15.9.10

Fome baixa mas há 925 milhões de famintos no mundo

Por Pedro Crisóstomo, in Jornal Público

Embora o número de pessoas com fome no mundo tenha diminuído pela primeira vez em 15 anos, continuam a existir 925 milhões a sofrer de fome crónica. Um número que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) considera "inaceitável", assumiu ontem o director-geral da instituição, Jacques Diouf.

Estes números, sublinhou Diouf, colocam em risco as metas definidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) para 2015, que vão ser analisadas na próxima semana em Nova Iorque, numa cimeira que junta dezenas de líderes mundiais.

De acordo com as estimativas reveladas ontem, em Roma, houve uma diminuição em 98 milhões de pessoas com fome em 2010 (no ano passado, ascendiam a um milhão) mas continua a morrer uma criança a cada seis segundos, por problemas de subnutrição.

"É absolutamente inaceitável", advertiu Jacques Diouf, para quem "estes níveis elevados de fome" são uma "tragédia" e mostram que será "extremamente difícil chegar não somente ao primeiro objectivo do milénio [erradicar a pobreza extrema e a fome], mas também a todos os outros", definidos há dez anos por 189 estados-membro da ONU.

As palavras de Diouf são um passo atrás em relação àquilo que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, dissera há dias a propósito do relatório sobre os Objectivos do Milénio de 2010: "O nosso mundo possui o conhecimento e os recursos necessários para alcançar os ODM". "Não os alcançar seria um fracasso moral e prático inaceitável", declarou Ban Ki-moon.

Mas, ontem, o director executivo do Programa Alimentar Mundial (PAM), Josette Sheeran, alimentava novas esperanças, ao dizer que este não é o momento de baixar os braços, dadas as "prontas" respostas dos estados para estancar a escalada da fome.

A maioria das pessoas subalimentadas do mundo sobrevive com menos de um dólar por dia e habita zonas rurais de países em desenvolvimento: 578 milhões na Ásia e no Pacífico, e 239 na África subsariana. E, caso os preços dos alimentos continuem a subir, vão ser ainda maiores os obstáculos e as dificuldades para combater aquilo que a FAO considera ser "um problema estrutural".

O Bangladesh, a China, a República Democrática do Congo, a Etiópia, a Índia e o Paquistão congregam dois terços dos esfomeados do mundo, mas os países desenvolvidos têm igualmente 19 milhões de pessoas subnutridas.