2.4.15

Metade das crianças na Síria não vai à escola. A guerra está a criar uma "geração perdida"

por Cristina Nascimento, in RR

Quase três milhões de crianças sírias não têm acesso à escola, ficando com o seu futuro em risco e mais vulneráveis à exploração. O alerta é lançado pela organização não governamental (ONG) Save the Children no mais recente relatório sobre os efeitos do conflito na escolaridade infantil.

O documento lembra que o país está em guerra há quase quatro anos e que, se nada for feito para melhorar a escolaridade no país, "a perspectiva de paz, estabilidade e prosperidade económica torna-se ainda mais incerta".

Antes da guerra, quase todas as crianças estavam inscritas na escola primária e o grau de literacia dos jovens entre os 15 e os 24 anos fixava-se nos 95%. Actualmente, a percentagem de crianças inscritas desceu para 50%. Nas zonas mais afectadas pelo conflito, os números podem descer até aos 6% (na cidade de Alepo, por exemplo).

A Save the Children fala mesmo numa "geração perdida". A ONG lembra que, antes da guerra, um adulto que não tivesse completado a escolaridade básica ganhava menos um terço do que aqueles que concluíram o ensino secundário e menos de metade do que os que conseguiram concluir os estudos superiores. Com o afastamento das crianças do sistema de ensino, a disparidade vai agravar-se, garante a organização.

Quando aprender é "luxo"
O cenário nas zonas onde muitos sírios conseguiram encontrar refúgio é igualmente preocupante. "Para muitas crianças refugiadas na Síria o ensino a tempo inteiro é um luxo", escreve a Save the Children.

"Quase metade das crianças refugiadas em idade escolar não recebe qualquer tipo de educação e apenas 340 mil estão formalmente inscritas nalgum tipo de ensino", acrescentam. Em alguns locais, os números são ainda piores. Por exemplo, no Líbano, país que acolheu a maior parte dos refugiados sírios, 78% das crianças sírias estão fora da escola.

O relatório da organização refere também que a escola, além de ser um local de instrução, é também um sítio onde, apesar de tudo, as crianças estão mais protegidas.

"Quando as crianças estão na escola estão menos vulneráveis a riscos como trabalho infantil, casamento em idade precoce ou recrutamento para grupos armados", descreve o relatório, acrescentando que "a frequência da escola reintroduz uma noção de estabilidade e permite-lhes enfrentar melhor as dificuldades".

Um quarto das escolas destruídas
A Save the Children refere que, nestes quatro anos, quase uma em cada quatro escolas do país ficou parcial ou totalmente destruída.

A organização estima que os custos directos de substituir o equipamento escolar e os custos de reconstrução de escolas destruídas ou ocupadas rondem os três mil milhões de euros.

Há outros números a reter deste relatório. A organização estima que o custo das crianças continuarem sem acesso ao ensino vai representar 5,4% do Produto Interno Bruto do país, ou seja, quase 1,5 mil milhões de euros.

Perante este cenário, a Save the Children quer que 2015 seja o ano do regresso das crianças sírias à escola.

"Apelamos aos doadores, aos países que acolhem crianças refugiadas da Síria, às partes em conflito e à comunidade internacional para que 2015 seja o ano em que o futuro das crianças sírias retome o seu caminho", pede a ONG.