3.7.10

Governo prevê agravamento do desemprego em 2011 mas Sócrates mantém optimismo

Por Raquel Martins, in Jornal Público

O Governo reviu ontem em alta a taxa de desemprego para o próximo ano, que deverá atingir os 10,1 por cento


O desemprego vai continuar a crescer no próximo ano. A previsão foi ontem divulgada pelo Governo que espera que a taxa de desemprego sofra um agravamento e atinja os 10,1 por cento em 2011. Estas previsões colidem com as declarações do primeiro-ministro, que ontem se manifestou optmista quanto ao comportamento do desemprego nos próximos meses.

No relatório de Orientação de Política Orçamental divulgado ontem à noite, o executivo reviu em alta o cenário que constava no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), entregue na Assembleia da República em meados de Março, e onde o Governo garantia que o desemprego se manteria nos 9,8 por cento.

O Governo reconhece que só em 2012 o desemprego entrará numa trajectória descendente, mas ainda assim para valores mais elevados do que previra: em 2012, a taxa será de 9,8 por cento (o PEC apontava 9,5 por cento) e em 2013 ainda estará nos 9,6 por cento (contra 9,3 por cento).

Porém, quando ontem foi confrontado com a taxa de desemprego de Maio, que, segundo o Eurostat, chegou aos 10,9 por cento, José Sócrates sublinhou que se trata do "resultado da crise financeira e económica em toda a Europa", mas que "os meses de Verão constituirão meses de abrandamento do crescimento do desemprego". O primeiro-ministro acrescentou ainda que, "nos últimos meses, temos sinais bem claros de que o crescimento do desemprego abrandou".

Sócrates referia-se aos desempregados inscritos nos centros de emprego, que registaram uma redução entre Abril e Maio. Contudo, o ministro da Economia, Vieira da Silva, aconselhou prudência: "A situação obviamente é difícil com um nível de desemprego elevado. Há, no entanto, sinais contraditórios relativos à situação mais recente. Vamos esperar para ver como os dados oficiais do segundo trimestre se irão situar".

O Eurostat veio alertar que o desemprego em Portugal atingiu um novo recorde e no final de Maio já afectava 610.400 pessoas.

A taxa de desemprego chegou aos 10,9 por cento, a mais elevada desde que há registo, e acima dos 10 por cento registados na zona euro e dos 9,6 por cento da União Europeia.

Os dados do organismo de estatísticas europeu (que tem em conta a taxa de desemprego do primeiro trimestre do ano apurada pelo Instituto Nacional de Estatística e os desempregados registados mensalmente pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional) mostram uma subida significativa do desemprego entre Maio do ano passado, quando a taxa estava nos 9,4 por cento, e Maio de 2010. Portugal tem agora a quarta taxa de desemprego mais elevada entre os 21 países analisados pelos Eurostat.

Na comparação mensal, Portugal está também entre os cinco países que viram a taxa de desemprego aumentar. Fazem parte do grupo Bélgica, Irlanda, Espanha (que atingiu os 19,9 por cento) e Chipre. Nos restantes 16 países, a taxa de desemprego estagnou ou diminuiu.

É entre os jovens que as taxas de desemprego ganham maior expressão. Mas esta não é uma realidade exclusiva de Portugal (22,1 por cento). Na maioria dos países da União Europeia, já ultrapassa os 22 por cento. Espanha bateu todos os recordes e tem agora 40,5 por cento dos jovens em idade activa sem trabalho.