21.12.09

Mais de metade da dívida pública portuguesa está concentrada em cinco países da UE

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Só 18 por cento da dívida pública emitida este ano foi comprada por investidores nacionais. A maior parte vai para o resto da União Europeia


Bancos, gestores de fundos e fundos de pensões sedeados num dos maiores países da Europa: são eles que emprestam dinheiro ao Estado português e é da manutenção da confiança no país como um devedor fiável que depende uma parte importante da saúde das finanças nacionais.

De acordo com os dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), 82 por cento da dívida pública emitida por Portugal em 2009 foi adquirida por investidores com sede no estrangeiro. Ingleses e irlandeses compraram 24 por cento da dívida. Em conjunto com a França, Alemanha e Áustria, são quem concede mais de metade dos empréstimos de que o Estado portugês precisa para fazer face aos défices que continua a registar.

Mais de 90 por cento desses investidores são bancos, gestores de fundos, fundos de pensões e seguradoras, que fazem os seus empréstimos ao Estado português investindo em Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro nacionais.

Em última análise, são estes investidores estrangeiros que o Estado português, num cenário que se prevê bastante difícil, terá de tentar convencer a continuar a emprestar dinheiro a taxas razoáveis.

Os desafios são muitos. Em primeiro lugar, há um aumento da competição entre os Estados para conseguir colocar nos mercados um montante cada vez maior de dívida. A escalada dos défices públicos em quase todos os países do planeta faz com que a oferta de obrigações de tesouro nos mercados esteja a atingir agora valores recorde, o que torna mais difícil encontrar compradores disponíveis a emprestar dinheiro a taxas baixas.

Depois, há o problema da credibilidade. Portugal está a ser afectado neste capítulo pela ameaça de descida do rating atribuído pelas agências de notação financeira e é ainda prejudicado pelo efeito de contágio que vem da Grécia. Os problemas orçamentais deste distante parceiro da zona euro são vistos por alguns investidores como uma característica comum dos países do Sul da Europa: Portugal, Itália, Grécia e Espanha.

Relações de dependência

Ainda assim, o facto de serem instituições financeiras das grandes potências económicas europeias que têm nas suas mãos os títulos de dívida portugueses acaba por tornar ainda mais provável que, na eventualidade extrema de o Estado português enfrentar dificuldades em financiar-se ou mesmo em fazer face aos seus compromissos, os seus parceiros mais poderosos se disponibilizassem para dar uma ajuda. É que, no caso de um default, os primeiros a perder seriam os investidores que tinham comprado obrigações portuguesas. Também por isso, falando sobre o problema da Grécia, Angela Merkel deu a entender recentemente que a Alemanha não deixaria que se verificasse uma declaração de falência.

É um tipo de dependência que faz lembrar a relação que existe neste momento entre os EUA e a China. O gigante asiático, através da sua gestão de reservas, é actualmente o maior detentor externo de obrigações do tesouro norte-americanas. Isso faz com que, por um lado, os EUA precisem da China para poderem continuar a endividar-se a taxas de juro baixas, e por outro que a China tenha pouco interesse numa queda brusca do dólar.