13.9.10

Os roma da Europa

Exclusivo Expresso / The Economist

Ciganos . Bodes expiatórios no estrangeiro e vítimas de preconceitos na sua terra, os roma da Europa de Leste são o problema que nenhum político quer resolver.

A Eslováquia encontra-se em estado de choque e a França num tumulto. A causa da agitação em ambas as nações é o povo roma (ciganos), ou antes, aquilo que lhes estão a fazer. Esta semana, na capital eslovaca, Bratislava, um atirador matou sete pessoas e feriu 14, antes de disparar contra si próprio. Seis das vítimas pertenciam à mesma família cigana e foram mortas dentro do seu apartamento, pensando-se que constituíam um alvo premeditado.

Em França, a expulsão de centenas de imigrantes roma, que o Governo de Nicolas Sarkozy afirma encontrarem-se no país em situação ilegal, provocou oposição por parte do Papa, das igrejas francesas, da comissão das Nações Unidas e até de diversos ministros do próprio Governo do sr. Sarkozy. No entanto, a promessa de legislação firme adicional prevalece.

Tanto os tiroteios eslovacos como as expulsões de França põem em destaque as dificuldades sentidas pela maior minoria apátrida da Europa. Excluídos inveterados, a classe dos roma é vítima de preconceitos, muitas vezes violentos, nos locais onde reside na Europa oriental. Milhares migraram para ocidente em busca de uma vida melhor, particularmente porque o alargamento da União Europeia permitiu que tirassem partido das normas de livre circulação de pessoas. No entanto, embora as condições possam ser melhores no Ocidente, a receção raramente foi acolhedora e políticos como o Presidente Sarkozy exploraram implacavelmente a hostilidade contra os recém-chegados.

Mas os instintos demagógicos dos líderes ocidentais ficam ofuscados quando comparados com a negligência dos seus homólogos do Leste. Os roma não votam muito. Nenhum governo da Europa de leste com uma minoria roma substancial fez grande coisa para lidar com a discriminação que esta enfrenta ou com a pobreza desesperada que os mantém excluídos da corrente dominante, afirma Rob Kushen, do Centro para os Direitos dos Roma Europeus , com base em Budapeste.

Um dos problemas maiores é o ensino: as crianças roma são por hábito colocadas em instituições para os deficientes mentais. Uma sondagem recente da Amnistia Internacional revela que na Eslováquia, os roma perfazem menos de 10% da população em idade escolar, mas são 60% dos alunos das escolas especiais. Previsivelmente, muitos deixam a escola antes de tempo, sem os conhecimentos de que necessitam para concorrer no mercado de trabalho. Como alternativa, são obrigados a recolher sucata, a pedir esmola e a cometer pequenos delitos.

O preconceito descarado desempenha o seu papel. Esta semana, um membro do Parlamento Europeu do Jobbik, um partido da extrema-direita húngara, apelou ao internamento em massa dos roma. No ano passado, a polícia húngara procurou ajuda junto do FBI na sequência de uma série de ataques a acampamentos ciganos em que foram mortas seis pessoas, incluindo um rapaz de cinco anos, Robika Csorba, e o seu pai, Robert.

Homens armados atiraram bombas incendiárias às suas casas e esperaram que elas fugissem antes de abrir fogo. Algumas semanas depois, seis adolescentes roma, detidos na cidade eslovaca de Kosice por alegado roubo de uma carteira, foram obrigados a despir-se, beijar-se e espancar-se mutuamente, enquanto a polícia filmava a sua humilhação. Na Europa ocidental, os migrantes roma já enfrentaram ataques com bombas incendiárias em Itália, massacres em Belfast e expulsões com recurso à força na Grécia.

Este ano marca o meio caminho da "Década da Inclusão das Pessoas de Etnia Cigana" da Europa, instituída em 2005 num hotel ribeirinho em Budapeste. Cinco anos mais tarde, dizem os ativistas, a maior parte dos roma está em condições piores do que estaria sob o regime comunista que, com todos os seus defeitos, pelo menos garantia trabalho, habitação e bem-estar social, e condenava os crimes de ódio. Atualmente, as condições nos acampamentos ciganos na periferia da cidade e das vilas rivalizam com as prevalecentes em África ou na Índia em termos de privações.

Não obstante, os roma também sofrem com problemas da sua própria lavra. Os jovens ambiciosos são muitas vezes controlados e mantidos afastados pelas próprias sociedades intensamente patriarcais e conservadoras. As raparigas são casadas na adolescência e os rapazes postos desde cedo a trabalhar em vez de estudar. Cansadas das hostilidades que enfrentam por parte do mundo exterior, as comunidades roma têm tendência a isolar-se da sociedade e das respetivas leis. Há quatro anos, em Olaszliszka, no norte da Hungria, um condutor que atingiu com o automóvel uma rapariga roma (que não se magoou), foi arrastado da viatura por uma multidão, muitos dos quais familiares da rapariga, e espancado até à morte em frente das próprias filhas.

Em anos mais recentes, ao abrigo das regras da União Europeia para a livre circulação de pessoas, uma torrente de mão de obra barata do Leste encontrou trabalho no Ocidente. Mas a maior parte dos roma deixa a sua pátria não em busca de trabalho, mas de libertação da sua condição de destituição e da perseguição. Não é de estranhar que a França, incitada pela Itália e por outros, procure 'europeizar' a questão, instigando Bruxelas a um maior esforço no sentido de obrigar os países de Leste a integrar os seus roma. No entanto, agora que esses países estão sãos e salvos dentro da União Europeia, é muito mais difícil os eurocratas dizerem aos seus governos o que fazer do que era durante os anos da pré-adesão.

Os europeus condenariam prontamente a situação difícil em que se encontram os roma se estes se encontrassem em qualquer outra parte do mundo. No entanto, não é provável que os governos da Europa de Leste abordem repentinamente um problema que data de há séculos apenas porque Bruxelas lhes diz que o façam. Talvez o interesse próprio mostre ser um aliciante mais poderoso. As famílias roma são muito maiores do que as famílias da população dominante: a parada da privação vai continuar a aumentar. Em complemento, um estudo recente do Banco Mundial estima que o custo anual da não integração dos roma na Bulgária, Roménia, Sérvia e República Checa ascende a €5,7 biliões (7,3 biliões de dólares). Conforme observa o relatório: "Preencher a lacuna da educação é a escolha inteligente em termos económicos." Se os argumentos humanitários não levarem a melhor, talvez os argumentos económicos e demográficos o façam.