20.12.09

Economia volta a dar sinais de melhoria em Novembro, mas não convence especialistas

in Jornal Público

Economia volta a dar sinais de melhoria em Novembro, mas não convence especialistas
Eduardo Catroga, João Duque e Nuno Sampayo Ribeiro dizem que recuperação não é sustentável

A economia portuguesa continua a dar sinais de estar a recuperar da actual crise internacional. E em Novembro, segundo dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal, o indicador que mede a actividade económica atingiu mesmo um valor nulo, depois de mais de um ano em terreno negativo. Esta é, aliás, a primeira vez desde Junho de 2008 que este indicador não está em terreno negativo.

Mas os dados divulgados pelo banco central português dão ainda conta de mais sinais positivos, já que o indicador do consumo privado voltou a acelerar em Novembro, situando-se agora em 1,7 por cento face ao mesmo mês do ano passado, uma aceleração face ao crescimento de 1,2 por cento registado em Outubro. Já o indicador que mede o sentimento económico também registou uma melhoria face a Outubro, situando-se agora nos 83,7 por cento (81,2 em Outubro).

Estes dados não são, no entanto, suficientes para convencer os economistas sobre a sustentabilidade da recuperação que se está a verificar. O economista João Duque vê nestes dados "uma tendência de recuperação", mas coloca reticências em relação à continuidade desta evolução positiva por considerar que "não existe uma estrutura produtiva que a suporte". "O nível de dívida pública é tão elevado que o investimento não pode ser afecto à actividade industrial", reforçou o economista.

"Não há dúvida que existe alguma recuperação económica, mas estamos a partir de um nível de actividade económica muito baixo e qualquer melhoria sente-se logo", afirmou por seu lado o economista Eduardo Catroga.

Em declarações à Lusa, o ex-ministro das Finanças disse que "a pequena melhoria vai ao encontro das expectativas", recusando a ideia deste indicador ser "uma luz ao fundo do túnel". "Infelizmente, não podemos dizer que vemos uma luz ao fundo do túnel, porque o nosso problema é estrutural", reforçou Eduardo Catroga, acrescentando que Portugal tem "um problema de crescimento económico há dez anos" e que "os ciclos não devem fazer esquecer a crise estrutural".

Nuno Sampayo Ribeiro, especialista em Direito Fiscal, compara as estatísticas ao biquíni: "São atraentes, mas dissimulam aquilo que é essencial" para alertar para "aquilo que as estatísticas escondem". "É fundamental não nos despistarmos com dados imediatos. Estamos perante valores de dívida mais altos do que é sustentável pela economia real", acrescentou o ex-consultor técnico da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

Para o fiscalista, "é fundamental voltar à produtividade e concentrar os esforços na mobilização em torno do crescimento e no esforço individual, nomeadamente no empreendedorismo". V.C. com Lusa