por Carla Aguiar, in Diário de Notícias
Perder emprego nesta crise baixa rendimento em 20%, mesmo para quem encontre outro trabalho
Quem perdeu o emprego durante a actual crise económica terá, daqui a 15 ou 20 anos, um rendimento 20% inferior ao que teria se mantivesse o seu anterior emprego. A conclusão é de estudos ontem apresentados na conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em Oslo, Noruega, sobre os desafios do crescimento, emprego e coesão social.
A perda de rendimento para as vítimas directas da actual crise é apenas uma das consequências do aumento brutal do desemprego, que cresceu em mais 30 milhões de pessoas desde 2007. Nas situações em que o desemprego persiste durante 20 anos, a taxa de mortalidade vai mesmo aumentar até reduzir a esperança média de vida em ano e meio, aponta um outro estudo citado no relatório conjunto da OIT e do FMI, a partir de análises realizadas em anteriores períodos recessivos.
Porque quando alguém perde o seu emprego, "o mais provável é que tenha problemas de saúde ou morra jovem", disse o director-geral do FMI, Strauss- Kahn, suportado por estudos feitos nos Estados Unidos.
Por isso, aquele responsável não hesitou em considerar que "as consequências sociais do desemprego, e até para a saúde, são enormes". Numa altura em que 210 milhões de pessoas estão à procura de emprego nos países industrializados, Strauss-Kahn e o secretário-geral da OIT, Juan Somavia, defenderam a urgência de encetar abordagens mais criativas para fomentar a criação de emprego, com maior aposta na formação e cooperação entre universidades e empresas.
É que "a situação actual do mercado laboral é catastrófica", alertou o director-geral da OIT. Percebe-se o envolvimento do FMI nesta discussão, uma vez que são o próprio desenvolvimento económico, coesão social e estabilidade política que ficam ameaçados com a permanência de elevados índices de desemprego.
"O grande risco é que a perda temporária de postos de trabalho se transforme em desemprego de longa duração, produzindo uma progressiva perda de especialização por parte dos trabalhadores e sua exclusão da economia produtiva", refere um documento que serviu de base à conferência. "Nestas circunstâncias, de procura anémica e alto desemprego, a economia pode ficar estagnada, sendo que a crescente deslocalização da economia pode pôr em perigo a coesão e, com isso, a paz e a estabilidade".
Em Portugal, a ministra do Trabalho, a Autoridade para as Condições do Trabalho e os parceiros sociais também se reuniram ontem para discutir estratégias de combate ao desemprego e modos de melhorar o cumprimento da legislação laboral (ver texto em baixo).
Transversais a toda a sociedade, os efeitos do desemprego reflectem-se ainda nas crianças: um estudo citado no documento conjunto conclui que a perda de emprego dos pais aumenta em 15% a probabilidade de uma criança repetir o ano escolar por baixa de rendimento. E, no longo prazo, um estudo feito no Canadá demonstra que filhos de pais que tenham perdido o emprego, sofreram uma quebra de cerca de 10% nos seus futuros rendimentos em comparação com crianças similares cujos pais mantiveram o trabalho.
"Se você perde o seu trabalho, os seus filhos vão ter problemas na escola e o mais provável é que perca a confiança nas instituições públicas e na democracia", adiantou o director do FMI, considerando que a combinação de todos estes factores constitui "uma grande ameaça para a coesão social". Os EUA e a Espanha são exemplos de países onde mais aumentou o número de desempregados.


