Alexandra Inácio, in Jornal de Notícias
Os directores das escolas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) receiam as alterações, que lhes estão a ser pedidas pelas direcções-regionais de Educação, para que multipliquem o pedido de verbas das suas candidaturas aos fundos comunitários.
Os dirigentes temem assinar projectos em que consta a contratação de professores para actividades de enriquecimento com os alunos quando, na realidade, são para leccionar "Português ou Matemática".
O receio dos dirigentes - divulgado ontem no encontro nacional de directores, promovido pela Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), em Lisboa - deve-se ao pedido "verbal" feito pelos directores-regionais de educação para que alterem os seus projectos de candidatura aos fundos, de forma a multiplicar as verbas inscritas (por exemplo, especificou um dos docentes, transformar um projecto de 300 mil euros num de três milhões de euros).
O financiamento do funcionamento das escolas TEIP e o pagamento dos encargos com os cursos de Educação e Formação (CEF) e cursos profissionais das escolas públicas através de fundos comunitários (pelo Programa Operacional de Potencial Humano) consta da resolução do Conselho de Ministros nº101-A/2010, publicada a 27 de Dezembro.
O Orçamento do Estado não prevê uma verba específica para as escolas TEIP. No país existem 59 destes estabelecimentos, que por terem projectos específicos já eram co-financiados por fundos. Diversos docentes manifestaram receio de uma possível auditoria por Bruxelas e dúvidas quanto à legalidade do pedido. Terça-feira, os directores da região Norte têm reunião agendada com o director-regional, António Leite.
No encontro de ontem, em Lisboa, os directores aprovaram uma moção, sobre a aplicação da plataforma de Central de Compras pelas escolas; e uma lista de preocupações que também será transmitida à ministra da Educação pela associação.
A proposta de despacho de organização do ano lectivo foi o alvo da maioria das críticas, levando directores a pedirem à direcção da Andaep para confrontarem a tutela "com o tipo de escola que pretende" para o país, porque com a proposta de despacho, garantiram, nem a escola a tempo inteiro será cumprida, nem as metas educativas para 2015.
Com as alterações ao nível do crédito de horas das escolas e dos horários dos professores, nomeadamente a redução da componente lectiva pelo exercício de cargos, as escolas perderão a capacidade de resposta social, repetiram: isto é, os alunos podem ter de sair mais cedo das escolas por deixarem de ter clubes, projectos (como desporto escolar) e apoios; "e os pais não vão passar a trabalhar em part-time", alertaram.
De manhã, o docente da Universidade Católica do Porto Matias Alves recomendou aos directores a criação de um fundo de apoio à acção educativa e a "perguntarem o menos possível" às direcções regionais e centrais, para não ficarem "obrigados a cumprir as respostas".


