaça do desemprego

Um dos motivos para este fenómeno parece estar no perigo que representa o desemprego. Para além dos escalões de rendimentos mais baixos, a quebra da confiança faz-se sentir predominantemente entre a população com qualificação inferior ao ensino superior, com mais de 29 anos de idade, e com empregos por conta própria ou desempregados. Em todos estes casos, é na resposta relativa às expectativas de evolução do desemprego (uma das quatro que é considerada para medir o índice de confiança) que se nota, desde o início do ano, um regresso mais forte do pessimismo.
O INE anunciou, no passado mês de Maio, que a taxa de desemprego atingiu 8,4 por cento no primeiro trimestre deste ano, o valor mais alto registado nas duas últimas décadas.

Níveis de confiança

Idade
Quanto mais jovens mais optimistas são os portugueses. Desde 1986, ano do primeiro inquérito, que tem sido assim. No entanto, desde o final de 2001 que a diferença entre os inquiridos situados nos três escalões mais elevados (30 a 49, 50 a 65 e mais de 65) se esbateu quase completamente. Apenas os jovens entre os 16 e os 29 anos são claramente mais optimistas. Desde o final do ano passado até agora, o maior recuo na confiança deu-se no escalão que vai dos 50 aos 65 anos.

Qualificação
A população portuguesa que foi além do ensino secundário é a mais confiante em relação ao futuro. O resultado não surpreende e mantém a tendência dos últimos 20 anos. No entanto é necessário recuar dez anos para encontrar um mês em que a diferença no índice de confiança entre os mais e os menos qualificados seja mais alta do que a de Junho passado. As expectativas em relação ao desemprego explicam grande parte do diferencial.

Emprego
Os portugueses que se encontram desempregados são, como seria de esperar, os mais pessimistas. E nos últimos meses, a sua confiança em relação ao futuro voltou a diminuir, de forma acentuada. O mesmo se passou com aqueles que têm um emprego por conta própria. Os mais optimistas são os que têm o seu emprego num escritório.

Sexo
Mantendo uma tendência que se verifica desde 1986, as mulheres estão mais pessimistas do que os homens.