24.7.09

Desemprego teve em Junho a subida mais alta desde 2003

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

Anulações de inscrição quase atingiram fluxo de novos desempregados. Hotelaria, comércio e imobiliário atenuaram o desemprego. Será sazonal?


O desemprego continua a crescer a ritmos históricos. Em Junho, face a igual mês do ano passado, o número de desempregados inscritos aumentou 28,1 por cento, o crescimento mais elevado desde 2003. Mas desde há quatro meses que o ritmo de entrada de novos desempregados tem abrandado.

De acordo com os números divulgados ontem pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, a entrada de novos desempregados atingiu um pico histórico em Janeiro passado (mais 70 mil pessoas). Só no primeiro semestre do ano, inscreveram-se mais 363 mil desempregados (mais 32 por cento do que no mesmo período de 2008). Em Junho passado, foram 52.831 desempregados, mais 21,4 por cento do que no mesmo mês de 2008. Mas, desde Março passado, o ritmo de entrada atenuou-se, embora ainda a taxas de variação muito pronunciadas (ver gráfico).

O afluxo de novos desempregados marcou a trajectória do desemprego registado total. Em Junho passado, estavam registados como desempregados 489.820 pessoas, ou seja, o ponto mais alto de uma trajectória de subida do desemprego iniciada em Outubro passado. Essa subida registou-se apesar de se ter verificado no primeiro semestre de 2009 uma elevada anulação de inscrições de desempregados pelos centros de emprego, apenas comparável ao verificado em 2003.

A anulação pode ocorrer por diversas razões, nomeadamente porque o desempregado encontrou sozinho emprego, faltou à convocatória dos centros de emprego, esteve em formação profissional, foi alvo de medidas de emprego ou reformou-se. Em Junho passado, foram anulados 45,5 mil desempregados (mais 20 por cento do que em Junho de 2008). E essa anulação explica em grande medida porque, face a Maio passado, o desemprego registado cresceu apenas 0,1 por cento, mesmo quando entraram mais 52 mil desempregados em Junho. Mas desconhece-se a razão dessa anulação, porque o conselho directivo do IEFP se recusa a divulgar os valores mensais dos motivos de anulação.
Em menor escala, o desemprego foi influenciado pela colocação de desempregados no mercado de trabalho. A oferta de empregos tem subido nos dois últimos meses, sobretudo no sector dos serviços (8 mil dos 11,3 mil oferecidos) e no Estado. Desses, um terço no ramo imobiliário (onde as ofertas mais têm crescido) e 42 por cento no comércio e na hotelaria.

Esta oferta de empregos coincide com a origem sectorial do desemprego. O sector dos serviços é o único que regista algum abrandamento na subida do desemprego. E graças ao comércio, hotelaria e ramo imobiliário. A aceleração continua nos sectores agrícola e industrial, respectivamente, mais 18 e 43 por cento do que em 2008. É o que se passa igualmente nos três principais ramos industriais - alimentar, têxtil e vestuário (respectivamente mais 17, 18 e 31 por cento). Na construção manteve-se variação ocorrida em Maio passado (mais 74 por cento).

Face a esta evolução, o presidente do IEFP realçou a "estagnação do crescimento do desemprego", embora ainda em "níveis muito elevados". Mas no PS, já se deita foguetes. O deputado socialista VÍtor Baptista declarou que o desemprego "começa a ceder".