Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
Para Fernando Casimiro, que vai somar este ano o quarto recenseamento geral da população à sua bagagem, a noite do dia censitário - 21 de Março - é a mais calma de todas. O "exército" de 30 mil pessoas envolvidas na operação Censos 2011 já foi escolhido, os recenseadores já distribuíram milhões de questionários por todo o país e ainda falta um mês para começar o tratamento dos dados. Pelo menos temporariamente, o coordenador dos censos de INE, de 60 anos, pode respirar de alívio, integrar um grupo especial de recenseadores e percorrer as ruas de Lisboa para recensear os sem-abrigo. "É a noite mais calma e mais divertida de todas", confessa.
Natural do concelho de Mira, Fernando Casimiro formou-se em Psicologia e começou a trabalhar no INE na área do comércio externo. Aos 31 anos, integrou os primeiros censos como técnico, na operação de 1981. Chegou ao fim como chefe de divisão. Hoje coordena toda uma operação que tem começar três anos antes do momento censitário e só acaba no ano a seguir.
Para Fernando Casimiro, os momentos de maior tensão são aqueles que antecedem a realização propriamente dita do recenseamento. Há toda uma infra-estrutura para preparar e o primeiro trabalho começa em 2007, com a elaboração de um plano de acção e a definição de um orçamento. Segue-se um sem-número de acções, como a elaboração dos questionários e operações experimentais. Depois disso, começa a alimentar-se a organização com mais pessoas, como delegados regionais ou municipais e recenseadores.
Nesta fase do processo, uma das principais inquietações do coordenador dos censos é não saber se haverá candidatos suficientes ou, pelo menos, candidatos nos lugares que são necessários. Este ano, por exemplo, apesar de processo de recrutamento de recenseadores já ter ultrapassado o número de pessoas necessárias (até sexta-feira, havia 29 mil candidaturas para 25 mil lugares), há um défice de candidatos para algumas freguesias do Alentejo e do Algarve.
Iniciar a transição
Para a operação deste ano, Fernando Casimiro só tem um objectivo: "acabar os censos com o rigoroso cumprimento de todos os objectivos - prazo e conteúdo - na disponibilização dos resultados censitários nas suas várias fases e com indicadores de qualidade claramente competitivos com os censos anteriores e face aos restantes países da União Europeia".
Mas, quando terminar a operação deste ano, Fernando Casimiro não vai ficar parado e tem um desafio no horizonte: mudar a forma como se fazem os censos em Portugal. A ideia é desenhar e implementar um processo de transição censitária, em que o recenseamento geral da população se passe a basear em dados administrativos, e não em dados que têm de ser recolhidos através de inquéritos feitos de dez em dez anos.
Numa primeira fase, o trabalho passa por avaliar um conjunto de ficheiros administrativos e verificar até que ponto correspondem às necessidades de um recenseamento. No próximo ano, o INE produzirá o relatório decorrente dessa avaliação e que permitirá perceber se o conjunto de informação administrativa que existe é ou não suficiente para ter um censo ou, pelo menos, uma versão reduzida do mesmo. "O objectivo é mudar a forma de fazer os censos, passando a usar os dados recolhidos por outras instituições para fazer um censo todos os anos", explica Fernando Casimiro. Os custos seriam incomparavelmente menores e haveria "contagens" da população muito mais regularmente.
O coordenador do INE recorda que países como a Finlândia, a Dinamarca e a Holanda já abdicaram completamente do recenseamento feito de porta e porta e, todos os anos, em Janeiro, produzem um bilhete de identidade gigante da sua população com base em informação administrativa "que é muito mais avançada do que a nossa". Mas avisa: "Replicar isto é um trabalho para a próxima década".


