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1.10.21

PNUD lança iniciativa para seguros contra catástrofes nos países pobres

in ECO Seguros

Em cerca de 80 países pobres, os custos de recuperação de catástrofes representam em média 29 mil milhões de dólares por ano e apenas 3% desse valor está coberto por seguros.

O PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP na sigla inglesa) anunciou o lançamento de uma iniciativa para apoiar governos (setor público) e entidades privadas de países menos desenvolvidos (PMD) a implementar seguros para situações de crise como pandemias e catástrofes naturais, anunciou em comunicado a agência das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento.

O IRFF – Insurance and Risk Finance Facility, um instrumento no âmbito das facilidades de financiamento e investimento promovidos para auxiliar PMD a enfrentarem pobreza, alterações climáticas e outras crises globais, pretende catalisar recursos financeiros e contribuições de várias fontes e doadores, incluindo o próprio PNUD.

Nos países mais pobres, um total de 77 nações, os custos de recuperação de catástrofes representam em média 29 mil milhões de dólares por ano e apenas 3% desse valor está coberto por seguros. Este gap faz com que estes países suportem, com esforço próprio, os custos da reconstrução ou, como é comum, dependam de auxílio humanitário.

Só em 2020, cerca de 980 eventos catastróficos originados por perigos naturais custaram à economia global 290 mil milhões de dólares. Sob o impacto da pandemia (Covid-19), cerca 150 milhões pessoas voltaram a ser remetidas à pobreza, salienta o comunicado. “(…) Sem resiliência financeira, os mais vulneráveis arriscam ficar enclausurados numa espiral descendente de pobreza e endividamento,” adverte Achim Steiner, administrador do PNUD.

Para já, o IRFF conta com 35 milhões de euros de apoio já avançado pela Alemanha, através do Ministério da Economia, Cooperação e Desenvolvimento (BMZ). Segundo Maria Flachsbarth, secretária de Estado do BMZ, o país está “fortemente empenhado no fortalecimento da InsuResilience Global Partnership”, fundo lançado em 2017, na COP23, cimeira do Clima realizada em Bona, na Alemanha.

O objetivo do IRFF é o de contribuir para criação de seguros e soluções financeiras público-privadas que permitam cobrir riscos em mais de 50 países em desenvolvimento até 2025, contribuindo desta forma para esforço de concretização da InsuResilience Vision 2025, uma parceria amplamente apoiada por países do G7, Banco Mundial e o Insurance Development Forum (seguradoras globais), envolvidos no reforço da resiliência dos países mais vulneráveis ao impacto das alterações climáticas.

A visão global partilhada pelos países e organizações que integram a Vision 2025 coincide com um objetivo que voltará a ser reafirmado na COP26, agendada para novembro, em Glasgow: assegurar, até 2025, que 500 milhões de pessoas pobres e vulneráveis tenham cobertura e proteção contra desastres relacionados com as alterações climáticas, crises sanitárias e riscos socioeconómicos.

6.10.20

Este Portugal solidário que não sabe virar as costas

André Brito, in Expresso

Projetos Expresso. Ajudar. Durante o surto de covid-19, centenas de trabalhadores da economia social continuam a apoiar diariamente os mais vulneráveis na luta pelo básico: casa, emprego, alimentação e saúde

Alexandra Gomes já tinha trabalhado nalgumas prisões portuguesas. Formada em Criminologia, a sua tese de mestrado partiu quase integralmente de entrevistas a vários reclusos. Na Aproximar, Cooperativa de Solidariedade Social — onde é voluntária há dois anos —, está na linha da frente do projeto Passaporte para a Empregabilidade, cujo objetivo é apoiar a população prisional no regresso à vida em sociedade. “São pessoas que durante anos tiveram alguém para lhes dizer o que fazer, onde ir, a que horas, sem nenhum tipo de autogestão. Em liberdade, o mundo de possibilidades é tal que acabam por se perder.”

A mentora, assim se designa o seu título profissional, faz parte de uma das associações de solidariedade social vencedoras do Prémio BPI “La Caixa” Solidário (ver caixa), que este ano premiou 28 instituições — num total de €750 mil — pelo trabalho que desenvolvem junto das populações mais fragilizadas e em risco de exclusão social. Os €11 mil vão permitir à Aproximar aumentar a sua bolsa de voluntários e incrementar a resposta junto dos mais marginalizados. “Para a população reclusa, encontrar um emprego é fundamental no seu processo de reinserção social”, explica Rita Lourenço, adjunta da direção e coordenadora do departamento para o sistema de justiça criminal.

