26.12.09

O que há entre a universidade e o mercado de trabalho? A Fábrica de Talentos

Por Cátia Vilaça, in Jornal Público

Já começou a funcionar o espaço onde a Fundação da Juventude quer pôr os jovens licenciados, e não só, a transformar projectos artísticos em ideias de negócio sustentáveis


Antigo convento convertido às Artes

Maria Geraldes é pragmática. Há 20 anos que ajuda jovens a integrarem-se no mercado de trabalho, mas não lhes passa a mão pela cabeça. Quando uma mãe veio tentar arranjar algo para o filho recém-licenciado, disse-lhe que o mandasse procurar trabalho, fazer pela vida. Na Fábrica de Talentos, as ideias são tão importantes como a vontade de as passar à prática. Maria Geraldes é a directora-geral da Fundação da Juventude (FJ), cujo objectivo é estabelecer pontes entre a universidade e o mercado de trabalho nas mais diversas áreas de formação. O Palácio das Artes - Fábrica de Talentos, a funcionar no antigo Convento de São Domingos, no centro histórico do Porto, é o espaço que faltava para desenvolver projectos ligados às artes performativas e plásticas, arquitectura, cinema, design e outras.

Após sucessivos adiamentos, o novo espaço foi finalmente inaugurado por Cavaco Silva na penúltima sexta-feira. Apesar disso, haverá ainda uma loja e um restaurante a abrir em Fevereiro. Também a partir de 2010, o Palácio das Artes passa a integrar o roteiro da cidade do Porto.

O cheiro a tinta e as salas despidas de mobília evidenciam a conclusão recente das obras do antigo convento, adquirido em 2001 pela fundação. O cheiro acabará por desaparecer, mas a escassez de mobiliário será constante. Estas salas serão os ateliers onde os jovens desenvolverão os seus projectos, e para onde podem trazer todos os objectos que estimulem e ajudem a expressar a sua criatividade. Por outro lado, a polivalência das actividades obriga à polivalência do espaço. "Se tiver isto cheio de móveis e amanhã alguém quiser fazer um atelier de dança, como é?", explica Maria Geraldes.

Na semana passada não havia ateliers de dança, mas uma oficina livre de pintura a decorrer, a cargo do artista plástico Jorge Curval. Os formandos são maioritariamente jovens, mas também há lugar para quem já deixou há muito os bancos da escola. Para o pintor, nunca é tarde para descobrir uma vocação. Maria Geraldes corrobora. Também resolveu pegar nos pincéis pela primeira vez. O resultado logo se verá.

A directora-geral da FJ não encara o insucesso como algo de necessariamente negativo. "Tem de nos fortalecer", defende. Mas também tem histórias de sucesso para contar. O objectivo de integrar os recém-licenciados no mercado tem sido cumprido em várias frentes. Um exemplo: a Revigrés e os CTT abriram concursos para formandos da Fundação da Juventude. O prémio não foi pecuniário, mas a comercialização dos produtos concebidos.

Quando se pergunta à responsável de onde vêm as parcerias, voltamos aos sucessos. Os primeiros estagiários a saírem da FJ, hoje integrados em empresas, tomam a iniciativa de estabelecer o contacto para angariar mais estagiários, porque "começaram assim e querem dar oportunidade a outros". Público não falta: mil licenciados saem todos os anos das escolas artísticas do Porto, sem contar com a população activa com vontade de desenvolver algum projecto.

Na Fábrica de Talentos também há actividades abertas ao público. Tertúlias, exposições, workshops e a revitalização de uma actividade antiga, outrora levada a cabo no edifício: as feiras francas. Só que agora serão feiras de arte. Já há quatro programadas, até Abril. Algumas actividades são dinamizadas pelos próprios estudantes. É o caso da tertúlia de cinema, organizada por um jovem no período de férias. É isso que Maria Geraldes valoriza: "Trabalhou imenso, mas agora tem contactos que os colegas não têm". A directora-geral da FJ considera importante que se adquira este traquejo, antes de se procurar emprego, até porque as empresas procuram candidatos com experiência. Se não houver experiência de trabalho ou de voluntariado, "ter uma média de final de curso de 19 ou de 10 é a mesma coisa", adverte.