18.12.10

Consumo privado afunda no final do ano e já está a crescer menos que o resto da economia

Por Ana Rita Faria, in Jornal Público

Impacto da austeridade sobre as famílias fez-se sentir no passado mês de Novembro. Portugueses reduziram os seus gastos, desamparando a economia

É o sinal mais claro até agora de que as famílias portuguesas estão a apertar os cintos, na sequência das medidas de austeridade apresentadas este ano e dos receios face ao que está por vir em 2011. Em Novembro, o consumo privado entrou em queda e registou uma evolução pior do que a da actividade económica, algo que tinha acontecido também no mês passado, mas que, fora isso, não se verificava desde Janeiro de 2002.

Isto revela que os gastos das famílias, que tinham vindo a suportar o crescimento nos últimos anos, estão a retrair-se, ficando o crescimento da economia portuguesa cada vez mais dependente das exportações.

De acordo com os indicadores de conjuntura, ontem divulgados pelo Banco de Portugal (BdP), o consumo privado das famílias portuguesas registou no mês passado a primeira queda homóloga (menos 0,4 por cento) desde Agosto de 2009. Já o indicador coincidente mensal do BdP, que estima a actividade económica com base nos dados disponíveis até ao momento (os valores finais são dados pelo INE), viu o seu crescimento abrandar 0,3 por cento em Novembro face ao mesmo período do ano anterior. É a taxa de crescimento homóloga mais baixa desde Fevereiro de 2009.

Os dados do BdP mostram ainda que, à semelhança do que tinha acontecido em Setembro, a actividade económica registou no mês passado um crescimento superior ao do consumo privado, algo que não acontecia desde Janeiro de 2002. Regra geral, o aumento do consumo tem sido sempre superior ao da economia, o que mostra que esta, apesar de estar a desacelerar, tem resistido sobretudo graças às exportações.

Desde Maio, altura em que o Governo anunciou o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) II e em que rebentou a crise da dívida pública na Grécia, as famílias têm vindo a desacelerar os seus gastos. As medidas de austeridade que se seguiram depois disso (entre as quais o aumento do IVA a partir de Julho) colocaram ainda mais pressão sobre os orçamentos familiares. Se, em Maio, o consumo privado crescia uns confiantes 2,9 por cento face ao ano anterior, no mês passado entrou pela primeira vez este ano em terreno negativo, depois de crescer 0,2 em Setembro.

Aparentemente, nem a perspectiva de um novo aumento do IVA no próximo ano (para a taxa de 23 por cento) está a ser suficiente para levar os portugueses a consumir mais na recta final do ano. Vários economistas estavam a antecipar um maior consumo nos últimos meses, nomeadamente de bens duradouros (como os automóveis), para fugir ao agravamento de preços no próximo ano, mas as medidas de austeridade previstas para 2011 e a possibilidade de uma nova recessão parecem estar a incentivar as famílias a poupar.

Sinal disso é a confiança dos consumidores que, segundo os dados do Banco de Portugal, voltou a cair mais em Novembro, fixando-se nos 51 pontos negativos, o valor mais baixo desde Fevereiro de 2009.