O problema passa muitas vezes pela gestão de expectativas. Porém, tal só se coloca ao fim de algumas sessões, porque habitualmente as primeiras são passadas quase em silêncio. “Têm vergonha, sentem um estigma. Muitos saem e querem ter uma família, uma companheira, alguém que esteja em casa quando chegam do trabalho. Procuram as pessoas que lhes faltaram durante o cumprimento da pena”, diz a mentora Alexandra Gomes, explicando ser necessário criar confiança com os seus “mentorandos” para melhor trabalhar os desafios que enfrentam. “Uma abordagem neutra e construtiva, sem opiniões pessoais do mentor, é dos primeiros passos para uma reinserção bem sucedida.”

Em tempo de pandemia, de crise económica e de grandes incertezas, o trabalho desenvolvido pelas instituições de solidariedade tem sido decisivo para o acompanhamento dos mais fragilizados. “Fruto da experiência com a troika, as instituições nunca deixaram de apoiar as pessoas mais carenciadas. Isso foi evidente durante esse período e ao longo do processo de recuperação económica. As instituições nunca desmontaram os seus apoios”, diz ao Expresso o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares. “Há crise, mas o sector da economia social nunca voltou as costas às pessoas.”

Exemplo disso é o trabalho desenvolvido pela Associação Famílias Solidárias de Oeiras (AFSO). Tal como outras instituições, surgiu nos tempos da crise de 2013, formada por um grupo de voluntários decididos a apoiar uma classe média em queda livre. “Muitas famílias tinham estado empregadas um ano antes da crise, com bens e declaração de IRS que as impossibilitava de recorrer a ajudas nas instituições que estavam no terreno”, afirma a vice-presidente da AFSO, Sónia Vicente, lembrando os primeiros anos da instituição particular de solidariedade social (IPSS).

O modelo de apoio tem sido replicado neste tempo de pandemia. “Ao contrário de outras instituições, que recebem bens do desperdício alimentar e distribuem, o nosso projeto é de voluntariado e desafia os vizinhos a apoiar as famílias em dificuldades. São eles que contribuem com alimentos, produtos e dinheiro, que são convertidos em cabazes, entregues mensalmente aos mais carenciados. Trata-se, sobretudo, de motivar a sociedade civil a apoiar quem mais precisa, muitas vezes de forma anónima.”

“Temos dois tipos de apoios: a famílias que sabemos quem são ou em regime de anonimato. Aqui entram aqueles agregados que fazem parte da pobreza envergonhada. Apenas a assistente de família sabe quem são, e mesmo o pessoal do armazém só conhece a tipologia da família, porque os nossos cabazes são personalizados. Se houver, por exemplo, um diabético, os produtos fornecidos são sem açúcar”, explica a vice-presidente da AFSO, que todos os meses apoia cerca de 20 famílias, contando com a colaboração de 250 famílias e com o trabalho de 80 voluntários. A pandemia alterou algumas das condições de trabalho, reduziu a equipa, mas as entregas de cabazes continuaram: as famílias apoiadas passaram a recebê-los à porta de casa.

ENSINAR A PESCAR TRABALHO

Associação luta pela igualdade de género na vida familiar e profissional

É com uma variante do velho provérbio chinês que Margarida Côrte-Real resume o trabalho da Vida Norte, uma das associações contemplada com o Prémio BPI “La Caixa” Solidário. “Damos a cana e ensinamos a pescar”, avança a coordenadora técnica da instituição.

Foi graças ao projeto Escola com Vida que a IPSS sediada no Porto recebeu €27 mil para apoiar e capacitar jovens mães ou grávidas e pais com filhos pequenos a regressarem ao mercado de trabalho. O programa tem duas componentes: desenvolvimento de competências para o emprego e valorização pessoal, mas também sensibilização dos potenciais empregadores. “Uma mulher grávida ou que tenha sido mãe recentemente é encarada como alguém com uma limitação, fecham-lhe as portas. Por isso vamos diretamente às empresas, no âmbito da sua responsabilidade social, para darem uma oportunidade e olharem para estes trabalhadores como uma mais-valia.”

Nesse sentido, o projeto da Vida Norte passa também pela sensibilização dos equipamentos infantis privados, para abertura de vagas mais económicas que permitam dar retaguarda aos pais. Muitos dos casos são mulheres grávidas, entre os 25 e os 35 anos, desempregadas e sem recursos, ou famílias monoparentais, que espelham alguns dos grupos mais vulneráveis. A estes, António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, acrescenta as crianças e os idosos. “São dos principais grupos em risco de exclusão social.”

No que respeita aos apoios, remata o provedor, “o Estado tem reagido mais do que agido. Nesta fase já devia haver uma estratégia para o sector até março”.

VALORES SOCIAIS

5647
é o número de IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) ativas em Portugal. A economia social representa 6% do emprego remunerado no país

40%
é a percentagem de técnicos e diretores das IPSS portuguesas que sofrem de cansaço extremo, segundo um estudo realizado pela Associação Nacional de Gerontologia Social

Textos originalmente publicados no Expresso de 3 de outubro de 2020