Gina Pereira, in Jornal de Notícias
Casa Pia tem seis apartamentos para 22 jovens onde treina o seu processo de autonomização
Chamam-se apartamentos de autonomização e o primeiro a abrir foi em 2005, destinado a cinco raparigas. Actualmente, a Casa Pia de Lisboa tem seis apartamentos, onde 22 jovens, todos maiores de 16 anos, vivem sozinhos. É o treino para se fazerem à vida.
São a coqueluche da instituição e nasceram para dar resposta a uma lacuna, identificada em 2004, num estudo académico levado a cabo para detectar as necessidades da população da Casa Pia de Lisboa: fazia falta uma resposta educativa que permitisse aos jovens ali acolhidos criar competências de autonomia que os habilitassem a emancipar-se. Da teoria à prática demorou apenas um ano e, actualmente, são seis os apartamentos do projecto Residências e Apoio à Integração de Adolescentes (RAIA), por onde já passaram 27 jovens, 16 deles já totalmente autónomos: alguns a frequentar a universidade, outros a trabalhar.
Joaquina Madeira, presidente do Conselho Directivo da Casa Pia - instituição que ontem celebrou 230 anos - explica que a solução se destina àquela percentagem de jovens com que a Casa terá de ficar "até mais tarde", porque não têm qualquer hipótese de se integrar na família biológica ou alargada.
Apesar da "procura incessante da família", às vezes essa integração não é possível, pelo que os apartamentos proporcionam o treino dos jovens para que, no máximo em dois anos, possam autonomizar-se, ainda que com o apoio técnico e económico da instituição.
O projecto já é procurado por outras entidades e o balanço é tão positivo que a Casa Pia decidiu avançar com uma solução idêntica para jovens de 15 anos, com um acompanhante em permanência. Objectivo: começar a treinar "ainda mais cedo" a autonomia.
Isabel Morais, assessora da Direcção e primeira responsável pelo RAIA, admite que nas residências de acolhimento - onde vivem 12 crianças - "há muito poucas condições para desenvolver estas competências". A opção foi criar espaços na comunidade onde os jovens - um máximo de cinco e um mínimo de dois, em grupos de rapazes ou raparigas - vivem sozinhos, gerindo a casa, o tempo e as despesas.
Sozinhos é como quem diz. Têm uma educadora responsável, que conserva a chave da casa e pode entrar, de surpresa, a qualquer hora do dia ou da noite - e que, de início, os prepara para a nova vida, ensinando-os a cozinhar, fazer compras e gerir a casa. A educadora visita--os "quantas vezes for necessário, mas o desejável é que seja cada vez menos", tirando as duas reuniões semanais obrigatórias, uma com o grupo (para resolver eventuais problemas) e outra individual, para acompanhar os percursos e opções de cada um.
Todos recebem uma bolsa mensal de 385,90 euros: 200 para as despesas da casa (comida, água, luz, gás, TV Cabo e internet), 100 para um fundo de reserva e 85 para despesas pessoais. Para entrar nos apartamentos, é preciso ter 16 ou mais anos, mais de três anos de acolhimento na Casa Pia, um percurso escolar e pessoal definidos e não apresentar problemas de comportamento graves. Alguns jovens hesitam, inicialmente, mas por norma todos acabam por superar as expectativas. A maioria abandona mesmo o projecto antes dos dois anos. Satisfeita.