Por Clara Viana, in Jornal Público
Jovens que estão no superior preferem prosseguir estudos a enfrentar o mercado de trabalho. Em 2009, Portugal foi campeão nesta tendência
Ainda não são os dados definitivos sobre os efeitos da recessão económica no emprego, mas os números provisórios que já existem sobre 2009 colocam Portugal numa posição de destaque pela positiva. Dos 31 países que integram a Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), foi um dos quatro em que o desemprego baixou, nesse ano, entre a população com 15 a 29 anos e estudos ao nível do ensino superior, segundo revela o estudo "Education at Glance", revelado ontem pela organização.
Todos os anos a OCDE faz um ponto da situação sobre o estado e os desafios da educação nos seus Estados-membros. Para a edição de 2010, cujos dados de referência dizem respeito a dois anos antes, a OCDE optou por privilegiar a aposta no ensino superior.
"Os poderes públicos devem desenvolver o ensino superior de modo a estimular o emprego e aumentar as suas receitas fiscais", conclui a organização, apoiando-se para esta mensagem nos dados provisórios do emprego em 2009.
"Nos países mais afectados pela recessão económica, as pessoas pouco qualificadas tiveram mais dificuldades em obter ou manter um emprego", sublinhou a propósito o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria.
Jovens mais atingidos
No conjunto dos países da OCDE, os jovens foram os mais afectados pela crise, com a taxa de desemprego entre os 15 e os 29 anos a aumentar 3,3 pontos, mas entre 2008 e 2009, na maioria dos Estados-membros, os menos afectados foram aqueles que detinham mais qualificações, frisa-se no estudo.
A taxa de desemprego aumenta 4,8 pontos entre os jovens com habilitações inferiores ao ensino secundário e apenas 1,7 pontos entre os que já tinham um diploma superior. "Os menos qualificados têm mais hipóteses de terem um trabalho entre os sectores que foram mais afectados pela crise, como a construção ou a indústria automóvel", afirma-se no estudo.
Em Portugal, segundo os mesmos dados, o desemprego entre estes últimos aumentou quase cinco pontos, mas diminuiu entre os que tinham já formação de nível superior. O que não quer dizer necessariamente que tenham existido mais oportunidades de emprego. Uma hipótese de explicação, segundo a OCDE: "Os jovens preferiram prosseguir estudos em vez de enfrentarem a situação difícil que se vive no mercado de trabalho." Tem sido uma tendência em crescendo nos últimos anos.
Apesar desta posição de destaque que terá alcançado em 2009, no ano anterior, segundo o mesmo estudo, a taxa de desemprego entre os licenciados mais do que duplicava, em Portugal, a média da OCDE. Entre os jovens com 15 a 29 anos e estudos superiores estava, por cá, nos 12,3 por cento, enquanto a média dos Estados da organização internacional se situava nos 5,2. Por outro lado, a percentagem de desempregados neste grupo etário era também mais alta entre os jovens com estudos superiores do que naqueles com níveis de habilitações inferiores - com o ensino secundário, esta percentagem era de 5,2 por cento.
Já no que respeita aos licenciados entre os 25 e os 29 anos que já tinham emprego, o relatório da OCDE revela que Portugal está entre os países onde estes mais encontram empregos que não estão abaixo da sua formação. Cerca de 21 por cento desses licenciados eram sobrequalificados para o trabalho que desempenhavam, o que representa menos dois pontos do que a média da OCDE. No Canadá, Espanha, Estados Unidos, Irlanda ou Nova Zelândia, esta percentagem sobe acima dos 30 por cento. No Luxemburgo ou na República Checa desce abaixo dos 10 por cento.
Dobro do salário
Quantos aos proveitos materiais, Portugal é também dos países da OCDE onde mais compensará ter uma licenciatura, embora seja um dos Estados onde os licenciados têm ordenados mais baixos. Com base em dados de 2006, e no que respeita à população entre os 25 e os 64 anos, o relatório conclui que 47,2 por cento dos licenciados ganham mais do dobro do salário médio. O seu rendimento anual ronda os 35 mil euros. O rendimento médio de um licenciado na OCDE anda à volta dos 48 mil euros.
Mas não são só os indivíduos que têm a ganhar com mais formação. Este é um investimento com retorno garantido também para as finanças públicas e para a riqueza das nações, sublinha a OCDE.
Um exemplo: em média, nos países da organização, um homem com uma licenciatura gerará, ao longo da sua vida, mais 92 mil euros de receitas fiscais do que um outro que tenha apenas o ensino secundário.