26.4.11

37 anos depois. Todos admitem que Portugal falhou

por Luís Claro, in iInformação

Presidente da CAP diz que a culpa é dos políticos e Bettencourt Picanço teme que a pobreza volte aos tempos da ditadura. Um balanço da democracia

Com o desemprego mais alto de sempre e a certeza de que o futuro trará mais medidas de austeridade, o país comemora a democracia na situação mais difícil de sempre. Não falta, por isso, quem lamente as falhas cometidas durante estes 37 anos. "Do ponto de vista da eficácia do Estado e da eficácia governativa, que poderia proporcionar crescimento económico, temos de reconhecer que falhámos. É o drama da minha geração", diz o vice-presidente da Assembleia da República, Guilherme Silva.

O deputado social-democrata diz que o novo regime trouxe "liberdade de expressão e de opinião e isso não tem preço", mas admite que os vários governos "não conseguiram conciliar democracia com eficácia".

Um exemplo, diz o ex-líder parlamentar dos sociais-democratas, foi a incapacidade de "encontrarmos um desígnio nacional, que funcionasse acima da alternância de poder". Na prática, existe ainda "falta de maturidade democrática", que impede a concretização de pactos de regime em áreas fundamentais como a Justiça. "Trazemos tudo para a luta partidária e cedemos à tentação do mais fácil", acrescenta.

Do mesmo se queixa o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), João Machado, que não vê maneira de a agricultura conseguir melhores resultados sem uma política coerente e estável. João Machado considera mesmo que "o regime tem de ser refundado, porque conduziu Portugal a este estado". E de quem é a culpa? "Isso deve-se aos políticos que tivemos nos últimos anos, que estão mais interessados em se servir, bem como às suas clientelas, do que em servir o país", afirma o presidente da CAP.

Se à direita a visão do futuro do país é pessimista, entre os sindicalistas não é melhor. Bettencourt Picanço prevê "mais um passo atrás" nas conquistas de Abril com a presença do FMI em Portugal. "Com um desemprego de 11% e a maior parte dos desempregados sem subsídio o que temos é níveis de subsistência inferiores àqueles que tínhamos antes do 25 de Abril. É o regresso a um modo de vida bastante mais parco", afirma o presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado e militante do PSD.

Michael Seufert ainda não tinha nascido no 25 de Abril de 1974, mas recusa um regime que tinha "polícia de pensamento", como lhe chama. Seufert é líder da Juventude Popular e defende que a "herança mais negativa" do 25 de Abril foi "a inscrição do socialismo na Constituição e tudo o que isso significou". Para o ex-deputado do CDS, o país está ainda a pagar "alguns excessos" que se seguiram à revolução. A verdade é que, da direita à esquerda, todos concordam que a situação do país é muito difícil e provavelmente já não podemos ser tão afirmativos como Salgueiro Maia, quando disse, no Largo do Carmo, que "não há força que consiga fazer frente à nossa". Trinta e sete anos depois, a realidade é outra.