Bruno Amorim, in Jornal de Notícias
Líder da Associação Empresarial de Portugal fala ao JN da nova confederação anunciada recentemente pelos patrões e reitera que a instituição que representa vai ter ainda mais influência no que se refere a questões ligadas à região Norte
A CIP - Confederação Empresarial de Portugal (CIP-CEP), apresentada recentemente, vai juntar grande parte do patronato nacional. José António Barros, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), fala ao JN das metas deste novo organismo, do papel que a AEP terá no processo e garante que os empresários nortenhos não perderão voz. A sua posição, até será "reforçada".
Face à actual conjuntura, o surgimento da nova confederação patronal, a CIP-CEP, é ainda mais benéfico?
Seria benéfico em qualquer altura e particularmente agora. Um dos objectivos da fusão é dar um grande exemplo nacional de concertação de esforços. Portugal tem cerca de 760 associações empresariais, 11 vezes mais do que a Bélgica ou a Holanda, países com a nossa dimensão. É evidente que a capacidade de actuação de cada uma é mais reduzida. É preciso reorganizar o associativismo e entendemos que, dando o exemplo, conseguiremos levar outras entidades a seguir o mesmo caminho.
Ganha-se maior massa crítica?
A organização das empresas em associações visa a defesa dos seus interesses. Para isso, é preciso ter peso. Vamos juntar três estruturas - AEP, Associação Industrial Portuguesa (AIP) e Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) - para criar uma confederação com competências alargadas, na área da concertação laboral e social, sem esquecer a missão de duas Câmaras de Comércio e Indústria (AEP e AIP) nas áreas da formação, internacionalização, missões empresariais, feiras e exposições.
A nova CIP-CEP dará "especial atenção" às PME. Pode especificar?
O problema mais grave que Portugal enfrenta é o desemprego. E as PME são responsáveis por quase 75% do emprego no nosso país. Fala-se muito de falências e esquecem-se os milhares de empresas que nasceram em 2010. É certo que algumas acabam por morrer, mas as PME têm grande vitalidade, gerando movimentação no mercado de trabalho e produzindo bens e serviços transaccionáveis, o que pode ajudar o país a exportar mais.
Que posição terá a AEP junto das PME, agora enquanto Câmara de Comércio e Indústria (CCI)?
AEP e AIP já são CCI há muitos anos. Agora vão centrar-se mais nessas funções de serviços, ajudando as empresas, por exemplo, na sua internacionalização.
Esse é um grande objectivo?
É o maior. Vamos fazer tudo para aumentar o número de PME que exportam. Actualmente, só 7% das empresas nacionais são exportadoras. Se chegássemos aos 10%, já seria um salto brutal para o equilíbrio das contas externas do país.
Todas as acções de AEP e AIP terão coordenação central da CIP-CEP?
De maneira nenhuma. Transferimos para a nova confederação as áreas institucionais, de representação das empresas a nível nacional, junto dos parceiros sociais. Deixámos de ter essa competência do mesmo modo que a CIP deixou de ter acções de formação profissional e missões no estrangeiro, concentradas agora nas CCI.
Porque se manteve a designação "CIP"?
A marca CIP tem valor e é reconhecida. Porém, trocámos o logótipo. Além disso, a CIP está representada em várias organizações, como o Conselho Económico e Social, a Comissão Permanente de Concertação Social e várias entidades europeias. Deixámos ficar o registo comercial e número fiscal da CIP para manter essas filiações e modificámos todo o resto.
Relativamente às feiras e congressos da AEP e AIP, estas poderão ser reorganizadas de modo diferente?
Nessa área, não haverá fusão. A AIP manterá a FIL e o Centro de Congressos de Lisboa, e nós, a Exponor e o Europarque. Em 2011, poderemos é articular o calendário das feiras, para não fazer a mesma coisa em simultâneo, com prejuízo para ambos. Mas não vai haver ligação entre os negócios.
Já os serviços das duas CCI (AEP e AIP) caminham para a fusão...
Já estava previsto e queremos convidar as outras cinco CCI do país a integrar o processo, no sentido de criar uma Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. Um país como a Turquia, com 70 milhões de pessoas, tem só uma estrutura do género. Portugal tem sete. É fácil ver que algo está errado.
Quando será finalizada essa fusão?
Vai haver um processo de integração, onde convidaremos outros intervenientes. Pode até ser criada uma entidade de raiz. Queremos fazer isto o mais depressa possível. No limite, até ao final de 2011.
E a eventual Câmara de Comércio nacional onde terá a sua sede?
Ficará no Norte. Em termos institucionais, faz sentido a confederação patronal estar em Lisboa, junto dos parceiros sociais, com quem se reúne e conversa permanentemente. Já as CCI têm de estar perto das empresas. Por exemplo, é onde se emite o certificado de origem que acompanha cada produto exportado. Uma Câmara de Comércio Portuguesa, a acontecer, tem que ficar no Porto, onde se concentram mais empresas.
Como comenta os receios de que as empresas nortenhas podem perder voz com a criação da CIP-CEP?
Isso é interpretar ao contrário. Tanto as empresas do Norte como do Sul vão passar a ter uma voz mais forte a representá-las. A CIP-CEP defenderá todas.
E a conotação da AEP enquanto voz do Norte continuará a verificar-se?
Claro que sim. Sempre que necessário, a AEP vai pronunciar-se sobre questões regionais. Poderemos até ter maior protagonismo porque deixamos de nos preocupar com questões nacionais que ficam com a confederação. O nosso papel sai reforçado.
O presidente da AEP não se coibirá de falar de questões regionais?
Sempre participei e agora falarei ainda com mais força, já que também serei presidente da assembleia-geral da CIP-CEP.