8.9.10

Risco da dívida portuguesa atinge máximo de sempre

Por Rosa Soares, in Jornal Público

Situação da banca europeia e receios sobre risco de incumprimento de vários países geram nova onda de preocupação nos mercados


O Estado português pode ser obrigado a pagar juros mais elevados na emissão de Obrigações do Tesouro agendada para hoje. Tudo porque o risco do país, aos olhos dos investidores internacionais, voltou a subir. O prémio ou spread exigido pelos investidores para comprar obrigações portuguesas face às congéneres alemãs atingiu ontem o valor mais alto de sempre - 351 pontos base. A taxa de juro está quase nos 5,8 por cento.

Para além do mercado de dívida, onde o risco da Irlanda e dos países do Sul da Europa tem vindo a subir há vários dias - reflectindo novos receios de que esses países, especialmente a Grécia, possam entrar em incumprimento -, os restantes mercados financeiros registaram ontem uma grande turbulência: as bolsas registaram fortes quedas, com o sector financeiro a regressar às perdas elevadas, e o euro registou uma significativa desvalorização face ao dólar. A esta turbulência ajudou um artigo do The Wall Street Journal, a dar conta de que bancos europeus, designadamente franceses e o inglês Barclays, terão ocultado parte da sua exposição à dívida soberana, facilitando assim a sua passagem nos "testes de stress".

Essa notícia agravou a já ténue confiança dos investidores em relação à saúde do sistema financeiro europeu, com a máxima preocupação a concentrar-se actualmente nos bancos irlandeses. A pesar negativamente na perspectiva dos investidores estão também as expectativas de fraco crescimento económico de alguns países europeus, o que é fundamental para cumprir os níveis de dívida pública contratada. A notícia de quebra de encomendas à indústria alemã também não ajudou.

Em relação à dívida portuguesa, continuam a surgir algumas opiniões de que o país não conseguirá evitar a sua reestruturação. A sustentar estas teses estão as perspectivas de fraco crescimento económico e a falta de sinais de que o país conseguirá controlar o elevado endividamento.

Faltam sinais positivos

Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, destaca que, ao contrário de Espanha, que já conseguiu reduzir o défice externo e aumentar o nível de poupança, Portugal ainda não deu provas de que esteja a ganhar este combate. Da parte das famílias também não há sinais positivos: aqueles que conseguiram manter o emprego não estão a poupar muito mais, nem a reduzir o seu endividamento.

Estas são questões a que os investidores estrangeiros estão atentos. Cristina Casalinho refere que as querelas políticas entre PS e PSD sobre a aprovação do próximo Orçamento de Estado estarão a pesar pouco no agravamento do risco do país.

O prémio ou spread que os investidores estão a exigir para comprar obrigações portuguesas a 10 anos face às alemãs - referência para o mercado - atingiu ontem os 351 pontos base, um novo máximo histórico. No pico da crise da dívida pública do Sul da Europa, no início de Maio passado, esse spreadera de 346 pontos base.

Os juros das obrigações a 10 anos registaram ontem uma subida de 12 pontos, para 5,795 por cento. Não se trata do máximo, uma vez que, no pico da crise, os juros chegaram a superar os seis por cento, mas é o valor mais alto desde Junho último. Porque estão a ser consideradas um investimento seguro, ou de refúgio, os juros das obrigações alemãs estiveram ontem em queda, com o prazo de 10 anos a situar-se nos 2,249 por cento.

Também a Espanha, a Irlanda e, especialmente, a Grécia estão a registar novas subidas dos juros da dívida pública. No caso grego, onde o Governo eleito há um ano acaba de ser remodelado (ver página 14), os juros das obrigações a 10 anos estão em 11,674 por cento, o nível mais alto de sempre.

A reflectir o aumento do risco do país está o aumento dos credit default swaps (CDS), um seguro para eventual incumprimento do país, que registava ontem a maior subida do mundo. A CMA Vision, empresa especializada em avaliação de risco de Estados, coloca Portugal entre os 10 países com maior probabilidade - 23 por cento - de entrar em incumprimento.