30.12.09

Má organização é principal causa da baixa produtividade

in Diário de Notícias

Os economistas consideram que os baixos índices de produtividade em Portugal ficam a dever-se a factores como a organização do trabalho, a falta de formação e a tecnologia.

"Portugal até não é dos países onde se trabalha menos, a questão é o valor que se cria", comentou o director de Economia da Associação Industrial Portuguesa (AIP), Rui Madaleno, à Lusa.

Para o responsável da AIP, a melhoria da produtividade implica uma série de mudanças a nível "do produto que é oferecido, o que implica investimento, organização do trabalho, burocracia, atitudes e qualificação profissional".

Em Portugal, "o que é preciso não é trabalhar mais, é trabalhar bem", resumiu o economista.

Por seu lado, Eugénio Rosa, economista e responsável do gabinete de estudos da CGTP, considera que a forma de calcular a produtividade não é a mais correcta."Normalmente, divide-se o Valor Acrescentado Bruto (VAB) pelo número de trabalhadores, mas esquecem-se outras coisas como as condições de trabalho, os equipamentos ou o investimento nas empresas, que é muito reduzido. A produtividade devia ser calculada em termos multifactoriais, contabilizando horas de trabalho, capital e condições".

Outro dos factores determinantes "é a organização do processo produtivo e isso depende muito da capacidade dos gestores", acrescenta Eugénio Rosa. "Muitas empresas são dirigidas por pessoas de qualificação muito reduzida. Os trabalhadores também têm uma baixa escolaridade, cerca de 70 por cento dos trabalhadores empregados só vão até ao ensino básico, enquanto a média europeia é de 50 por cento".

A precariedade e a elevada rotação de trabalhadores também são decisivas.

"Uma grande rotação impede que se acumule experiência e conhecimentos. Foi feito um estudo numa empresa que contratava e despedia frequentemente pessoal porque tinha grandes variações nas vendas e concluiu-se que esta elevada rotação era muito negativa. No fabrico dos componentes, a quantidade de defeitos e avarias detectada no início era muito superior", observou o mesmo especialista.

Já José Eduardo Carvalho, investigador responsável pelo Observatório da Produtividade das Grandes Empresas do Instituto Lusíada de Investigação e Desenvolvimento, defende que "há uma generalização" quando se fala deste tema.

"Há sectores com baixa produtividade e outros que crescem ao nível dos melhores da União Europeia", afirmou.

Numa análise sobre o desempenho das 125 maiores empresas portuguesas, no triénio 2003-2005, o investigador concluiu que apenas três registaram sistematicamente níveis positivos de competitividade económica, bem como taxas positivas na produtividade económica e tecnológica.

José Eduardo Carvalho verificou, com base nos dados do Banco de Portugal, que a produtividade cresceu sempre nos últimos anos, "embora a taxas variáveis", e sempre abaixo da evolução do custo médio do trabalho, enquanto a produtividade do capital e a intensidade tecnológica da economia têm vindo a decrescer.

Por isso, a solução passa pela melhoria do conhecimento e disseminação da tecnologia: "são necessários instrumentos que permitam que cada pessoa, no seu posto de trabalho, obtenha maior produtividade".

O Relatório da Competitividade 2009, apresentado pela AIP em Novembro, indicava que a produtividade por pessoa empregada em Portugal, correspondia em 2008, a 70,8 por cento do valor médio da UE, sendo apenas superior ao nível da Polónia.